28- Por que você fez isso?

348 46 2
                                    

Ana

Após comer feito uma esfomeada, Liliane e eu sentamos no sofá e colocamos uma série para assistir, e mesmo sobre todas as minhas reclamações, pois detesto suspense, eu cedo.

Não havia percebido que estava tão cansada, acho que estávamos no primeiro episódio quando eu dormi, certamente, como fui tarde para cama e os pensamentos noturnos me atormentaram, estava exausta. 

Quando abro os olhos, a TV está ligada, mas estou sozinha. Marco não me ligou e nem deixou mensagem, certamente ainda está sem rede. Logo, algo me chama atenção. Vejo na mesinha de canto da sala os comprimidos que Liliane havia comprado, alguns estão abertos. Um pânico invade meu corpo, pensei que estivesse resolvido isso, eu acredito que ela tomou esses comprimidos. Começo a pensar que ela possa estar desmaiada ou coisa parecida. Saio à sua procura.

— Liliane! — grito.

Quando entro em seu quarto, escuto o som de gemidos e água caindo.

Entro e bato na porta do banheiro.

— Lili, você está aí? Está tudo bem? — pergunto várias vezes, mas ela não responde.

Desesperada, eu abro a porta que, felizmente, não está trancada. Minha amiga está abraçada ao vaso, tendo várias sessões de vômito e chorando.

— Lili! — grito me aproximando.

Seguro seus cabelos para trás, pois outra sessão de vômito a impede de falar.

Ela geme.

Quando termina, lhe dou uma toalha e lhe ajudo a se levantar.

A vejo chorar em meio a uma mistura de emoções.

— Ana... — sussurra meu nome em um tom de tristeza, arrependimento talvez.

— Lili, por que você fez isso? — digo então, preocupada e não com tom de julgamento.

Mas confesso que pensar que ela está tentando abortar me deixa arrasada, mesmo assim procuro não acusá-la.

Então, chora mais forte.

— Não consegui... Tomei os remédios, mas corri para cá e enfiei o dedo na garganta para vomitá-los.

Demoro para assimilar e, quando as coisas estão claras, sou tomada por uma onda de felicidade. Abraço minha amiga de forma exagerada, ela fica sem reação.

— Ah, que bom, Lili, eu tive medo de que você tirasse esse bebezinho! Você fez a escolha certa, amiga!

Aos poucos, sinto Liliane corresponder ao meu abraço, ficamos numa mistura de lágrimas e sorrisos.

— Espero que você esteja certa quando disse que eu serei uma boa mãe, ou quando essa criança crescer, vou colocar toda a culpa em você!

Ajudo-lhe a se limpar e ouvimos um barulho incessante da campainha tocar. Nos entreolhamos imaginando quem poderia ser. A pessoa parece desesperada, pois insiste. Respiramos fundo e minha amiga me olha nervosa. Acreditamos que seja a mesma pessoa, Lucas.

Lili fica pálida novamente.

— Calma, vai dar tudo certo, você vai ver!

Ela não me responde, continua com sua expressão de espanto. Caminhamos lentamente até a sala e ouvimos os gritos. O que é estranho, pois Lucas é um homem calmo e tranquilo.

— Liliane! Liliane! Abra a porta, eu sei que você está aí, meu amor! — Ele parece chorar.— Pelo amor de Deus! Você está me matando, tenho tanto medo de que não esteja bem. Me atenda, mesmo que seja para brigar comigo! Pelo menos saberei que está bem.

O INVERNO ME TROUXE VOCÊ Onde histórias criam vida. Descubra agora