A sorte é lançada no colo, mas a decisão vem do Senhor.

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Naquela escola, havia uma única vez no ano em que os alunos usavam a sala de informática. Devia ser algo combinado pela coordenação, para dar alguma utilidade ao ambiente, mas não usar demais para que algo fosse quebrado, roubado ou infectado por vírus. E eram sempre atividades tão aleatórias que poderiam ser muito melhor feitas em casa. Mas, não, tinham que resolver ali, na escola. No caso, uma sequência de slides para a aula de Filosofia que deveria ser apresentada na próxima semana, cada grupo de alunos fora sorteado com um grande nome da área. Aparentemente, não havia muito recorte histórico ou contextual, já que os pensadores selecionados iam desde a Grécia Antiga aos do último século.

Bem, nem todo mundo levava a atividade tão à sério assim. Joyce e Wendy, por exemplo, mais brigavam sobre a escolha da próxima música que ouviriam do que faziam o trabalho – usavam um VPN grátis para conseguir acessar o YouTube. Seulgi só não estava de saco cheio de Wendy a cantar solos de guitarra, incluindo as notas mais agudas, ou de Joyce a jurar que conseguia imitar a voz da Pabllo, porque não parava ao lado das amigas.

Isso porque, volta e meia, era chamada por Jennie e Irene, que compartilhavam outro computador, porque as duas não sabiam fazer sabe-se lá o que no Power Point, aí Wendy e Joyce não sabiam desfazer sabe-se lá o que outro, e então Irene e Jennie não sabiam criar uma caixa de texto, depois Wendy e Joyce ficavam insistindo que, sim, naquele programa tinha que ter um WordArt iguais aos da época do Windows XP, para o trabalho ficar nos trinques, por conceito retrô ou o que quer que fosse. Ou seja, Seulgi ao menos tinha noção da bagaceira que estava ficando o próprio trabalho, já que parecia uma barata tonta, indo de uma extremidade a outra da sala a cada cinco minutos porque aparentemente a tecnologia era muito complicada para aquelas duplas se resolverem sozinhas.

Não era mais fácil pesquisar tudo no Google?

- Seulgi!

Aparentemente, não. Seulgi suspirou ao ver Irene e Jennie acenando para ela outra vez, do outro lado da sala. Fazer o quê? A Kang teve que se levantar e se arrastar até parar atrás da dupla. Como esperado, era Irene quem tomava conta do teclado e mouse, enquanto Jennie tinha um caderno cheio de anotações em baixo do braço, sobre a mesa. Seulgi estava de lentes, obviamente, ou não teria enxergado a foto de Instagram que estava aberta no monitor do computador das duas. Esse foi motivo de a Kang ter semicerrado os olhos.

- Eu tô tentando salvar essa porcaria faz cinco minutos, e só vai como página da web. – E por Irene ter xingado, ainda que não fosse um palavrão explícito, queria dizer que a Bae estava muito irritada. Jennie apenas encarava a Kang, com a mesma dúvida.

- É claro que não dá pra salvar a imagem, o Instagram não deixa. – Seulgi respondeu num tom, como se aquilo fosse tão óbvio, que Irene ficou profundamente ofendida. Ela lá ia saber que não dava para salvar fotos, sendo que era a primeira vez que usava aquela porcaria de site em um computador? Se Seulgi estava questionando sua inteligência, então devia... – Pra que cê quer isso no seu trabalho, porém?

- Como assim, para quê? – Irene disse, como se aquilo também fosse indiscutível, ao apontar para a tela do computador. – É uma fanart do Nietzsche de Super-Homem, a melhor delas, o que mais eu poderia colocar de capa do slide?

E Seulgi viu Jennie concordar com a cabeça, com a mesma confiança de Irene. Se davam bem porque eram igualmente teimosas, aparentemente. Tipo, insistindo em salvar a página da web por cinco minutos em vez de tentar dar...

- Ah, como dá print no pc, mesmo? – E finalmente, a Kim tivera aquela ideia "genial".

- No meu note é função e o print screen juntos, mas não tem nada escrito print screen nesse teclado lixo. – Irene respondeu ao olhar as teclas superiores, ajeitando os óculos no nariz. Seulgi nem se ofendeu por ter sua presença ignorada, de uma hora para outra, porque aquelas duas no computador eram quase piores do que sua mãe. Era engraçado.

Livrai-nos do mal, amém!Onde histórias criam vida. Descubra agora