37 - Traumas

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Ana

Quatro meses se passaram, depois daquele dia terrível em que perdi minha mãe da pior forma. Recentemente precisei me afastar do trabalho por recomendações médicas, ainda sofro com o choque emocional que vivi. Faço terapia regularmente, o que tem ajudado na minha recuperação. Marco também faz algumas sessões por semana, tem sido fundamental para o nosso recomeço. O tratamento o ajuda com seus próprios traumas. Não consigo ficar em casa, passo a maior parte do tempo no restaurante. Aqui, eu tenho aprendido muita coisa com Marco sobre cozinhar, além de ocupar meu tempo e ficar perto dele.

— Como você está?— Marco passa por mim enquanto mexo o molho.

Ele me beija carinhosamente no pescoço. Está visivelmente preocupado, não tenho dormido bem, às vezes acordo no meio da noite aos gritos, assustada, alguns pesadelos me atormentam e acabo ficando angustiada, como nesta noite, tive um sonho com minha mãe. Na verdade, esses sonhos têm sido cada vez mais frequentes. Depois, me pego entre vários pensamentos, faço algumas indagações, como, o porquê justo quando estávamos tão bem, eu e minha mãe, tudo isso tinha que acontecer?

Ficou um buraco em mim desde que ela se foi.

Respiro fundo e inspiro.

— Estou melhor — falo sem tirar os olhos da panela.

— Sabe que eu estou aqui, né, para o que você precisar, sempre? — ele fala ao pé do meu ouvido.

Esse homem é incrivelmente perfeito. Amo tudo nele, Marco é companheiro, carinhoso, compreensivo. É maravilhoso ter ele por perto. Às vezes penso que estou sendo um estorvo, temo atrapalhar sua vida com todo esse peso que carrego, ainda me sinto culpada por ele ter vivido aquele inferno comigo, se não tivéssemos nos conhecido, ele não teria passado por mais essa.

— Sim, eu sei — falo e desligo o fogo.

Me viro para ele e olho em seus olhos claros tão lindos.

Suas mãos estão em minha cintura. Me enfio em seus braços e repouso minha cabeça em seu peito. Ficamos assim por um longo tempo. Ele tem um cheiro gostoso. Suspiro.

— Tive uma ideia!— ele fala animado, me soltando.

Observo-lhe enfiar a mão na calça e pegar o telefone no bolso. Fico curiosa, não imagino sobre o que se trata, mas sei que apenas deseja me ver bem, é o que tem feito nos últimos dias. Também me preocupo com o fato de que Marco tem se dedicado muito a mim, muitas vezes deixa o restaurante com seus funcionários somente para me dar atenção ou realizar alguma programação para me animar.

Não consigo ouvir o que ele fala ao telefone. Mas quando desliga, se aproxima sorridente.

— Vamos ao shopping.

Quase murcho, detesto fazer compras, desta vez ele não acertou. Bufo. Na verdade, não estou a fim de sair.

— Marco... — começo a fazer beicinho feito uma criança.

Mesmo assim, está animado.

— Meu amor, precisamos comprar o presente da Lídia.

Apenas ouvir o nome da nossa afilhada, meu coração se derrete. Liliane está de 34 semanas, falta pouco para nossa princesa chegar.

Confesso que me animo um pouco, pois estamos realmente atrasados com o presente.

— Mas você tem alguma ideia? — pergunto suspeitando dele.

Marco aperta os olhos, cheios de graça.

— Acho que sim. Mas você só vai saber, senhorita, se me acompanhar agora — fala em tom brincalhão, estendendo a mão com gentileza.

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