Ī

3K 277 107
                                    

CENTRALIA, EUA, 1965.

— É o melhor para você querida... — o rosto dela estava completamente molhado pelas lágrimas que derramou durante todo o trajeto, mas eu só continuei a olhar o mar que parecia tão infinito e gélido, assim como minha estadia naquele inferno seria, ignorando suas tentativas de chamar minha atenção.

— Vamos partir em cinco minutos! — o homem rechonchudo gritou, antes de ajustar a touca na cabeça e entrar no grande barco, se escondendo do frio agonizante que fazia as margens do mar.

Filha... — senti o toque de minha mãe no meu braço, mas me esquivei imediatamente, como se isso me queimasse, não precisei olhar em seus olhos para saber que eles estavam transparentes, mostrando sua alma destroçada.

— Ela vai entender Jade, ela vai entender, quando estiver curada — ouvi a voz do meu pai, tentando se mostrar forte.

Eu não dei mais ouvidos, somente respirei fundo e me dirigi para a fila de doentes que estavam rodeados por enfermeiros e policiais para que não matassem ninguém.

— Te amamos — ouvi minha mãe gritar, quando chegou minha vez de entrar dentro de uma camisa de força.

Não, não amam — Sussurrei tão baixo que quase não ouvi, logo deixando colocarem a camisa em mim, mas eles entenderam, percebi isso quando vi até os lábios do meu pai tremerem e suas expressões devastadas.

" — Ela não é lunática Maicon! Ela só está confusa... — a mulher de meia idade, visivelmente abatida mas que mesmo assim a beleza não lhe abandonava dizia em revolta tentando limpar as lágrimas dos olhos verdes.

— Sei que não senhora Morgado, mas muitas pessoas tem essa ideia errada da instituição mental Timothy Howard, de que só criminosos ou lunáticos habitam essas paredes, mas não, aqui também há pessoas confusas — a jovem lhe tocou a mão por cima da mesa com uma sorriso doce e sorriu fraco para a mãe de sua provável nova paciente — Ela será tratada bem como todos são aqui senhora Morgado, nosso tratamento envolve muitas conversas e atenção, ela aos poucos irá perceber que está apenas errada sobre algumas coisas e nós, aqui de Howard, iremos fazê-la ver, ela sairá curada daqui, posso garantir.

— Só queremos nossa menina, irmã, ela não é nossa Lauren, está deslumbrada com o pecado — o homem de feições fortes e de alto porte disse em um sussurro.

— Entendo perfeitamente "

— Porque está indo para Madhouse? — perguntou uma jovem negra de feições jovens e atraente ao meu lado, ela parecia bem interessada em me avaliar enquanto eu somente observava a cidade ficar cada vez menor dentro do barco.

— Por amar.

— Você é louca! — Ela sorriu, quando eu cheguei ao seu lado e dedilhei no piano de uma maneira ridícula somente para lhe fazer sorrir — Devia estar lá fora com seus pais!

— Sim, eu devia, mas é meu aniversário, queria pelo menos um beijo Vicky — me aproximei para lhe dar um selinho, porém ela se afastou olhando ao redor.

— Não aqui Lau! Está louca? Meu pai está lá fora, pode entrar aqui e...

— Lá fora — coloquei meu dedo sobre seus lábios a impedindo de falar — Não aqui... vamos, um beijo não te custa nada... E... Eu sei que está querendo tanto quanto eu — sorri de lado.

Ela olhou ao redor e respirou fundo, depois somente se curvou na minha direção me dando um beijo lento.

— O que…?

Ouvi a voz masculina se fazer presente no exato momento em que Vicky se afastou de perto do meu corpo e se levantou pálida, quem havia nos descoberto era Santiago, um idiota que era apaixonado por ela, ele nos olhava horrorizado.

— Sam... Não é...

— É por essa aberração que você me esnoba?! "

Ou desejar... no final, é tudo a mesma coisa, não? — respondi ao dar de ombros, a negra só deu um riso nasal.

— É tudo igual, essa porra de romance e amor é inventada por quem quer ganhar dinheiro, nem eles mesmo acreditam nisso!

— Eu a cada dia estou acreditando mais nisso, e você?

— Coloquei fogo no meu marido alcoólatra, enquanto ele dormia — olhei em sua direção com uma sombrancelha erguida — Ainda sinto o cheiro da carne queimada, maldito retardado.

— Imagino que ele tenha merecido — voltei a olhar para a água sem esboçar nenhuma grande reação, eu não era acostumada a ouvir de assassinados com tanta naturalidade assim, mas estavam indo para uma instituição que abrigava criminosos com problemas mentais, não é como se não esperasse ouvir coisas do tipo.

— Ao ponto de vista do assassino, todas as vítimas mereceram — deu de ombros novamente — Foi bom falar com alguém que não se baba ou é uma bíblia ambulante, nos vemos em madhouse Lauren.

— Como sabe o meu nome? — me virei na sua direção, ela só sorriu fraco e se virou de costas sem me responder, eu já estava achando que ela me ignoraria quando ouvi sua voz novamente.

— Tenho ouvidos muito bons.

MadhouseOnde histórias criam vida. Descubra agora