18 - Contato com o passado

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Ana

Chego em casa mais tarde, nas segundas o trânsito está um caos. Confesso que estive ansiosa para chegar e ver ele, Marco. Mas não está, certamente saiu para levar comida aos moradores de rua. Deixo a bolsa no sofá e vou direto para a cozinha a fim de ver o que ele cozinhou. Estou faminta. Me sinto um pouco frustrada ao ver que ele fez apenas alguns sanduíches. Não compreendo.

A casa está limpa e impecável. Sigo para o banho.

Me demoro mais do que o necessário, a água quente me ajuda a relaxar, todo o meu corpo dói por causa da tensão de uma segunda-feira agitada. Visto um moletom.

Quando passo pela porta da sala, quase me assusto ao ver Marco sentado no sofá angustiado. Seus olhos denunciam que ele esteve chorando. Está sentado observando uma caixinha com um aparelho de celular novo.

Me sento ao seu lado e lhe abraço.

— Ooi. Boa noite — falo procurando o que dizer.

Ele deita em meus ombros. Sinto o cheiro delicioso de seus cabelos, estar assim com ele é bom, senti falta disso hoje.

E surpreendentemente fala:

— Passei o dia assim, olhando para esse aparelho, decidindo se falo com meus pais.

Agora compreendo sua tensão. Marco esteve três anos na rua, longe de sua família, eles não têm notícia alguma sobre ele, por isso está inseguro.

— Estou aqui com você.

Ele me abraça forte, parece uma criança assustada.

— Ana... Eu não sei se esta é uma boa ideia.

Ele está com muito medo. Não sabe como sua família está e nem como vão reagir, é compreensível seu nervosismo. Mas meu desejo é ajudá-lo. Marco precisa reencontrar seus pais.

Afasto-o  dos meus ombros e o obrigo a me olhar nos olhos.

— Marco, vai dar tudo certo.

Ele me olha de forma intensa, aquela forte atração está ali entre nós. Ouço sua respiração e ele se aproxima lentamente, sinto sua boca invadir a minha, era tudo que eu precisava depois de ter ficado o dia todo longe, depois de toda angústia que passei com aquele idiota do Nicolas. Sua barba roça meu queixo, numa sensação deliciosa, sua boca continua na minha, Marco aperta meu corpo contra o seu, e eu sei que se não nos controlarmos vamos acabar fazendo amor aqui mesmo.

— Marco...

Ele se afasta lentamente.

— Obrigado. Você nem imagina o quanto me faz bem, Ana.

Respiro fundo, ainda me recuperando.

Pego o aparelho na mesa, retiro da caixa e peço autorização para ligar.

— Escolheu um modelo bem caro — falo brincando na tentativa de amenizar a situação.

Ele sorri.

Juntos fazemos as primeiras configurações.

— Digita o número que eu vou ligar para você.

O INVERNO ME TROUXE VOCÊ Onde histórias criam vida. Descubra agora