- Olha, que lindo, todo mundo chegando cedo!
Seulgi, que não desenhava o Naruto, e sim o Boruto, ergueu a vista de seu caderno e se deparou com Joyce Park a entrar na sala de aula. Vinha desfilando, como sempre, como se a classe fosse sua passarela. Passou por Seulgi, que lhe sorriu em cumprimento, e bagunçou com o coque da Kang. Faria o mesmo com o cabelinho de Wendy, que mexia distraidamente no celular sem ao menos lhe dar bom dia, se não tivesse notado a pequena marca arroxeada na lateral do pescoço da Son. Não pensou duas vezes antes de meter-lhe o dedão.
- Olha só, safada, transou pelada com homem. – Joyce ria junto com Seulgi, que havia se virado para observar a interação. Wendy ergueu o punho em ameaça e, ainda rindo, Joyce enfim se sentou em seu lugar. – Já superou a outra coisa?
- Antes tivesse. As duas coisas. Tirando a parte do homem. – Wendy largou o celular e suspirou ao começar o desabafo. – Ontem tinha ao vivo no bar, né. Eu achei que fosse me distrair um pouquinho, beijar umas bocas para esquecer minha dor, mas caí de paraquedas no colo duma doida que tinha fixação em ficar chupando meu pescoço quando eu só tava carente querendo uns beijinhos.
- Pelo menos era uma vampira, imagina se fosse o chupa-cu. – Joyce falou toda séria, sabe-se lá como, e Seulgi quase morreu quando foi rir e bateu a cabeça na janela atrás de si.
- Olha só, tu ainda mata a menina! – Wendy se levantou para averiguar o estado da cabeça da amiga. O pior é que, mesmo depois da pancada e com as mãos na cabeça, Seulgi ainda ria tanto quanto Joyce.
- Falando sério agora, por que tu ainda vai naquele lugar? Tu sempre vem com história de que pegou mulher maluca. – Joyce perguntou na moralzinha, enquanto Wendy confirmava com Seulgi se estava tudo bem. Parecia estar, já que Seulgi só balançava a cabeça positivamente enquanto ria, com a cara toda vermelha e provavelmente chorando.
- É porque a música é boa... – Wendy se defendeu ao que voltou a se sentar, apesar de não ter parecido tão segura assim de sua resposta.
- Filha, desde quando cover de Beatles é música boa? – Joyce indagou e, se Seulgi tinha parado de rir... Bem, só tinha mesmo.
- Você respeite os Beatles que eles foram revolucionários, tá ok? – Wendy disse, já preparando os argumentos que tinha na manga. – Quem você acha que inventou as turnês mundiais e os videoclipes? Psirico?
- Tá, Beatles é top, mas eles nunca mudaram o nome do Coachella. – O contra-argumento de Seulgi era para ter sido sério. Só era, mesmo, porque ainda ria, ainda que de forma mais contida.
- Uooou, arrasou, gay! – Joyce ergueu a mão para Seulgi, que animadamente retribuiu ao high-five. Cansada daquele tipo de cena, Wendy respirou fundo e se largou em sua cadeira, negando com a cabeça ao cruzar os braços e encarar qualquer coisa que não fosse as amigas. Não que fosse muito melhor olhar para a outra coisa que acabara de chegar.
- Luz na passarela que lá vem ela...
A recitação poética e cantarolada de Wendy de um dos hinos da música brasileira fez Seulgi e Joyce pararem de rir uma da cara da outra e desviaram a atenção para a porta. Não, quem chegava estava longe de ser a loira do Tchan, de 1,70m de altura. Isso porque Irene Bae nem loira era, imagina ter aquilo tudo de estatura. Só que Irene Bae não chegara com a cara fechada de sempre, nariz mais erguido que o próprio ego e sem reconhecer a existência de alguém que não fosse ela mesma.
Não, naquele dia, Irene tomou a iniciativa de olhar para o fundão pela primeira vez em anos de escola. E Seulgi fez o que já estava se acostumando a fazer, sempre que seus olhares se cruzavam pela primeira vez no dia: sorriu em cumprimento. Irene fez o mesmo, só que nem tão discreta quanto costumava ser. Na verdade foi um sorrisão, mesmo. Motivo pelo qual, assim que a Bae desviou o olhar, Joyce começou a cutucar as costas de Seulgi, que se contorceu toda, tentando escapar dos ataques. Tinha umas amigas com uns dedos fortes, ela.
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Livrai-nos do mal, amém!
FanfictionIrene Bae fazia um esforço real para ser a cria perfeita que todos os fiéis de sua igreja desejavam ter. Filha única de uma mãe divorciada, Irene fazia de tudo para sair por cima dos maus olhares que ambas recebiam. Tinha seus valores e normas morai...