6 - Doce vingança

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Ana

Enquanto subimos, dentro do elevador, ele observa tudo e faz uma pergunta:

— Você mora aqui há muito tempo?

Aperto o botão do 3° andar enquanto respondo:

— Há cinco anos.

Chegamos e abro meu apartamento, somente agora me lembro sobre o quanto está tudo sujo e bagunçado. Sou a desorganização em pessoa.

Tem roupas espalhadas por toda parte, peço que ele fique à vontade e se sente. Enquanto isso, vou recolhendo pelo menos algumas peças, principalmente meu sutiã branco de renda, no qual ele acaba de se sentar em cima. Fico vermelha de vergonha, ele sorri como se não se importasse. Porém, eu me importo e desejo sumir neste momento. Noto também que há sacos de salgadinhos espalhados, latinhas de refrigerante no canto da sala e meus sapatos próximos do corredor.

Bufo.

— Me desculpe a bagunça, é que não tenho muito tempo para faxinar a casa.

— Tudo bem.

Tudo bem, nada! Estou morta de vergonha e procuro algum assunto para disfarçar.

— Já que você resolveu vir, pode ficar três dias, pelo menos até conseguir colocar o pé no chão.

Ele parece não gostar da ideia. Franze a sobrancelha.

— Acho melhor não — fala com seu tom grosseiro.

Bufo novamente, imaginando que ele voltará a ser bruto comigo.

— Deixa de ser teimoso. Olha, eu quase não paro aqui. Trabalho bastante, você não vai ter que se importar com minha presença. Além do mais, vai ser bom para sua recuperação.

Ele parece insatisfeito, mas percebo que não vai se exaltar, sabe que estou só tentando lhe ajudar.

— Eu sei que na rua não terei como fazer repouso, mas não quero incomodar.

Dou um passo à frente.

— Olha, pense que é uma retribuição pelo que fez por mim, se está nesta situação é justamente por ter me salvado.

— Já disse que, quando lhe ajudei, estava assumindo todos os riscos.

—  E só desejo agradecer.

Fico brava e franzo a sobrancelha, pois ele sempre tem uma resposta na ponta da língua. No entanto, parece pensar na ideia com mais aceitação.

—  Mas, três dias é muito, e sua família pode não gostar.

Mentalmente, estou rindo de sua fala, fico imaginando dona Márcia surtando ao saber que eu trouxe um sem teto para dentro do meu apartamento.

— Minha família...? Só tenho minha mãe, e ela quase não vem aqui.

Ele ainda parece procurar motivos para que eu desista desta ideia.

— E seu... Namorado?

Agora estou rindo em voz alta e ele fica confuso com minha reação.

O INVERNO ME TROUXE VOCÊ Onde histórias criam vida. Descubra agora