29 - Por Marco

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Marco

Assim que chego em minha cidade, sou recebido por meus pais em um enorme abraço de saudades. É estranho estar aqui sem Ana, prefiro que ela tivesse vindo, mas compreendo que precise trabalhar.

Seguimos direto para minha casa, o corretor e os novos compradores nos aguardam para fecharmos negócio. Quando chegamos, há mais dois carros estacionados logo na porta, Fernando, o responsável pela venda da casa na imobiliária, e logo atrás observo sair de dentro do outro veículo uma bela família, um casal bem jovem com uma linda garotinha. Confesso que esta cena me faz voltar ao passado, quando minha princesinha ainda estava comigo. Sinto um nó na garganta ao me lembrar de minha filha. Felizmente, a voz do corretor invade meus pensamentos, me tirando de toda tristeza.

— Sou Antony Cruz — o cliente fala, me estendendo a mão.

Noto que a família está bem próxima de nós.

Todos nos apresentamos e logo entramos na casa. Está tudo vazio, meus pais venderam os móveis como eu havia pedido. Me recordo de quando me mudei para cá, meus dias eram tão sombrios, estava perturbado com tudo que estava acontecendo em minha vida. Apesar de não amar Priscila, o divórcio não foi nada fácil, e ficar aqui sozinho com minha culpa e dor era ainda pior. De certa forma, me sinto bem em vendê-la.

Enquanto assinamos os papéis que Fernando trouxe, vejo a pequena Samara, a menina filha do casal. Ela parece feliz com a casa nova e pula no colo dos pais quando descobre que terá um quarto só para ela. A cena é agradável de se ver, mas para mim traz uma angústia inexplicável. É por isso que não desejo voltar a morar nesta cidade, tudo aqui me lembra meu passado, minha dor. Sinto falta de Ana neste momento, ela sempre tem uma palavra que me consola ou um sorriso que me preenche. Suspiro fundo e sinto minha mãe acariciar meu braço, certamente notou minhas emoções alteradas.

Fechamos a venda e vamos para casa dos meus pais. Sinto como se um ciclo se encerrasse e um novo estivesse começando. No caminho relembramos vários momentos felizes, entre eles nos finais de semana de pesca na casa de nossa família em Canoas, a casa em que papai morou quando criança, íamos lá com frequência, eram momentos incríveis. Então, meu pai tem a excelente ideia de irmos para lá. Confesso que adoro, pescar é algo que eu gosto bastante de fazer.

Ligo para Ana várias vezes, mas ela não atende. Fico um pouco preocupado, mas, no fundo, sinto que está tudo bem. Mas, como eu sei que na casa de pesca não tem rede de telefone, preciso deixar pelo menos uma mensagem. Voltamos da pesca amanhã à tarde e na sequência volto para o Porto.

Papai dirige animado. Quase uma hora de viagem. Ao chegarmos, vejo que tudo está como da última vez em que estive aqui, faz alguns anos, e Melissa adorou o passeio, é quase impossível não me lembrar dela e de como estava ansiosa para pescar comigo.

— Vamos, Marco. Ainda hoje quero pegar uma traíra! — papai fala animado enquanto descarrega o carro. Caminhamos pela trilha de pingos de ouro, no meio do caminho paramos e noto um carro estacionar logo atrás do carro do meu pai. Quando vejo tia Margareth e Priscila descerem, quase não acredito.

Bufo.

— Cláudio? — Tia Margoh fala, saindo do veículo — Vocês por aqui?

Ela parece surpresa. Priscila retira o filho da cadeirinha e sai também.

— Ooi, Marco... Olá , tia Helena e tio Cláudio — Priscila fala receosa. — Filipe, cumprimente seus tios — ela ordena ao garoto.

O clima é estranho entre nós.

A casa pertence a todos os filhos dos meus avós paternos, meus tios vêm bastante aos finais de semana, mas papai acreditava que estaria vazia, hoje.

— Margoh, eu não sabia que você viria — papai diz.

O INVERNO ME TROUXE VOCÊ Onde histórias criam vida. Descubra agora