Nenhuma mentira tem origem na verdade.

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Seria mais uma quinta-feira em que Seulgi chega um pouquinho mais tarde e apressada do que o normal se não fosse pelo fato de que pareceria cair o mundo do lado de fora, como se um novo dilúvio fosse acontecer antes do meio dia e vinte. Assim que entrou na sala de aula, Seulgi percebeu o balde de lixo à porta, este que estava cheio de guarda-chuvas molhados como o seu – já que, normalmente, os alunos jogavam a sujeira no chão, de qualquer jeito – e o largou ali. Cumprimentou Jennie, que mexia no celular, com um breve aceno que lhe fora retribuído. A cadeira da frente ainda estava vazia, mas, bem, o difícil era Irene não chegar poucos segundos antes de o sinal da escola bater.

Tanto Joyce quanto Wendy, porém, já estavam em seus respectivos lugares, ao fundo. As duas conversavam, como era de se esperar, exaltadas, como também não era incomum. Seulgi só não conseguiu entender muito bem o papo, mas tinha algo a ver com Joyce "enfiar um kimbap no cu do desgraçado para ele ver só quem é japa". Só que Seulgi não teve nem tempo de perguntar o contexto, já que a Park abriu a boca assim que a viu ali.

- A bonita ficou jogando joguinho de virgem e perdeu a hora de novo, foi? Larga isso ou logo vai brotar cabaço até onde não devia. – Joyce indagou, meio julgando, meio como uma avó puxando a orelha do neto. Seulgi riu culpada ao se sentar, negando com a cabeça antes de enfim se explicar.

- Eu me esqueci de colocar o celular pra carregar. Zerou a bateria no meio da noite e acordei com minha mãe me chacoalhando, me chamando de irresponsável, apelidos carinhosos daí pra baixo. – Seulgi respirou fundo, agora mais tranquila por ter conseguido chegar a tempo.

- Mas foi, mesmo. Quem manda não olhar essas coisas antes de dormir? A tua velha é obrigada a acordar marmanja para ir pra escola, por acaso? – Joyce cruzou os braços ao se apoiar contra o encosto da cadeira, com uma expressão nada feliz no rosto.

- Não, mas, sérião, não foi de propósito! É que eu fui dormir tarde, aí tava com tanto sono que nem me lembrei do carregador, nem de ver o quanto de bateria... – Seulgi desistiu de se justificar quando Joyce começou a rir apontando para a sua cara e um tanto quanto alto demais. – Vou é falar nada...

- Para de ficar atentando a menina, tu sabe que ela cai em tudo. – Wendy deu uma bronca na garota risonha, que foi acompanhada de uma boa cotovelada, mas não que Joyce tenha se importado com alguma das duas coisas.

- Por que tua bochecha tá vermelha desse jeito? – Seulgi semicerrou os olhos quando seu olhar enfim recaiu sobre a Son, que se atentou à Kang quando se deu conta que a pergunta fora dirigida a si.

- Pois é, ia perguntar isso. Parece que levou umas chineladas na bochecha. – Joyce concordou, já recuperada de seu ataque de riso.

- Ah, eu fui pescar com o meu pai. – Wendy respondeu.

- Que? – Tanto Joyce quanto Seulgi franziram as testas para a Son.

- Pois é, eu fiquei desse jeito quando ele me chamou. Pensei que ele ia me largar lá no meio do mar, inclusive. – Wendy concordou com a cabeça, entendendo muito bem as reações das amigas. – Mas foi de boa. Eu não catei nada, mas foi de boas. Esquisito, mas de boas, a gente até comeu o que ele pescou na janta.

- Puts, vontade de comer sashimi agora... – Seulgi mandou, do nada, encarando o teto com um olhar sonhador.

- Quem tá falando de sashimi a essas horas da manhã? – Joyce perguntou, mas, vendo que a resposta de Seulgi seria apenas risadinhas, revirou os olhos, trazendo sua atenção de volta à Wendy. – Sinto que vou ter que passar meu título de rainha dos rolês aleatórios pra ti. Ontem, de novo, eu fiquei a tarde inteira em casa, baita inferno não ter nada pra fazer. Não sei como cês conseguem... – Joyce lamentou, desanimada com a situação da própria vida, antes de voltar sua atenção para a Kang. – Me console dizendo que você também não fez nada de empolgante, pra eu não ficar me sentindo mal.

Livrai-nos do mal, amém!Onde histórias criam vida. Descubra agora