Era mais de oito e meia da noite, de uma quarta-feira, e Seulgi Kang estava sentada nas escadarias da frente do prédio da universidade, tendo que suportar o cheiro de cigarro que pairava por ali, vindo de alunos que faziam rodinhas e batiam papo entre si. Seulgi estava sozinha, porém. Sua panelinha de faculdade – as outras duas únicas meninas da sala e a única poc – foram embora logo após a prova do dia. Cabia à Seulgi, então, se distrair com o celular, trocando mensagens com as amigas ou navegando sem rumo pelo aplicativo do passarinho azul, enquanto esperava por sua carona.
Seulgi só ergueu a cabeça quando ouviu uma buzina alta e insistente. Havia um HB20 branco estacionado rente ao meio-fio, e não, não era um Uber. Também não era nenhuma loira de Odonto, porque Irene Bae não era loira e muito menos era de Odontologia. O carro também não era dela, era de Tiffany, e muito menos era zero, mas servia para a Hwang ir e vir do trabalho e, às vezes, para Irene pegar emprestado, agora que estava habilitada. Seulgi não sabia como Tiffany liberava o carro para a filha, porque, assim, além de estressada no trânsito, Irene era meio... relâmpago marquinhos. Mas, como a Bae também acusava Seulgi de dirigir como uma velha, e a Kang se beneficiava das caronas sempre que o carro era emprestado... Seulgi que não iria questionar as faculdades mentais da sogra.
Seulgi se levantou, antes que Irene fizesse mais barulho com aquela buzina e jogou o celular na mochila, da mesma forma que lançou a mochila nas costas, tudo de um jeito meio despojado, meio desastrado, não dava para saber ao certo, e caminhou em direção ao veículo. Abriu a porta e se largou sobre o banco, deixando a bolsa entre seus pés ao suspirar pesado. Frustrada com algo, aparentemente.
- Nunca, ouça isso, nunca tope trabalhar pra um professor seu. – É, o chute da Bae foi certeiro. – Todo B.O que dá no estágio, quem tem que resolver? A Seulgi. Todo o B.O que dá na sala, quem tem que resolver? A Seulgi. Mano, o cara é top, mas, assim, folgado, também é. Pior que é foda saber se ele me odeia e isso é perseguição ou se ele gosta muito de mim e isso é confiança, porque aquela cara de peixe-morto... Não dá pra entender o que se passa na cabeça dele, não.
- Acabou? – Irene ergueu as sobrancelhas ao observar a garota a sua direita. Seulgi, que ainda fuçava nos bolsos de sua mochila, parou por um segundo para lhe sorrir amarelo.
Irene, aliás, que enfim tinha se acostumado com o penteado novo da namorada. Porque, no começo, Irene não conseguia olhar para a cara de Seulgi sem rir daquela franjinha curta. Foi todo um processo: rir da cara de Seulgi sempre que a encarava; para só depois começar a achar fofo e, se vocês não forem julgar... muito, chegar ao ponto de achar até meio... sexy. Não sejam como Joyce e riam dessa conclusão de Irene, por favor, era que, para entender os motivos da Bae... Seu ponto ficava óbvio, quando Seulgi trajava as roupas certas. Ou a falta de roupas certas. Enfim! Nada que vocês ou Joyce terão a oportunidade de ver com os próprios olhos, desculpem por isso.
Ah, e não. O visual novo de Seulgi não era nenhuma homenagem da Kang à Irene em sua pré-adolescência. Foi fruto de apostas com Wendy e Joyce e, o motivo? Seulgi explicara, mas a Bae já não se lembrava. Nada de muito importante, porém, alguma idiotice, certamente. Por que as apostas daquelas três sempre envolviam fazer alguma merda com o cabelo? Irene não sabia, também. Mas, contanto que Seulgi não tivesse que raspar a cabeça, estava ótimo. Nada contra carecas! É que, assim, não fora a monja Coen que Irene tinha pedido em namoro a anos atrás. Nada contra a monja Coen, também! Ela falava uns trecos espertos e tal... não que admitir isso fizesse de Irene uma convertida, é que a sogra compartilhava uns videozinhos no Facebook e, enfim! O ponto era que o cabelão de Seulgi estava ótimo do jeito que estava.
E o cheiro que se fez presente no carro, também. Foi o que Irene percebeu, antes de ver Seulgi estender um saco marrom em sua direção.
- Feliz aniversário. – O cumprimento em forma de um breve selar de lábios enfim veio, pouco antes de Irene pegar o saquinho de papel das mãos de Seulgi. Não era a primeira vez que a Kang a dizia aquilo, naquele dia e, aparentemente, Irene ganharia mais um presente, também. Bem, estava bem óbvio o que seria, daquela vez, mas foi curiosa que Irene abriu o tal embrulho, para checar o conteúdo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Livrai-nos do mal, amém!
FanfictionIrene Bae fazia um esforço real para ser a cria perfeita que todos os fiéis de sua igreja desejavam ter. Filha única de uma mãe divorciada, Irene fazia de tudo para sair por cima dos maus olhares que ambas recebiam. Tinha seus valores e normas morai...