Capítulo 3 - Sr. Bolat

2.9K 262 28
                                    

Terminei todas minhas rondas da manhã e as do almoço, tentei de todas as formas seguir com a minha rotina no hospital, mas todas as vezes que eu passava em frente ao leito dele eu parava por alguns segundos, talvez alguns minutos.

Serkan começou a ter movimento voluntários pela manhã, está começando a voltar para nossa realidade. Efe fez exames de movimentos e ele reagiu bem a todos, sua respiração também não teve alterações como seus batimentos cardíacos.

- Ele vai acordar no tempo dele. - Efe disse, eu bufei em frustração.

Estava ansiosa, mas eu não podia forçá-lo a acordar. Decidi também não falar mais com Serkan, era loucura pensar que ele poderia me escutar, eu estava perdendo a sanidade. Eu preciso respeitar o tempo dele como paciente.

Estava encostada no balcão da enfermaria, escrevendo a evolução de alguns pacientes, revendo algumas das minha anotações antigas e lendo as anotações dos outros colegas sobre esses pacientes.

Tentando me distrair.

Melo chegou como um jato e quase me derrubou.

- Ele acordou?

- Quem? - Tentei parecer indiferente.

- Quem? Pelo amor de Deus Dada, não me venha com isso. - Ela reclamou. - Você está parada exatamente de frente para o leito dele e vem me dizer "quem?" pelo amor de Deus.

Respirei fundo, ela realmente me conhecia.

- Ai, o que eu vou fazer? Ficar do lado da maca dele até ele acordar? - Resmunguei. - Para que todos fiquem falando que estou apaixonada pelo paciente? 

Melo me olhou preocupada, ela sabia sobre a conexão que tinha com Serkan, porém, ela também sabia o quão fofoqueiro um hospital pode ser e o quão perigoso aquilo podia ser, se apaixonar por um paciente poderia me fazer perder minha licença de enfermagem.

- Se alguém falar uma besteira dessas vamos denunciar para a administração. - Ela falou do meu lado, eu me virei, ficando de frente para o leito dele. Melo pegou minha mão, entrelaçando seus dedos nos meus. Eu sorri, era bom ter Melo perto de mim no hospital.

- Estamos juntas, sempre. - Ela falou apertando minha mão.

- Sempre. - Eu sorri.

Quando voltamos nossa visão para o leito de Serkan, ele estava movendo as pálpebras. Nenhuma das duas lembrou de ser profissional, corremos em direção ao leito. Melo fechou as cortinas, deixando só nós 3 dentro do cubículo da UTI.

- Chamo o Efe? - Melo perguntou. Eu estava verificando os monitores, seu ritmo cardíaco e respiratório. Nenhuma alteração. Eu olhava para os dados no monitor e para ele, o meu coração começou a ficar mais rápido, minhas pernas pararam de responder.

Serkan começou a tossir.

- Eda! - Melo falou em tom alto, me fazendo voltar.

- Pegue água, pegue um canudo! - Falei.

Melo saiu do leito, deixando a cortina fechada, minhas mãos foram ao botão da enfermaria, onde alguém chamaria Efe. Mas hesitei, algo dentro de mim dizia que precisava de alguns segundos com ele, para entender tudo que estava acontecendo comigo.

Suas pálpebras tentavam abrir.

Uma reação normal em pacientes voltando de coma é o susto, a força nos membros vem e de repente eles não conseguem controlar. Foi o que aconteceu com Serkan, seus dedos mexeram e de repente ele estava segurando as barras da cama, ele ainda tentava abrir os olhos.

- Ei, ei, está tudo bem. Respire, está tudo bem. - Falei com a minha voz calma, de enfermeira. Tirei seus dedos das grades da maca antes que ele pudesse se machucar.

You're in love I EDSEROnde histórias criam vida. Descubra agora