- Seulgi, sua amiga está subindo!
Foi com o grito da mãe que Seulgi deu um pulo da própria cama e correu em direção a sala. Era estranho, não ter ouvido o interfone tocar, mas muito provavelmente aquilo se devia ao fato de que vinha ocupada demais se certificando de que não havia roupa pendurada pelos cantos, ou louça suja em cima da mesa do computador, ou um excesso de pelo de gato no lençol – aliás, foi assim que a Kang terminou a rápida organização de seu cafofo, antes de se deitar ali para esperar a chegada de Irene.
- Vão aprontar algo hoje? – Seulgi ouviu a mãe perguntar, assim que chegou a sala. A sua velha que se encontrava no sofá, zapeando os canais. Muito provavelmente pararia no Datena, como sempre.
- Nada demais, só assistir drama. – Seulgi respondeu ao destrancar a porta do apartamento, a deixando previamente aberta.
- Olha só, pra quem vê nem parece que faz um drama por si só para assistir comigo. Com as amigas ela até chama para assistir, vê se pode? – E sabendo que aquele sentimentalismo da mãe também era pura encenação, Seulgi apenas riu antes de se explicar.
- Nem, ela teve que implorar bastante pra me convencer a assistir também. – Ah, tá, Seulgi. Iremos todos fingir que não vimos o que vimos. – Mas esse é muito bom, eu coloco na lista da senhora depois, para ficar mais fácil. Start-Up. Tem o Kim Seon Ho, de 100 Days My Prince, que a senhora gosta. Como era o nome do personagem dele mesmo?
- Aquela que você só topou assistir por causa do mocinho da boy band? – A mãe indagou, arqueando as sobrancelhas de modo questionador. Seulgi achou que seu sorriso amarelo fosse resposta suficiente. – Eu sei de quem está falando, só não faço ideia do nome, também. Se a senhorita que é nova não lembra...
O assunto só não se prolongou porque Seulgi ouviu passos ecoarem pelo lado de fora e logo a luz de seu corredor se acendeu. É, fazia um tempão desde a última vez que aquela cena tinha acontecido, e Seulgi não sabia dizer em qual delas esteve menos tranquila. Mas daria tudo certo, como da última vez, era só respirar fundo.
A expressão de desânimo por ter aguentado todos os três lances de escada de Irene se desfez assim que a Bae ergueu o olhar para encará-la e cumprimentá-la com um sorriso. E Seulgi ainda se assustava com a capacidade que um sorrisinho daqueles tinha para fazê-la esquecer da vida, fosse por demorar para responder ou para demorar a notar a armação que Irene tinha no rosto. Não atrapalhava, óbvio que não. Era até bom, na verdade, mais fofa, menos intimidante.
E Seulgi já podia dar passagem para a Bae entrar, também, em vez de ficar só encarando.
Após terem trocado os devidos cumprimentos, Irene ter entrado e Seulgi, trancado a porta, a Kang seguiu a visita para dentro do apartamento. Irene que já cumprimentava a sua mãe com um aceno. A mais velha que, inclusive, vinha com o discurso de sempre: "há quanto tempo", "fique à vontade", "se quiserem beliscar algo enquanto assistem, a cozinha é de vocês, sem cerimônias", coisas que dizia até para Joyce e Wendy, que a visitavam com certa frequência e há milhares de anos, mas, enfim.
Assentindo a todas as sugestões da mãe, Seulgi guiou o caminho para que Irene a seguisse até o quarto. E foi o que a Bae fez após sorrir em breve despedida a mulher que, sim, decidira por um jornal sensacionalista, no fim das contas. Se é que se pode chamar o programa de um apresentador que repete mil vezes a mesma "notícia" de jornal.
- Onde está sua filha? – Seulgi ouviu Irene perguntar, assim que abriu a porta e pôs os pés no quarto.
- Adivinhe. – Respondeu ao ceder passagem e observou o sorriso de Irene crescer assim que repousou sobre quem ocupava a sua cama. E se Irene foi certeira em cumprimentar o bichano preguiçoso, com direito a vozinha e cafuné, Seulgi ainda tinha a mão na maçaneta. Devia fechar a porta ou deixar aberta? Seria estranho se ficasse aberta daquela vez? Porque, tipo, ela tinha fechado da outra, não? Seulgi geralmente fechava, pelo menos, para não ter a mãe metida nos assuntos das amigas e também porque sua velha deixava o volume da televisão um tanto quanto alto, então...
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Livrai-nos do mal, amém!
FanfictionIrene Bae fazia um esforço real para ser a cria perfeita que todos os fiéis de sua igreja desejavam ter. Filha única de uma mãe divorciada, Irene fazia de tudo para sair por cima dos maus olhares que ambas recebiam. Tinha seus valores e normas morai...