19 - Família

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Ana

Termino de fazer minhas malas, ainda ao telefone com Lili. Esta é a milésima vez em que ela faz piadinhas dizendo que vou conhecer meus sogros. Na verdade, minha situação com Marco ainda está indefinida. Nessas duas últimas semanas dormimos juntos e confesso que meu corpo está se acostumando ao seu. Ele está se tornando um vício para mim. Cada vez que fazemos amor, parece que é a nossa primeira vez, sempre intenso e bom. Marco preenche todos os meus vazios. Também não sei como chamar isso, ainda não conversamos sobre o que há entre a gente, e também não quero pressionar ele.

Quando ele se aproxima, vou me despedindo de minha amiga:

— Depois nos falamos, preciso terminar com isso aqui. Nosso voo sai às onze.

Enquanto minha amiga desliga, sinto duas mãos fortes me envolvendo por detrás. Marco me abraça e, na sequência, beija meu pescoço. Como em todas as vezes, suspiro. Ele é muito carinhoso.

— Falta muito para terminar com a mala? — pergunta ao pé do meu ouvido com seu hálito quente.

Me viro ficando de frente, estamos tão próximos que nossos narizes se tocam.

— Só está faltando, meus remédios.

— Ana, é mesmo necessário? Serão apenas 45 minutos de voo.

Franzo a sobrancelha para ele.

— Você não imagina quanto fico enjoada no ar, passo muito mal. — paro de falar, pois sou invadida por uma sessão de espirros. — Não fico sem... meus remédios — Fungo. — Aproveito e pego um para resfriado, meu nariz está coçando.

Vou até o banheiro buscar meus remédios sobre seu olhar. Ele está super nervoso, afinal irá reencontrar sua família depois de três anos. Conversamos com eles todos os dias, percebi o quanto ele se parece com a mãe. Dona Helena tem olhos e cabelos da mesma cor que o filho. Como eu já esperava, são muito simpáticos. O senhor Cláudio está muito animado com as ideias de Marco, em abrir um restaurante aqui na cidade.

Logo seguimos para o aeroporto em um carro que pedimos por um aplicativo. As malas estão pesadas, estamos levando muita roupa, pois apesar de que vamos passar apenas o final de semana, o frio nessa região é dobrado, ainda mais no inverno, já ouvi dizer que às vezes caí até gelo, como se fosse neve.

Nosso voo não é nada tranquilo, mesmo tomando os remédios, me sinto enjoada, tenho tremores de nervoso e às vezes fico praticamente sem ar. Mas, diferente das outras vezes, tenho a companhia de um homem incrivelmente carinhoso, estou deitada em seus ombros e sentindo suas mãos afagando meus cabelos enquanto ele me distrai. Tenho a impressão de que a viagem foi bem rápida, felizmente.

Desembarcamos no aeroporto da cidade e logo sinto a diferença de temperatura. Coloco minhas luvas e enrosco meu cachecol. Observo o semblante de Marco, seu vislumbre em retornar à sua cidade natal, seus olhos transmitem muita emoção, ele analisa cada detalhe, certamente já esteve aqui muitas vezes.

Terminamos o desembarque e logo avistamos um casal super simpático nos aguardando no saguão. Helena e Claudio parecem ansiosos, assim como nós. 

A cena a seguir acontece como em câmera lenta, o casal corre ao nosso encontro enquanto Marco faz o mesmo. No meio do caminho, são muitos sorrisos e lágrimas de saudades. OS três se abraçam e ficam assim parados no mesmo lugar por um bom tempo. Também estou emocionada, sinto como se tudo tivesse sido parte de uma missão, e que agora se cumpriu, estou feliz, satisfeita e seguro as lágrimas. Ouço soluços, gritos e gemidos entre os três que ainda estão abraçados, são muitas emoções juntas, eles mereciam esse reencontro. Não me contenho, estou em lágrimas também com isso tudo.

O INVERNO ME TROUXE VOCÊ Onde histórias criam vida. Descubra agora