Dia vinte e dois de dezembro. Vinte e dois de dezembro seria o dia que marcaria, na vida de Irene Bae, a primeira vez que estivera em uma festa que não fosse infantil das primas – ou das irmãs de Yeri; ou caseiras, das tias e tias avós, ou mesmo celebrações da igreja. Não seria só a primeira vez de Irene em uma balada, o que por si só já a deixaria ansiosa, mas era a sua primeira vez em uma festinha LGBT+ friendly. Então, sim. Irene estava duplamente nervosa. Por quê? Porque é assim que Irene Bae funciona, à base do nervoso.
O quarteto formado por ela, Seulgi, Wendy e Joyce havia acabado de entrar, e, até então, tudo estava dentro do que Irene esperava de um clube qualquer. Estava quente demais, ali dentro; tinha gente demais, mas, por sorte, espalhadas, pelo lugar não ser tão pequeno assim; havia luzes demais, também, tanto que Irene mal conseguiu abrir os olhos nos primeiros segundos, por conta do contraste entre o interior cheio de luzes coloridas e o exterior, no quase breu da fila para entrada; e a música, a música também era alta demais, mas era Rina Sawayama, e "Comme des Garçons", a versão do feat, ela conhecia e gostava, o que tornava, pelo menos, aquilo mais suportável. Agora, quanto a multidão... O jeito seria continuar agarrada ao braço de Seulgi, para que não fosse arrastada pelas outras pessoas.
- Eu só queria saber até quando eles vão continuar me pedindo essas coisas... – Seulgi, aliás, que ainda reclamava para amigas sobre o fato de ter sido a única a ter o documento de identidade pedido, à porta. – Vou começar a vir pra balada com esses vestidos colados de hetero top e salto, da Joyce, pra ver se assim param de pegar no meu pé.
- Mas, assim, cê sabe que não existe roupa de hete -
- É só pedir que eu empresto, miga. Mas com esses bochechão de neném aí, não sei se vai adiantar muita coisa não. – Joyce respondeu, cortando o sermão da Son antes mesmo que começasse. Não que a Park pudesse falar do tamanho das bochechas de ninguém, mas a gente deixa essa passar. E, após dar um tapinha de consolo nos ombros da Kang, foi para trás da Bae, passando um dos braços ao redor dos ombros da mais baixa. – A senhora, hoje, se joga, viu? Quero ver todo mundo aproveitando, sem cara de cu. O que acontece aqui dentro Deus não vê e nem julga.
Até quando Joyce continuaria usando aquilo para tirar uma com a cara de Irene? Aparentemente, para sempre. Era um fardo que Irene teria que carregar para o resto da vida, muito provavelmente.
- Deus, não. Mas irmão fofoqueiro... – E se Irene torceu o nariz, foi justamente por aquela possibilidade não ser tão irrealista assim.
- Miga, se isso acontecer, tem duas opções: ou a pessoa já simpatizava contigo e cê vai ganhar alguém pra fofocar no culto; ou, agora, se ela não for com a tua cara e por um acaso for menos bem resolvida que tu, a bicha vai parar de falar um "ai" de ti, naquele lugar. Bota fé, o cuzinho da poc vai, ó... – Joyce fez questão de exemplificar, fechando totalmente o círculo que formou entre os dedos indicador e polegar. E Irene? Irene, amigos, Irene riu. Alto, inclusive. Daquele jeito esquisito dela, puxando saliva, ou ar, ou os dois, entre os dentes. Sim, Irene continuava achando que Joyce falava muita bosta. Mas às vezes tanta merda tinha graça. – Então, confiança, gay.
- Tá, e como a gente acha a Lu no meio desse povo todo? – Wendy, que mantinha até então o loiríssimo do cabelo, enfim se pronunciou, ficando na ponta dos pés para olhar sobre aquele mar de cabeças. Não que tivesse adiantado muito, mas...
- Procura uma loira sapadrão com uma morenona gostosa, por aí. – O conselho também foi de Joyce, obviamente, que fez o mesmo que a Son, erguendo a cabeça. A diferença era que a Park realmente conseguia enxergar acima de boa parte das pessoas presentes.
Ah, aliás, era por isso que as quatro estavam ali, na exata data do dia vinte e dois de dezembro daquele mesmo fatídico ano. Era aniversário de Luana Moon. Luana que convidara Seulgi, Wendy e Joyce para a celebração de seu décimo nono aniversário, com a justificativa de que estava com saudade dos rolês com as três amigas. O que Irene estava fazendo ali, então? Acompanhando Seulgi. Por alguma insistência da Kang, porque ficar sobrando entre as amigas era a última coisa que Irene queria, para a sua noite. Foi convencida pelo argumento de que "por favorzinho, Luana levaria Solange também".
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Livrai-nos do mal, amém!
FanfictionIrene Bae fazia um esforço real para ser a cria perfeita que todos os fiéis de sua igreja desejavam ter. Filha única de uma mãe divorciada, Irene fazia de tudo para sair por cima dos maus olhares que ambas recebiam. Tinha seus valores e normas morai...