Seulgi chegara tão apressada naquela segunda-feira que parecia que nem tivera tempo de arrumar o coque de um jeito decente ou arrancar a barra da camisa de dentro das calças. Para terem noção de seu atraso, o professor de Artes já estava em sala, e o dito cujo teve a audácia de lhe dar uma comida de rabo por ter chegado depois dele, como se o homem tivesse alguma reputação no quesito cumprir horários.
Sem querer atenção extra, Seulgi caminhou cabisbaixa e velozmente até o lugar de sempre, se jogando na cadeira ainda com a mochila nas costas. Exalou pesado como se tivesse corrido uma maratona para chegar à escola. Demorou um tempo para que a Kang percebesse que as amigas de trás a encaravam com as testas igualmente franzidas. Só então notara que ambas tinham as mesas coladas, uma ao lado da outra.
- Teve que fugir dum furacão pra chegar na escola, foi? - Joyce perguntou ao observar o estado da outra. Não que os cabelos de Seulgi estivessem em bom estado na maior parte dos dias, já que de acordo com a Kang, era impossível ajeitá-los, mas naquela manhã em específico, a Park se perguntou se Seulgi ao menos tinha os penteado.
- Que nada, acordei faltando dez minutos, mesmo. – Seulgi respondeu ao se livrar das alças da mochila. – Fiquei jogando até tarde e não ouvi o alarme agora de manhã.
- Eu ia zoar falando que era siririca, mas LoL é ainda mais triste. – Wendy lamentou o estado da amiga, que desfazia o coque mal feito para poder ajeitá-lo outra vez. Bem, pelo menos tinha lavado a cara. Fazendo jus à boa alma que tinha, a Son ofereceu a câmera frontal do próprio celular como espelho para a Kang.
- Bem que a Seulgi disse que tu era punheteira. Haja incenso no quarto. – Joyce cutucou, como sempre, rindo com a boca arreganhada. Wendy preferiu fingir não ouvir ou ver as risadinhas estúpidas das amigas, porque qualquer justificativa seria completamente distorcida, de qualquer jeito.
- Que o fessor passou? – Seulgi perguntou ao devolver o celular para a Son, quando satisfeita com o estado menos apocalíptico de suas madeixas. Wendy só teve que a ajudar ao puxar a camiseta amassada de dentro do cós das calças, que certamente não foram parar ali de modo intencional. Às vezes se perguntava como Seulgi sobreviveria sozinha.
- Escolher um quadro da apostila e refazer. Só isso. – A Son respondeu e Seulgi aquiesceu. Bem, era menos porre do que copiar um texto, pelo menos para ela.
- E é em dupla? – Seulgi perguntou, apontando para as duas outras garotas.
- Não, a Wendy só estava com saudades. – Joyce então deu um abraço de urso na Son, que imediatamente se arrependeu de ter se sentado tão próxima da Park. Ouviu até sua coluna estalar, para vocês terem noção. – Hoje eu deixei também porque ela está limpinha, não foi naquele bar fedido esse fim de semana, cê acredita?
- Eu sou boa amiga e ouço conselhos, ok? – Ofendida, Wendy ergueu as sobrancelhas. – Preciso de umas férias das cocotinhas antes de me abrir para novas oportunidades.
- Quem vê pensa que é requisitada, né, não? – Joyce tirou sarro outra vez, encarando Seulgi ao passar a mão pelos cabelinhos curtos de Wendy, em forma de consolo.
Wendy não gostou nada e respondeu na defensiva, mas nada em que Seulgi tenha prestado atenção. Tirava o caderno de desenho da mochila enquanto lançava um olhar para o quadro negro. E, de fato, a única coisa escrita ali, além da data e do nome do professor, era o comando para que fizessem uma releitura de um dos quadros da apostila.
E enquanto Seulgi pensava se seria uma boa transformar os Operários de Tarsila em cidadãos da Vila da Folha, pareceu se lembrar da existência de uma pessoa que acabara de entrar em seu campo de visão. Irene estava sentada no lugar de sempre, folheando a apostila, muito provavelmente em busca de uma obra para a tarefa. Seulgi esperava que a Bae não tivesse tomado sua falta de cumprimento como uma ofensa, apesar de Irene não parecer tensa. Talvez tivesse interpretado toda a sua pressa da forma correta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Livrai-nos do mal, amém!
FanfictionIrene Bae fazia um esforço real para ser a cria perfeita que todos os fiéis de sua igreja desejavam ter. Filha única de uma mãe divorciada, Irene fazia de tudo para sair por cima dos maus olhares que ambas recebiam. Tinha seus valores e normas morai...