Se você tem um grama de bom senso e um bom amigo, não precisa de um analista.Joan Crawford
— Você é uma lenda neste lugar, garota! — olhei para minha, posso dizer, colega assassina de Howard, com o cenho franzido — Quer dizer, todos, os que conseguem formular uma frase pelo menos, estão falando da garota que desafiou a megera da Ofélia e saiu viva!
— Essa seria eu, suponho.
— Obviamente!
Só neguei com a cabeça observando o girassol que eu tinha em mãos, hoje era dia de tomar sol, eram raros os momentos em que podíamos respirar ar fresco e tomar um pouco de sol, então por isso eu estava aproveitando ao máximo. Claudette estava ao meu lado, sentada em um dos bancos que ficavam espalhados pelo jardim.
— Me conte exatamente tudo que aconteceu!
— Nada demais, eu basicamente chamei a velha do tratamento de hipócrita ou algo do tipo e ela me bateu com uma régua, bem na boca, doeu como o inferno, mas depois disso me mandaram pra sala da diretora e eu meio que chamei ela de hipócrita também.
— Wouu.
— Sim, wou, me surpreendo de não estar naquela tal não sei oque da reflexão que mais parecia uma solitária ainda.
— E porque? — perguntou interessada.
Olhei ao redor para ver se tinha alguém próximo, ao perceber que não, me virei para olhar no rosto da minha colega pensando se falava ou não, após um longo conflito interno respirei fundo tomando coragem, eu precisava falar com alguém sobre o que aconteceu, tanto para desabafar quanto para garantir que alguém soubesse do real motivo se eu aparecer assassinada... Posso estar exagerando, mas vai que não.
— Se você falar isso para alguém, eu nego até a morte e você será vista como mais louca do que já acham que você é — ela só contorceu o rosto e logo em seguida revirou os olhos.
— Pra quem vou falar seu segredinho? Pro Michael? — apontou para um homem rechonchudo que estava sentado no gramado e parecia muito feliz em comer grama com terra — Ela certamente nem entenderia.
— Michael! Já disse para não comer terra! — a irmã sorridente, como eu apelidei a freira que vi quando cheguei, tirou o homem do chão e o levou para dentro de Howard.
— Eu... eu posso, talvez, ter beijado a diretora da madhouse. — dei de ombros.
Claudette somente acenou com a cabeça distraidamente, logo em seguida arregalou os olhos assimilando o que eu disse e depois vi sua boca abrir em choque, mas com certeza oque mais me surpreendeu foi o tapa no braço que recebi. A maldita tinha a mão pesada.
— Me desculpe, precisava conferir se você realmente estava viva ou se eu só estava louca — sorriu amarelo e depois se debruçou na mesa se aproximando mais de mim — Mas... como assim? Você realmente beijou ela, na boca e essas coisas, ou imaginou, alucinou ou algo do tipo?
— Eu realmente beijei ela — massageei meu rosto com as mãos.
— Ma... ma.... Mas como? Digo, ela é uma freira, freira não beijam, eu imagino que não pelo menos e acima disso, você é mulher, isso não é meio que pecado na religião católica? Não que eu saiba muito sobre religiões, sempre estava pensando em homens nus ou em comida quando ia a igreja.
— É, talvez por isso ela tenha socado meu peito e me estampado depois, ou pelo beijo roubado...
— Você está me dizendo que beijou a diretora da madhouse onde está para aprender a gostar de pênis, a força? — assobiou admirada — Você é realmente uma lenda garota, ou não tem medo da morte, se quiser se matar tem meios muito mais fáceis e indolores.
— Eu estava com raiva O.K? E ela me chamou basicamente de suja ou pecadora, no final é tudo a mesma merda, me pareceu uma boa ideia beijar ela para que ela se sentisse suja como me achava.
— Mas como você conseguiu isso? Pensei que entrasse algemada na sala da diretoria.
— Não sei, mas por algum motivo não me algemaram, só me trouxeram do banheiro e me levaram pra sala dela.
— Está me dizendo que tinha a chance de quebrar o nariz dela e achou uma boa ideia beijá-la? — perguntou descrente.
— Sim... mas eu estava sob pressão, não sabia o que fazer...— Admita que queria beijar ela.
— Não, eu não queria. Porque eu iria querer beijar ela?
— Me pergunto a mesma coisa, você sabe que ela é uma vadia fanática, não sabe? — concordei com a cabeça — Que bom, um beijo Lauren? Sério? Pelo menos ela gostou.
— Como?
— Se você está viva alguma coisa fez de bom, não acha? No mínimo era para você estar na solitária versão madhouse.
— Isso me deixou intrigada também, digo, ela deveria ter me mandado para lá, ou ao menos me castigado.
— Também acho, mas como disse, acho que ela gostou do seu beijinho — riu, era a primeira vez que via ela sorrir e por incrível que pareça gostei do som, Claudette carregava uma tristeza muito grande no olhar, era bom aliviar um pouco isso para ela — E como foi? O beijo.
— Bom... quer dizer, não sei, foi diferente, mas não quero falar sobre isso, quero esquecer.... E tem outra coisa que aconteceu.
— Diga.
— Na solitária... eu encontrei alguém, bom não encontrei tecnicamente — apoiei minha cabeça nos cotovelos pensativa — conversei para ser mais específica, ele não me falou o nome, mas parece que está aqui a muito tempo.
— Achei que ninguém podia conversar lá, não é essa a ideia da solitária?
— Também achei, mas, ele deu um jeito de burlar as regras, tinha um buraco na parede, por isso conseguia ouvir sua voz.
— Só não dê muito papo, O.K? Eu sou suspeita para falar, pode parecer até irônico, mas você sabe que tem muitos assassinos aqui, pessoas pesadas, Lauren, falo nível estripador e canibal, se ele está trancado lá, coisa boa não fez, já ouvi histórias de que eles deixam esses serial killer para morrer nas solitárias quando eles causam algum estresse — disse parecendo realmente preocupada — só não coloca seu dedo no buraco, literalmente, vai que ele come — riu me fazendo revirar os olhos.
— Você é uma idiota.
— Ao menos não sou suicida.
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Madhouse
Romance- No século 20 não precisava de muito para você ser considerado fora dos padrões e automaticamente ser visto como uma pessoa com algum problema mental. A instituição mental de Howard foi fundada pelo monsenhor Timothy Howard para ser algo revolucion...