Se você me quer em sua vida, coloque-me nela. Eu não deveria estar lutando por uma posição.
Frida Kahlo
Andamos alguns bons metros até chegar a uma espécie de rampa. Tinha um portão grande que era muito bem trancado diga-se de passagem, no mínimo foi uns 5 minutos até Camila conseguir abrir ele completamente.
Assim que saímos de Howard fiquei surpresa, olhando ao redor, eu nunca tinha vindo para essa parte, achei que Centralia era uma ilha cinza, repleta de rochas e árvores secas, mas não aqui, haviam plantas e flores, e era até que bonito.
— Uau.
— Um belo contraste com o resto da ilha né — perguntou animada, só concordei com a cabeça, ainda olhando ao redor — Eu sempre gostei de vir aqui, primeiro porque me ajudava a pensar, sabe? E me deixava calma também, sentir o cheiro do vento soprando as folhas das árvores, e depois também porque me lembrava meu padrinho. Mas não era isso que eu queria mostrar... — fiquei surpresa ao sentir a mão dela segurando a minha, mas não deu tempo para que eu continuasse pensando nisso, pois logo Camila me puxou saindo correndo feito uma criança, eu gostei de ver ela assim.
Quando paramos, eu já estava sem fôlego e ela não estava diferente, ri olhando ela, estava suada mas ainda tinha um sorriso largo no rosto, como eu havia sentido falta dela... Camila me olhou de relance e depois apontou para frente, curiosamente, eu olhei para onde ela estava apontando.
— Uau! — disse novamente, e dei um passo com a intenção de ir até os destroços que haviam ali, alguns metros de distância de nós, mas Camila me impediu segurando meu braço.
— Está doida? Não podemos ir até lá — franzi o cenho confusa voltando a olhar para a morena.
— E porque? — perguntou com um sorriso, era engraçada a cara que ela estava fazendo, olhos arregalados e boca franzida.
— Oras... Bom, nunca ouviu falar dos destroços? — neguei com a cabeça, nem ao menos sabia que existiam esses destroços na ilha — Ah... Achei que era uma coisa bastante falada entre os pacientes... Pelo menos era antigamente — deu de ombros — Mas bem... Lá é mal assombrado — se sentou no chão, apoiada em uma árvore e deu dois tapinhas ao seu lado, indicando para mim acompanhar ela. Assim o fiz, me sentei ao seu lado continuando a olhar os destroços.
— Mal assombrado? — ri negando com a cabeça, quem acredita nessas coisas hoje em dia?
— Sim... Não ria, os fantasmas que habitam lá são um pouquinho sem paciência — mesmo achando tudo ridículo fiquei em silêncio.
— Ah... Me conta a história dos "destroços" — Perguntei revirando meus olhos, Camila me olhou por um segundo antes de voltar a olhar para os destroços distantes.
— Os destroços do que um dia foi uma promessa é assombrado pelo sangue de todas as pessoas que morreram ali, os fantasmas dos que perderam a vida na construção e... Alguns mais — disse em um tom macabro, enquanto levantava as sobrancelhas várias vezes — Juan Madden comprou Centralia que ainda não era Centralia por uma verdadeira pechincha com planos de se aproveitar do difícil acesso até a ilha para constituir um resort de luxo com um visual futurista. A ideia era que o hotel fosse um refúgio para que os ricaços do país fugissem da agitação da cidade, mas aconteceu vários acidentes nas obras, com a morte de vários trabalhadores, paralisou para sempre o projeto.
— Nossa... Quantas pessoas morreram ali?
— Não se sabe ao certo, mas foram muitas...
— E te relaxa ver um lugar onde aconteceram tantas mortes? Um lugar "mal assombrado"?
— Bom, não, gosto de vir aqui só porque realmente me ajuda a respirar, nunca me atrevi a entrar no espaço deles, o engraçado dos mortos é que eles não fazem nada com quem respeita... É o mínimo que merecem não é? — concordei com a cabeça — Uma vez um paciente conseguiu fugir, anos atrás, quando Timothy ainda era diretor, ele achou que era uma boa ideia se esconder nos destroços, até achar um jeito de sair de Centralia.
— O que aconteceu com ele? — perguntei curiosa.
— Se tornou mais um dos fantasmas que moram ali, o corpo dele foi encontrado pelo meu padrinho, quando já estava podre.
— Que horror! E como ele conseguiu entrar lá se não podia? Porque seu padrinho não morreu? — Camila deu de ombros.
— Como eu disse, tudo é uma questão de respeito... — a olhei por alguns segundos sem falar nada, isso estava muito confuso, mas mesmo assim eu estava feliz.
— Senti saudades de você — disse baixinho olhando o perfil de seu rosto, Camila suspirou e me olhou, ela estava com os olhos brilhantes, estava prestes a chorar, e ali, sem ela precisar falar nada, eu soube o motivo pelo qual ela me tirou do meu quarto essa hora, não era só para me mostrar os destroços, era para me falar algo.
— Eu também... Vou sentir tanta saudade, Lo — disse com a voz trêmula.
— Não precisa sentir...
— É o melhor...
— Se não estamos felizes não é...
— Mas logo isso vai passar — soluçou e voltou a olhar para frente — Resolvi as coisas, você conseguiu aderir a cura Lauren Jauregui, é uma pessoa considerada curada para Howard... Vai poder retomarmos sua vida de onde parou... Seus pais estão aqui já, prontos para levar você para casa...
— Camz...
—... Claro, você vai ter que tomar cuidado para fingir que realmente Howard conseguiu te mudar...
— Camz! — segurei seu rosto entre minhas mãos, olhando o fundo de seus olhos, e então percebi que ela estava chorando, haviam lágrimas molhado suas bochechas, eu não estava diferente, meu coração estava doendo com a possibilidade de nunca mais ver ela — Por favor... — Camila negou com a cabeça.
— Eu te amo — abri a boca surpresa ao ouvir ela falar aquelas palavras, meu coração parecia sair do peito.
— Eu também te amo — disse, Camila fechou os olhos e então aproximou nossos rostos para me dar um beijo.
Esse beijo tinha um gosto diferente de todos os outros que demos, havia gosto de lágrimas misturado com tristeza, tinha gosto de despedida.
Assim que nos separamos, Camila grudou nossas testas.
— Por favor, me diga que não é o fim, Camz, me diga que vamos voltar a nos ver... Não quero ouvir que é algo definitivo.
— Talvez não seja, mas precisamos desse tempo Lo, você merece algo maior que eu.
— Não quero nada diferente de você.
— Lauren, é isso — se afastou limpando as lágrimas — Não vou mudar minha decisão — Camila se levantou limpando o hábito — Deve ir — abri a boca para falar algo, não era justo acabar assim — Lauren, vá.
— É isso? Você simplesmente vai me mandar embora? Por Deus Camila, eu te amo! Você por favor, pode lutar por mim? Eu não consigo te obrigar a querer estar comigo... Por favor... — ela nem olhava nos meus olhos, olhava para o chão seria, mas eu via as lágrimas caindo de seus olhos. Esperei uma resposta por muito tempo, mas quando ela me respondeu, não foi o que eu queria mais foi oque eu esperava.
— Vai Lauren — ao ouvir sua resposta, meu coração afundou.
— O.K diretora.
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Madhouse
Romance- No século 20 não precisava de muito para você ser considerado fora dos padrões e automaticamente ser visto como uma pessoa com algum problema mental. A instituição mental de Howard foi fundada pelo monsenhor Timothy Howard para ser algo revolucion...