3 - Dia ruim

499 69 47
                                    

Ana

Precisei de alguns minutos no Café Mix, sentada, sozinha e completamente desolada, para me recompor. Aquele atendente, o mesmo que paquera minha amiga, estava ali, gentil e simpático com todos os clientes, sempre sorridente e educado. Talvez Liliane esteja errada, nem todos os homens são iguais, apenas não tivemos a sorte de encontrar um que não seja canalha ou que nos use apenas com interesses pessoais ou sexuais.

Minha amiga me envia várias mensagens, ela está bastante preocupada. Em uma delas, Liliane me avisa que o casal top não estava mais na redação. Então, consigo retornar mais tranquila e me esforço para voltar ao trabalho.

O dia se arrasta, durante um intervalo, decido fazer algo que já deveria ter feito, crio uma conta no Instagram. A princípio, é muito mais fácil do que imaginava, em instantes Liliane já está me mandando mensagem histérica quando descobre, e é a primeira a me seguir. A sigo de volta e logo o algoritmo me sugere várias contas que estão vinculadas à minha amiga e a primeira delas é... Laura. Sinto uma ansiedade absurda para ver o perfil dela. Como se estivesse cometendo algo indevido, olho para os lados. Ao perceber que não há perigo de ser pega, clico em cima da foto. 

O perfil de Laura é tão falso quanto o da maioria das pessoas. É nítido que o foco é ganhar seguidores, a propósito ela tem mais de cinquenta mil, é do tipo que registra tudo que faz, inclusive tem um vídeo dela dormindo. Quem, em plena sã consciência, pede para ser filmado dormindo e posta nas redes sociais?

Bufo, é por coisas tão fúteis como essa que não curto redes sociais, cheias de pessoas vazias de conteúdo, mas cheias de si mesmas. 

As fotos do pedido de casamento estão bem ali, com vários likes. Nicolas, de joelhos, lhe entrega um anel caro. Passo rapidamente a foto. Logo abaixo tem várias fotos... deles juntinhos... como Liliane não viu isso? São várias fotos dos dois em jantares, barzinhos, encontros bem românticos, e todas elas em datas nas quais eles estavam tecnicamente rompidos.

Nicolas é mais canalha do que eu imaginava.

Fecho a tela rapidamente, sentindo muita raiva, fica ainda mais nítido que ele me usou. Neste momento, deve estar rindo do quão idiota eu fui.

Saio do trabalho um pouco mais cedo que o normal. Tudo o que aconteceu ainda está atravessado em minha garganta. Durante o almoço, Lili e eu conversamos e ela ficou chocada com as postagens de Laura que mostrei a ela. Lili disse que nunca perdeu tempo com o Instagram de Laura, sua antipatia pela versão dela blogueira era muito grande para isso. Porém, minha amiga chega à mesma conclusão que eu, os dois estavam juntos, porém Nicolas estava escondendo isso, por um único motivo: eu.

A propósito, o canalha me mandou mensagem, disse que precisava falar comigo. Então, desliguei meu celular. Afinal, o que ele tem para me dizer? "Ah, obrigado por me proporcionar um sexo sem graça, me garantir a promoção no trabalho e minha tese de mestrado."

Respiro rápido tentando conter as lágrimas, não quero chorar, não por ele, Nicolas não merece isso, entretanto sinto uma angústia esmagadora e por isso não contenho, entro em meu carro deixando as lágrimas descerem.

Dirigi por duas horas, inicialmente não sabia para onde ir, eu preciso ficar longe por algumas horas, temo que Nicolas me procure, não  quero falar com ele. 

Então sigo para o único lugar no qual não serei encontrada, e mesmo sabendo que é uma grande loucura, decido ir para minha cidade natal, para casa de minha mãe. Dona Márcia, não é a melhor pessoa para me ajudar nesse momento, mas... não tenho mais ninguém. Além do mais, ela é minha mãe, e acredito que é isso que mães fazem, cuidam dos filhos.

O INVERNO ME TROUXE VOCÊ Onde histórias criam vida. Descubra agora