- Se eu colocar mais qualquer coisa na boca eu vou explodir...
A reclamação de Seulgi Kang vinha acompanhada de tapinhas que dava na própria barriga, ao se largar contra o encosto da cadeira do restaurante. Era noite de 12 de junho, então, por conta da data, Seulgi se deu o direito de mimar a si mesma e a namorada com sushis e sashimis de qualidade e em um bom local. Seu favorito, na verdade. Aquele da Ponta da Praia, que custa tanto quanto é bom, que respeitava a moral e bons costumes da comida tradicional japonesa - e que não paga ninguém para ter o nome citado. Valia a pena, porém. Se fosse para agradar os desejos gustativos da namorada e saciar o próprio paladar, valia a pena, em ocasiões especiais como aquela.
- Ainda vai querer o sorvete, depois dessa?
Seulgi desviou o olhar para a garota que sentava a sua frente, do outro lado da mesa. Irene Bae que apoiava os braços sobre a mesa e tinha um discreto sorriso brincalhão no rosto. E estava linda. Sim, quarto parágrafo e já estamos assim, porque sapatão apaixonada é foda. Era engraçado como Irene conseguia fazer roupas e maquiagens casuais parecerem elegantes sem muito esforço. A iluminação indireta do restaurante também ajudava, reforçando o brilho dos cabelos levemente ondulados que caíam sobre os ombros...
E não importava o quanto Seulgi tentasse seguir os conselhos da Bae, raramente conseguia os mesmos resultados. O que não fazia sentido nenhum. Irene ficava uma hora no banheiro - sim, confirmado - metade do tempo tomando banho com a água quente o suficiente para fazer chá. Ou transformar o lugar numa sauna. Umidade não era algo ruim para os cabelos? Não fazia sentido nenhum.
- Eu tenho um estômago à parte para a sobremesa. – Não, aquela justificativa de Seulgi não fazia sentido nenhum, também, mas a Kang não estava mentindo.
- Pra onde vamos, então? – Irene perguntou ao pegar o celular, que havia deixado sobre a mesa, para checar o horário. Seulgi fez o mesmo com o próprio aparelho, antes de responder.
- Eu estava pensando em passar numa padaria, ou algo assim, comprar os de palito e ir dar uma volta na praia. Ainda está cedo, deve ter algo aberto. O que acha? – Seulgi perguntou, aproveitando para já guardar o celular em um dos bolsos do casaco. Não seria hoje que largaria o aparelho para trás. Isto já tinha acontecido alguma vezes. A sorte era ter Irene para pegar por ela.
- Ótima ideia. Época questionável para ir tomar sorvete na praia, mas, ainda assim, ótima ideia. – Irene assentiu. Ria dos planos da Kang, mas, bem, Seulgi precisava de algo doce, e sorvete de sobremesa nunca decepciona. Independentemente da época.
E foi justamente o que fizeram, após deixar o restaurante. Entraram no primeiro comércio aberto que encontraram pelo caminho, o que também não levou muito tempo. A parte mais movimentada da padaria, àquela hora, era a lanchonete, então, sem problemas em pagar pelos sorvetes e continuar a caminhada pelos jardins do calçadão. Para a sorte de Irene, 21ºC ainda era uma temperatura aceitável para aquele tipo de programa. Até para alguém friorento como ela. O único empecilho, mesmo, era morder o maldito do picolé. Sensibilidade nos dentes, vocês conhecem a história.
E sabem aquele negócio de elegância, que Seulgi comentava? Puro caô. Para cada vez que Irene fincava os dentes no sorvete, fazia uma careta diferente. Quando Seulgi terminou o próprio, Irene ainda tinha metade do dela. A demora era tanta que Seulgi achou que chegariam a pé, em casa, antes que a namorada terminasse de tomar o sorvete. E olhe que estavam longe, viu? A Bae, inclusive, que já não sabia se caminhava mais do que tentava esquivar das gotas do sorvete que derretia, conforme o tempo passava, para que não pingasse nada em suas roupas. Irene fuzilava o sorvete sempre que aquilo quase acontecia, mas era uma insatisfação momentânea, esquecida assim que conseguia apreciar do sabor do chocolate a derreter em sua boca.
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Livrai-nos do mal, amém!
FanficIrene Bae fazia um esforço real para ser a cria perfeita que todos os fiéis de sua igreja desejavam ter. Filha única de uma mãe divorciada, Irene fazia de tudo para sair por cima dos maus olhares que ambas recebiam. Tinha seus valores e normas morai...