- Cê quer mandar lá pra casa? Pra não correr o risco de sua mãe ver antes da hora?
Irene parou instantaneamente o que fazia pelo celular para encarar Seulgi, a dona da fala. Estavam ambas, quentinhas em seus casacos de moletom, numa tarde de quarta-feira de julho, ocupadas com não muita coisa, no quarto da Bae, já havia mais de hora. Irene, sentada na cama, recostada à parede, enquanto fazia uma compra pelo celular. Seulgi, com a cabeça sobre as pernas da Bae e, no momento, a encarando, à espera de uma resposta.
- Posso? – Irene perguntou e Seulgi assentiu, sem dúvida alguma. – Coloca seu endereço, então? O nome, também.
- Só não acha que tá um pouquinho cedo? O prazo tá pra bem antes do dia um, com folga. – Seulgi pegou o celular da namorada assim que foi passado para ela, preenchendo sem demora os dados para entrega.
- Ah, não, é melhor chegar uma ou duas semanas antes do que um dia depois. E outra, só enviam depois do pagamento, e boleto demora pra cair. Você esconde ela pra mim, de qualquer forma, até o dia. – Irene negou com a cabeça, precavida como sempre, e Seulgi riu, apesar de concordar. – Acha que ela vai gostar?
- É bonita. E cê não disse que ela estava reclamando que não tinha uma bolsa dessa cor, pra combinar com sei lá o que? – Seulgi indagou. A falta de detalhes, ou de memória, era porque se concentrava em revisar seus dados, antes de devolver o celular a Irene.
- Ela disse, mas e se ela resolver se dar uma de presente? – A ironia que era, meu Deus, aquela ali detestar surpresas e gostar de fazer para os outros.
- Bem, aí ela não vai mais poder reclamar que não tem. Vai poder escolher, até. – Seulgi brincou e se espreguiçou, vendo Irene rir de volta ao encará-la por algum tempo para só então terminar de fazer o que quer que faltasse ser resolvido em sua comprinha virtual. É que Seulgi, naquele dia, estava tão... confortável, naquele moletom largo, que Irene... – Sabe, eu nunca dei nada pra minha mãe. De aniversário.
- Que? Como assim, nunca? – E se Irene interrompeu o que fazia, foi para encarar Seulgi, mais uma vez arregalando os olhos.
- Nunca, nunca, também não. Quando eu era pequena, eu fazia uns desenhos e cartinhas horríveis. Não duvido nada ela guardar até hoje. – E se a Kang ria, era porque seus desenhos, antigamente, costumavam ser um tanto quanto... deformados. Para dizer o mínimo. – Eu só nunca comprei nada. Sou uma filha horrível? Ou você que é muito dedicada?
- Sim. Para as duas coisas. – Irene assentiu, rindo baixo ao completar, e bloqueando o celular ao, aparentemente, ter finalizado o que estava fazendo. – Eu não julgo muito. Eu fazia o mesmo, quando era pequena. Eu não presto pra desenhar hoje em dia, cê imagina naquela época...
- Os meus também não eram grande coisa. Eu comecei a desenhar pelo sexto ano. Mas, pra ficar bom de verdade, demorou um pouquinho. – Seulgi olhou rapidamente para a Bae, a direcionando um sorriso quando Irene retomou um carinho que já antes fazia, em sua cabeça. Se tinha algo que Seulgi gostava, era quando Irene fazia aquilo. Melhor cafuné da vida. – Mas, cê sabe, pra mãe tudo o que o filho faz é lindo, então... não é só senso artístico questionável.
- É, eu sei. Só fica difícil saber quando o incentivo vira algo do tipo "iludir a criança a achar que sabe fazer algo". – Irene falou e Seulgi riu junto, ao concordar com a cabeça, antes de retomar o assunto "presente da Tiffany".
- Vai pagar hoje? – Seulgi perguntou, sabendo muito bem o quão dura era a vida da jovem não privilegiada o suficiente para ter conta bancária ou cartões de crédito antes de arrumar o próprio trampo.
- Nem ferrando. Preguiça de sair. – E, de fato, a careta que Irene fez foi de puro desânimo. Até os ombros Irene deixou cair um pouquinho. – Eu vou amanhã, à tarde. Não tem pressa de ser hoje.
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Livrai-nos do mal, amém!
FanfictionIrene Bae fazia um esforço real para ser a cria perfeita que todos os fiéis de sua igreja desejavam ter. Filha única de uma mãe divorciada, Irene fazia de tudo para sair por cima dos maus olhares que ambas recebiam. Tinha seus valores e normas morai...