23 - Nas alturas

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Ana

As mãos de Marco estão em meus olhos, ele faz bastante suspense. Quero muito saber onde estamos. Primeiro me pediu para esperar no carro enquanto desceu, a ordem era para ficar de olhos fechados, mesmo bastante curiosa, eu lhe obedeço. Ouço o som de uma porta enorme se abrindo. Logo, Marco, retorna para me buscar e tampa meus olhos com suas mãos.

— Aiiii, Marco, você está me deixando ansiosa, onde estamos? — suplico enquanto andamos.

— Calminha, você já vai saber.

Seguimos mais alguns passos à frente e paramos. Ouço o barulho de uma espécie de lona sendo retirada. Meu coração está batendo forte, quase o ouço. Marco lentamente solta as mãos dos meus olhos.

— Pronto! Pode olhar...

No primeiro instante, quando abro os olhos, fico espantada com a imagem de uma aeronave monomotor bem na minha frente, igualzinha às miniaturas que vi em seu quarto, só que em tamanho real. Fico sem palavras, apesar de achar linda, é impossível não me intimidar, afinal se trata do meu maior temor.

— É um modelo Cirrus SR22. Minha aeronave e grande paixão.

Vejo-o alisar o avião cheio de carinho como se fosse algum animal de estimação, por mais que se esforce, está tomado pela saudade. É uma cena comovente, agora entendo o quanto isso foi importante para ele.

Aos poucos, eu consigo relaxar, saber que ainda estamos no chão faz com que eu ceda, desde que Marco não me convide a voar com ele. Dou uma volta ao redor do avião lentamente, um passo de cada vez, em admiração. Me aproximo de Marco e passo a mão em uma das asas, um pouco trêmula.

— Re - re - almente é lindo... — gaguejo.

Ele sorri, ainda observando o avião, orgulhoso.

— Eu o chamava de Zeus.

— Um nome bem forte!

— Sim, aqui era o meu porto seguro. Quando estava pilotando, era o único momento em que eu conseguia ser eu mesmo. Sem palpites dos meus pais, nem ordens ou pressão de Priscila.

Observo uma tristeza profunda em suas palavras, percebo que Marco realmente não era feliz. Sinto ele acariciar meus braços, respirando fundo.

— Esta... — diz enquanto acaricia a aeronave novamente — Se trata de uma lembrança boa, Ana. A única que tenho aqui nesta cidade.

Marco funga como se desejasse se recuperar da nostalgia, se vira, ficando de frente para mim e segura minha mão como num convite.

— Vamos entrar, madame?

Respiro fundo.

Ele fala e sinto meu coração congelar.

"É só um avião pequeno e no chão, Ana!"

Grito para minha mente e demoro respondê-lo.

— Ana, não vamos voar, a gente só vai entrar. 

— Eu sei... — mordo o lábio inferior, me esforçando para ficar calma — Tudo bem.

É nítido o quanto ele se alegra enquanto me conduz para dentro da aeronave.

Vejo que o espaço realmente é pequeno, são quatro poltronas de couro. Ele me ajuda a sentar ao seu lado e observo sua empolgação. Marco passa as mãos sobre o painel e acaricia cada detalhe. Começa a falar sobre algumas funções como se tentasse se lembrar de tudo. Confesso que me sinto perdida em meio a tantos botões de comando, mas ele logo demonstra que domina tudinho.

— Estas são as bombas do motor: elétrica e mecânica — afirma apontando alguns botões.— Estas aqui são bombas hidráulicas, sistema pneumático... Chave de acionamento de combustível ...

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