Capítulo 1 - Respire

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Tive certeza que estava sonhando a terceira vez que estava no mesmo lugar, o sonho era um ciclo: Londres, França, Itália. Lugares que eu visitei e que conheço como a palma da minha mão, eu passava pelos mesmos lugares, com as mesmas pessoas. Algumas vezes eu escutava vozes, uma voz feminina, doce. Dizia coisas que eu não entendia.

- A frequência dele estava estável, mas ainda precisa ficar neste estado.

- Ele está melhorando, mas vai continuar na UTI.

- Você vai ficar dedicada a ele, ele precisa de cuidados especiais até ter uma recuperação completa. - Uma voz masculina disse uma certa vez.

- Sim Doutor, estou ciente disso. - A voz feminina respondeu.

Depois que descobri que estava sonhando, logo depois descobri que estava no hospital. Mas o que aconteceu? Eu não sei, eu não me lembro.

O que me assusta, muito.

As vozes que eu ouvia não tinha rosto, no meu sonho eram pessoas que ficavam de costas para mim, eu sabia que era homem ou mulher pelos tons de vozes. Alguma coisa dentro de mim sabiam distinguir quando eles estavam bravos, simpáticos, compreensivos, parecia um dom, um talento. Que eu não sabia de onde veio também.

O que também me assusta.

Mas eu aprendi a me acalmar, aprendi a deixar o sonho ir. Botei em minha cabeça que em algum momento eu sairia dali, e que eu entenderia tudo e que tudo que me assustava iria me acalmar.

Estava em Londres pela quarta vez.

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POV Eda

Eu sempre quis ajudar as pessoas.

A maneira mais fácil que eu consegui realizar esse desejo foi indo para a escola de enfermagem. Foi um período difícil, mas a faculdade de enfermagem foi uma das melhores coisas que eu já fiz na minha vida.

Conseguir trabalho foi fácil, consegui em um hospital na Unidade de Terapia Intensiva - a famosa UTI - cuidando de pessoas em seus momentos mais frágeis e assistir eles voltar a sua vida é uma coisa magnífica, e fazer parte disso é algo que me traz alegria.

Essa semana recebemos um policial, ele levou múltiplos tiros em todo o seu corpo, precisou de 3 cirurgias e ainda estavam esperando ele melhorar para fazer a quarta. Os braços e as pernas ficaram afetados depois dos tiros e, mesmo com o colete a prova de balas, ele levou tantos tiros no tórax que uma costela perfurou seu pulmão com o impacto. Ele estava grave, porém tínhamos esperanças, ele era forte e saudável. Iria sair dessa.

Andava pelos corredores da UTI verificando se fiz todas as rondas, Melo estava do meu lado.

- Você viu o policial lindo do leito 12? - Respirei fundo e sorri.

- Você sabe que ele é meu paciente, e, aliás, como sabe que ele é bonito? Ele está todo machucado. - Indaguei.

- Você já viu o tamanho dos braços dele? Um homem daquele tamanho não tem como ser feio. - Não consegui segurar as minhas risadas.

- Quando você vai almoçar? Estou com fome. - Ela perguntou.

- Pois vá comer, estou terminando a minha ronda. - Melo resmungou.

- Não quero comer sozinha, sabe que não gosto de comer nesse hospital sozinha. - Respirei fundo. 

- Então ou você espera eu terminar as minhas rondas, ou você vai comer. O que vai ser? - Melo se encolheu e assentiu. Eu odiava ser dura assim com ela, mas as vezes era necessário. Ela não me deixava fazer o que era necessário. 

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