34 - Acerto de contas

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Gatilho.
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ESTE CAPÍTULO CONTÉM CENAS DE VIOLÊNCIA.

Ana

Desperto ainda zonza. De imediato, pareço ter dormido e que acabo de acordar. Não me recordo de nada. Tento mexer e percebo que estou com minhas mãos para frente amarradas e os pés também, ainda me sinto meio confusa, até que aos poucos as coisas começam a fazer sentido. Lembro da carta que encontrei no quarto da minha mãe e de ter visto aquele monstro, o Zeca.

Minha cabeça dói bastante. A sala está vazia e escurecida, olho ao redor e não vejo quase nada. As janelas parecem terem sido tampadas com uma espécie de madeira. Ouço barulho distante de batidas de martelo em outra parte da casa. Tento mexer, me soltar ou sair do lugar, mas é quase impossível. Estou bem amarrada. Um pânico começa a tomar conta quando penso em minha mãe. Neste exato momento, vejo que atrás do sofá há dois pés calçados com tênis de corrida, são dela, os mesmos que usa para caminhar. Minha respiração se acelera ao ritmo do meu coração. Vou me arrastando até lá, faço um enorme esforço, após alguns minutos a alcanço. Fico chocada quando olho para frente e vejo minha mãe desacordada em meio a muito sangue, temo o pior, que esteja morta. 

Tapo minha boca com minhas próprias mãos para abafar meu grito desesperado.

— Nããão, mãe... Não...

Seus cabelos tampam seu rosto, o que dificulta identificar de onde vem o sangue. Tenho vontade de gritar, mas não posso. Desejo pedir socorro, talvez ainda dê tempo de salvá-la.

Então, sinto a presença sombria dele, seu cheiro de maldade e vingança, meu estômago se embrulha, tenho ânsia de vômito, Zeca se aproxima.

— Jullynha, você resolveu acordar, bela adormecida? — ouço ele dizer com tom irônico.

O medo invade cada parte do meu corpo, sinto o ar ao meu redor ficar denso, numa sensação de asfixia. Não consigo o encará, meu coração martela no peito com força. Fico em estado de paralisia. Então, ele dá a volta e para bem à minha frente, entre o corpo de minha mãe e eu. Sou acometida de uma súbita coragem e, desesperada, começo a gritar:

— Socorro... Socorro...— ele se aproxima, causando pânico, se agacha e tampa minha boca com as mãos.

Sua mão comprime meus lábios com força, enquanto luto inutilmente. Meu corpo se debate ao dele várias vezes e o maldito aproveita, sorri de forma maliciosa. Ainda me agito numa batalha inútil, apavorada, sinto que passeia a mão por meu rosto, traçando uma trilha por meus seios por cima da roupa até chegar em minha barriga, próximo do meu ventre. Choro com mais força, as lágrimas descem sem intervalo. Temo o que ele vá fazer, não vou suportar outro abuso. 

— Sabe que você ficou bem gostosinha? — Ele puxa meu cabelo com força e eu gemo de dor. — Ainda posso fazer o que eu quiser com esse corpinho antes de acabar com você!

Ele puxa mais forte, sinto como se meu couro cabeludo estivesse sendo arrancado.

Gemo e, logo, ele me solta.

— Maldito! — grito com todo ódio que sinto entre lágrimas amargas.

Ele ri.

— Cadê seu namoradinho? — pergunta, abrindo o primeiro botão da minha blusa, revelando meu sutiã.

Agradeço mentalmente por Marco não ter vindo, pelo menos sua vida está segura.

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