A minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá.

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Se tem uma coisa da qual eu tenho certeza, amigues, é que o ser humano não é um computador. Logo, a memória do ser humano não é perfeita, se até HD dá pau. Entretanto, isso não é um teste de inferências lógicas. Todavia, ou o ser humano é perfeito, ou Irene Bae pode ser um pouquinho esquecida, sim. Isso tudo comprova a afirmação de que era possível Irene Bae ter tido uma pequena surpresa ao botar os seus jeans para lavar e, uau, o que era aquilo que encontrara? Um pedaço de papel com cheiro de salgadinho de cebola dentro do bolso de sua calça?!

Mágica!

Mas claro que Irene não adicionou o número de pronto. Bem, pelo menos não no zap-zap. Ela ainda se lembrava a quem pertencia, obviamente. Irene Bae era quase uma máquina, de tão perfeita, segundo ela própria. Por isso, deixou que uma semana se passasse até que tomasse a iniciativa – não coragem, iniciativa, porque Irene não era obrigada a nada – de retribuir Seulgi com o botãozinho de seguir, e que outros sete dias ficassem para trás para que enfim mandasse uma mensagem para aquele número de telefone.

"Irene vem do grego e quer dizer paz."

Nada demais, e com ponto final, para indicar começo e fim de conversa. E só foi esse o texto porque aconteceu de Irene se lembrar daquele assunto e ter ficado curiosa em relação ao significado do próprio nome. Não é como se a conversa do outro dia tivesse ficado em sua cabeça, também. Não tinha motivos para aquilo, Seulgi era um caos mantendo assunto, mudava tanto de tópico que Irene se via até perdida no meio de tanto falatório, que quase nunca sabia como responder.

"Como eu disse, os pais sempre esperam pelo melhor sshuahsuahsuas"

Falando em resposta, essa foi a que Seulgi lhe mandou. Seulgi que tinha o nome salvo carinhosamente como "The Mônia". Nunca que Irene colocaria o nome da outra salvo na sua lista de contatos, seria arriscadíssimo. De volta à resposta, Irene não gostou nada dela. Primeiro, porque não tinha ponto final, depois, porque detestava quem ria com "ashuashauhs". Não tinha nada de "haushaushua" no fim das contas, às vezes nem sorrir a pessoa sorria, ao digitar. Depois que parecia o nome da amiga barulhenta de Yeri, também. Por isso, foi rápida em mandar a outra calar a boca, e Seulgi lhe respondeu com mais risadas de gente besta acompanhadas de um macaquinho cobrindo a boca com as mãos.

Só que Seulgi levou a sério demais o conceito de ficar quieta. E Irene também não disse mais nada, mas o que ela iria responder para um monte de risadas e um emoji? Nada. A surpresa, realmente, veio depois disso. Seulgi já não ignorava a sua presença na escola e a cumprimentava com discretos sorrisos ao chegar ou ir embora, ou quando pegava a Bae olhando em sua direção. Irene ainda não sabia se isso era boa coisa ou não, mas, como o contato não era muito mais ameaçador do que isso, decidiu que ao menos ainda era seguro. E, de fato, isso lhe trazia um pouco mais de segurança e leveza na consciência, cogitar que Seulgi não precisava provocá-la o tempo todo e podia só ser simpática, também.

É, talvez a Kang também só parecesse ser pior do que realmente era.

Enfim, não era dia de pensar em Kang Seulgi, porque era sábado, sua mãe estava de folga e tinha acabado de receber. O que isso queria dizer, então? Compras do mês. E Irene não reclamava de ir junto porque gostava de passear no mercado, e isso era algo que ela própria admitia fazer jus ao nome de aposentada. Bem, poucos jovens de sua idade sabiam escolher legumes e verduras tão bem quanto ela, ou saber as melhores marcas de sabão em pó e amaciante para cada tipo de roupa.

- O que acha de Chapaghetti hoje? Ainda tem uns três pacotes que estão perto de vencer lá em casa, e seu tio me trouxe gochujang. Será que fica bom se misturar tudo? – Tiffany perguntou enquanto arrastava o carrinho e Irene deu de ombros, mais focada em verificar se tinham pego tudo da lista que montara no celular.

Livrai-nos do mal, amém!Onde histórias criam vida. Descubra agora