41 - Passado presente

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Ana

Acordo sentindo todas as partes do meu corpo doloridas, acho que fiquei horas demais trabalhando na mesma posição em frente ao notebook. Depois que aceitei fazer alguns trabalhos de campo, tenho me desdobrado. Apesar de não ser o que eu gosto, Marco tem me incentivado bastante com isso. Por falar nele, não o vi chegar ontem. O FontanniDuo está participando de um concurso dos melhores restaurantes da cidade e por isso o movimento triplicou. Além disso , ele passa boa parte do tempo que sobra criando pratos novos. Por isso, nossos horários estão se desencontrando. Bufo ao notar a cama vazia, o que significa que talvez tenha saído mais cedo. Entretanto, quando sinto um cheiro familiar invadir o quarto, sei que está aqui, em seu lugar favorito da casa, a cozinha.

Tomo um banho rápido, pois estou atrasada, visto um vestido de mangas compridas preto com bordados. Tenho aprendido a me vestir melhor, de forma mais elegante, meus cabelos estão presos no alto.

Me abaixo para calçar meus saltos quando ouço a porta se abrir e vejo Marco entrar todo animado, ele carrega um prato.

— Meu amor, você tem que experimentar isso!— ele fala já colocando uma porção na minha boca.

Começo a mastigar a mistura de uma sobremesa de ameixa com óleo de coco ou algo parecido. Ele está bem à minha frente, ansioso e aguardando minha reação, porém, desta vez, não gosto do sabor e, na sequência, sou tomada por náuseas e não consigo nem ao menos disfarçar. Pego rapidamente um guardanapo que está em sua outra mão e cuspo imediatamente.

— Me desculpa, Marco! — falo ainda cuspindo.

Ele parece frustrado.

— Não está bom? Acho que exagerei no óleo de coco...— ele para de falar como se mudasse sua opinião e, de repente, Marco é tomado por uma alegria repentina.

Conheço bem esse sorriso, ele pensa que...

— Ana, talvez você esteja... Grávida! Esse enjoo... E você anda meio sonolenta...

Então, sou tomada por uma culpa violenta. É muito difícil que eu esteja grávida, afinal voltei a tomar meu anticoncepcional, porém não falei nada a Marco. Depois que sofri um aborto há cinco meses, fiquei um tanto assustada com esse negócio de ser mãe. Talvez eu nem esteja preparada para isso. Porém, não tive coragem de ter essa conversa com Marco, ele anda ansioso com isso, chega a ser cruel alimentar suas expectativas, mesmo assim não consigo contar a ele.

Vou ao banheiro para lavar a boca e retirar o que resta da tal sobremesa. Quando termino, ele está bem atrás.

— Meu amor, você precisa fazer um teste de farmácia...

O interrompo imediatamente:

— Não, Marco, eu não estou grávida! Só estou com estômago vazio.

Marco, bufa.

— Mas como você pode ter tanta certeza? Ana, estamos trabalhando nisso há meses.

Passo as mãos pelo rosto tenso com esta conversa. Desejo muito lhe dizer que não me sinto preparada para ser mãe e que estou me cuidando para que não aconteça. Mas não consigo. Então, apenas respiro fundo.

— Marco, meu bem. Olha, se eu estivesse grávida, eu saberia.

Novamente, ele fica visivelmente decepcionado. Há um silêncio entre nós. Então, abro a gaveta do armário e pego meu batom, passo levemente sobre meus lábios em frente ao espelho e vejo ele sair do banheiro.

Quando estou só, respiro fundo novamente, tentando aliviar toda a tensão que estou sentindo. Mas quando volto para o quarto, ele está sentado na cama e o assunto é retomado.

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