15 - Visitas indesejaveis

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Ana

Abro os olhos e percebo que já é dia.

Me recordo de todos os acontecimentos da noite anterior, desde o momento em que Marco me viu nos braços de Nicolas, fugiu, veio parar em meu apartamento e conversamos. Ele se abriu para mim, me contando de sua grande dor, agora consigo entender o porquê de ele carregar tanta tristeza. Marco perdeu sua filha em um acidente e ainda se sente culpado por isso, compreendo cada traço obscuro que ele carrega. Descobri que ele não é apenas um andarilho qualquer, mas que tem uma família. Espreguiço-me na cama, ainda absorvendo tantas informações e lembranças do nosso momento de intimidade. Recordo-me de como Marco foi perfeito, e que nunca me senti tão bem com um homem quanto me senti com ele. De alguma forma, juntos somos completos, não há traumas e medos, somos apenas eu e ele.

Estico meu braço a fim de alcançá-lo na cama, mas me surpreendo com o espaço ao meu lado completamente vazio. Por um instante, fico assustada, temendo que ele tenha ido embora, porém acredito que ele não é esse tipo de homem, que leva uma mulher para cama e vai embora sem se quer falar com ela. E de repente, um delicioso cheiro de café e pão com queijo invade minhas narinas, nem percebo que estou sorrindo, afinal, meu cozinheiro está de volta, suspiro, me sentindo feliz como há muito tempo não me sentia.

Me levanto e visto sua jaqueta que está bem ao lado da minha cama, me lembro de como ele ficou lindo vestido com ela.

Saio do quarto e me deparo com uma incrível mesa de café, assim como da última vez. Me encosto na porta e fico observando ele entrar na sala e colocar alguns pães na mesa. Sou capaz de ficar o dia todo apenas observando ele tão à vontade em sua blusa branca e uma bermuda ainda das doações.

— Bom dia, Bela adormecida — diz quando me vê, fica hipnotizado ao perceber que uso sua jaqueta.

Se aproxima e me preenche com um delicioso beijo de bom dia.

— Ficou melhor em você do que em mim.

— Não mesmo — discordo, me lembrando de sua imagem máscula vestida com essa roupa.

— Fui à padaria da esquina e comprei algumas coisas. Temos bolo de fubá, pão novinho, pão de queijo e biscoito de polvilho. Trouxe um pouco de tudo.

Observo ele listar cada delícia, empolgado, mas uma dúvida ainda me cerca, sobre tudo o que conversamos ontem, algo ainda não ficou claro.

Então, sou bem direta:

— Marco... De onde você tira dinheiro para comprar essas coisas? — pergunto, ainda desconfortável com esse assunto.

Mas, para minha surpresa, ele fala naturalmente.

— Bom, faz alguns meses que descobri que alguém tem feito depósitos bancários em minha conta — explica e eu me surpreendo em saber que ele tem uma conta. — Acredito que seja meu pai, deixei o restaurante, tudo para trás, éramos sócios, então imagino que faça esses depósitos como forma de pagar pela minha parte.

Agora sim, compreendo tudo, mas confesso que tenho várias outras perguntas, principalmente sobre seus pais, mas decido esperar outro momento.

— Venha, vamos tomar um café.

Mesmo que eu esteja faminta e essa mesa esteja irresistível, eu preciso de um bom banho para acordar.

— Você se importa se eu tomar uma ducha primeiro?

Ele sorri.

— Claro que não. Vai que eu te espero.

Fico satisfeita com sua compreensão.

— Prometo não demorar.

Como prometi, não demoro, já que cortei o cabelo, agora fica mais fácil lavá-lo. Estou vestida e penteio o cabelo quando ouço a campainha tocar. Não faço ideia de quem seja em pleno domingo de manhã. Termino e sigo para a sala.

O INVERNO ME TROUXE VOCÊ Onde histórias criam vida. Descubra agora