- Eu não acredito que você vai falar com sua mãe sobre isso antes de mim...
Essa era a reclamação de Seulgi, ao começar a subir a escadaria do prédio de Irene. A Bae que, se antes seguia um degrau a sua frente, parou para olhar para trás. E apesar da testa ligeiramente franzida em questionamento, Irene não transparecia estar menos nervosa do que a Kang, pelo tanto que abria e fechava os próprios punhos.
- Eu disse que não é pra você ter pressa. É só que toda vez que ela coloca seu nome numa conversa eu passo um nervoso diferente e isso me dá nos nervos. – E, de fato, apenas por mencionar aquilo, Irene encolheu os ombros e sacudiu levemente a cabeça. – E eu não quero que ela comece a suspeitar e descubra sozinha, porque aí ela pode ficar ainda mais brava por eu não ter contado e –
- Eu sei, Rene, cê já me explicou isso. – E por mais que corresse o risco de deixar a garota ainda mais irritada, Seulgi não conseguiu evitar rir do nervoso que muito aparentemente Irene estava passando. – Mas, se você quiser aproveitar o surto de coragem, depois a gente pode passar lá em casa...
- Que? Cê tá louca? – Era brincadeira, mas Irene caiu perfeitamente, arregalando os olhos de um jeito meio desesperado, meio indignado, em resposta. – Não, não, não, não. De jeito nenhum, eu me preparei esse tempo todo pra ter uma conversa dessas, não duas, e com minha mãe. Eu não ia conseguir encarar nem ela sozinha, imagina falar com a sua, assim, do nada, eu –
- Meu deus, calma, é brincadeira! – Seulgi interrompeu o discurso que muito provavelmente seria sem fim e se encolheu em antecedência para o tapinha que de fato atingiu seu antebraço. – Eu vim te dar apoio psicológico, mas pode ficar tranquila que da minha mãe eu cuido, ok? Não esquenta com isso agora.
- Tá... – Irene fechou os olhos e suspirou. Seulgi achou que seria apenas isso, uma respiração profunda para se acalmar. Mas, não, Irene começou a sussurrar algo que Seulgi ficou em dúvida entre se tratar de uma prece ou algum ritual xamânico.
- O que cê tá fazen... – Mas Seulgi mal conseguiu finalizar a pergunta quando um indicador sobre os seus lábios a silenciou.
- Ensaiando, não quero me enrolar na hora de falar, então não me atrapalha. – Seulgi teve que ter muito autocontrole para não rir e nem revirar os olhos diante da preocupação excessiva, mas nada inesperada, da namorada, que só parou com aquela paranoia quando Seulgi segurou suas bochechas, as apertando de leve até formar um pequeno biquinho. Aí Irene se calou e franziu a testa, em resposta. – Ai, por que sua mão tá tão gelada?! Eu disse que era melhor vestir um casaco! Vem com história de que dezoito graus não é frio, é frio, sim!
- Eu tô de boa, Irene, pelo amor... – Seulgi negou com a cabeça e, antes que Irene abrisse a boca para resmungar mais sobre aquilo também, Seulgi a interrompeu com um selinho que serviu para pegar a Bae despreparada e, consequentemente, desarmá-la. – Só relaxa e qualquer coisa esmaga minha mão, você consegue.
- Eu consigo. – Irene repetiu quase de modo automático. E Seulgi teria rido muito se não estivesse igualmente apreensiva, porque não soube dizer se o sorriso que Irene lhe deu foi hilário por ser demasiadamente confiante ou trouxa.
Fosse o que fosse, serviu para revigorar a segurança de Irene, que saiu saltitando os degraus restantes, forçando, assim, Seulgi a acompanhá-la. O que não foi difícil, já que Irene mais pulava para cima e para baixo do que de fato subia mais rápido, mas, enfim. Seulgi já tinha dito a si mesma que não era hora de rir do jeitinho exótico da namorada.
E como se fosse um anúncio chato de Youtube, Seulgi aguardou pacientemente os cinco segundos nos quais Irene permaneceu parada em frente à porta do apartamento, encarando a maçaneta até ter coragem para abri-la. E Tiffany Hwang não lhes deu tempo nem de respirar, já que estava sentada de um jeito largado no sofá maior, zapeando os canais em busca de algo minimamente interessante para se assistir em um final de tarde, na programação da televisão aberta brasileira. Tarefa difícil, de fato.
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Livrai-nos do mal, amém!
FanfictionIrene Bae fazia um esforço real para ser a cria perfeita que todos os fiéis de sua igreja desejavam ter. Filha única de uma mãe divorciada, Irene fazia de tudo para sair por cima dos maus olhares que ambas recebiam. Tinha seus valores e normas morai...