XL

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Quem é pequeno vê no maior apenas o que um pequeno é capaz de perceber.

Hermann Hesse

Com um movimento rápido ergui minha mão e dei impulso para trás, acertando meu cotovelo no rosto dela. Senti seu corpo tropeçar para trás e aproveitei esse momento de vulnerabilidade para avançar contra ela, sem dar chance dela conseguir reagir, deu um soco com força no seu rosto que já estava sangrando pela cotovelada. Quando ela caiu no chão atordoada, eu montei sobre ela e comecei a apertar seu pescoço, vi seu rosto ficar ainda mais vermelho enquanto ela buscava pelo ar, e suas unhas arranharem meus braços, tentando fugir, mas isso só fazia meu aperto se tornar mais forte. Não demorou para que ela estivesse desacordada e com o corpo mole.

Lauren...? — me levantei, sentindo um embrulho no meu estômago ao ver minhas mãos ensanguentadas, mas não sei muito espaço para esse sentimento, pois fui até Camila cortando as cordas.

— Ela não está morta, só desacordada, só não sei por quanto tempo — disse — Você está bem? — ela concordou fraco com a cabeça.

— Você é uma desgraçada — empurrou meus ombros, mas em seguida gemeu de dor e contorceu o rosto em uma expressão de sofrimento.

— Camz? Que foi?

— Não é nada... — Tentou se levantar, mas eu não deixei, ao invés disso, comecei a apalpar seu corpo para ver se ela não estava ferida — Lauren, eu estou... AH! — gritou de dor quando eu passei as mãos pela sua barriga, a região um pouco abaixo da costela estava molhada.

— Você está ferida!

— Não se preocupe com isso, vou ficar bem... Temos que saber o que fazer com ela.

— O que você acha que podemos fazer? — perguntei ainda olhando para a região ferida, não dava para ver muita coisa já que o hábito cobria a parte rasgada de baixo.

Eu não sei... Se a entregarmos, ela vai falar sobre nós duas...

— Quer fazer oque então?

— Não sei... Maldição! Ela está acordando! — arregalei os olhos — Lauren, vai até lá, não a deixe escapar! — me levantei rapidamente, pegando a faca e indo até Mary que estava tossindo ainda deitada no chão.

— Você é uma demente! — disse com a voz falha — Deixou escapar sua chance de sair daqui por causa dela! — cuspiu sangue no chão, sem nunca tirar o sorriso cínico do rosto — Agora vai passar um bom tempo aqui por ser burra!

— Não sou como você, se enganou por pensar isso.

— Não é ainda — piscou na minha direção — Vão ter que me matar para manter minha boca fechada, caso o contrário, todos vão saber de vocês.

— Quem vai acreditar em você? — ri com deboche, irmã Mary só arqueou as sobrancelhas em afronte.

— Como vão explicar como me encontraram aqui? Não acha que vão achar estranho o fato da diretora de Howard estar "passeando" altas horas da madrugada com uma paciente? — engoli em seco, piscando rapidamente. Ela tinha razão, se contássemos o que realmente aconteceu ninguém iria acreditar, havia duas opções, ou iriam suspeitar sobre nós duas ou pior, iriam achar que nós também éramos culpadas. Olhei de relance para Camila, que tinha o olhar distante, ainda no chão — Não pensaram nisso, não é? Imaginei.

Fiquei em silêncio, segurando a faca com força, eu não iria matar ela, nunca conseguiria matar ninguém, não era da minha natureza. Nunca pensei na possibilidade de trair Camila e me juntar a ela, jamais, nem se ela não tivesse pedido para mim tirar a vida da mulher que eu era apaixonada. Ela foi tola em achar que eu não sentia nada por Camila e ter tanta fé que eu me juntaria a ela, me pergunto como ela descobriu que eu tinha um plano inicial de usar Camila para sair de Howard? A menos... A menos que ela tivesse ouvido a minha conversa com o anônimo! Claro, era a única alternativa, nunca toquei nesse assunto com ninguém além dele, nem com Claudette, e olhando por esse lado, lado qual eu fosse uma pessoa que conseguisse fingir gostar de Camila tão facilmente sem realmente gostar era lógico que eu aceitaria a oferta dela... Claro que era tentador, eu sabia que ela me tiraria daqui, mas eu não seria capaz, caso fizesse tenho certeza que passaria o resto da vida atormentada por essa decisão. Ficamos um bom tempo em silêncio, a cada segundo que se passava, a cara de satisfação de Irmã Mary aumentava ainda mais, se alguém em falasse que a gentil freira era essa doente, eu a defenderia com unhas e dentes, e tenho certeza que Camila faria o mesmo, nunca ninguém imaginaria que fosse ela a assassina. Tudo ainda era muito surreal, eu não podia acreditar que estava nessa situação, com a mão suja de sangue e segurando uma faca, estive a beira da morte, meu coração estava acelerado e minhas pernas moles, esperando a primeira oportunidade para que pudessem ceder.

— Não vão — ouvi Camila dizer com a voz um pouco arrastada atraindo o meu olhar e onde irmã Mary para ela, ela havia se levantado, estava com uma mão na barriga, provavelmente a parte atingida e uma expressão de dor no rosto, mas mesmo assim tinha um sorriso no rosto — Porque eu e ela não estávamos "passeando" altas horas da madrugada — franzi o cenho na sua direção, confusa com sua fala e a irmã Mary não estava diferente — Eu estava, todos sabem como eu desde nova gostava de sair de madrugada para observar o mar aos fundos de Howard, pensei em ver o mar, mas então, quando vim pelo caminho que sempre vinha... Imaginem o choque que foi encontrar você atacando Lauren... — sorriu fraco levantando uma das sobrancelhas, irmã Mary a encarava com ódio — É, Mary, não é a única que sabe inventar histórias.

— Ninguém vai acreditar em você...

— E vão acreditar em você? Uma perícia básica descobre que há vestígios da vítima em você. Eu fui atacada, Lauren está machucada. Não pensou nisso, né Mary? — sorri negando com a cabeça, eu não sabia de onde ela havia tirado isso, mas era magnífico.

Desgraçada! — se aproveitando do nosso momento de distração, ela avançou contra mim, puxando minhas pernas e me derrubando, tentou tirar a faca da minha mão, mas eu a segurei firme, tempo esse que Camila pegou a mesma pá que ela havia atingido minha cabeça e bateu nela. O corpo pesado dela ficou mole sobre o meu e eu não demorei a jogar ele para o lado.

— Quero ver a maldita acordar tão cedo agora — Largou a pá me fazendo ri baixinho mas logo arregalei os olhos em preocupação quando ela contorceu o rosto em dor e foi deslizando na parede com a mão na barriga — Ah...

— Camila! — rapidamente rastejei na sua direção e tirei sua mão da barriga para poder ver o corte, afastei o pano de cima do hábito e vi a parte interna rasgada revelando um corte fundo na sua barriga, um pouco abaixo da costela — Meu Deus! Como...?

— Mary me atingiu com a faca para poder me imobilizar e me amarrar... — engoliu em seco — Ah! Não mexa, dói...

— Camila! Preciso te tirar daqui! Esse corte está fundo e sangrando muito, pode ter atingido algum órgão!

— Vou ficar bem — arfou — Vai atrás de Ofélia ou o enfermeiro David... busque ajuda dela antes que Mary acorde...

MadhouseOnde histórias criam vida. Descubra agora