XXVĪ

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As vezes os inimigos são mais úteis que os amigos, pois os moinhos não giram sem vento.

Hermann Hesse

A diretora Estrabão me olhava do outro lado da mesa, hoje era o "dia do tratamento" então por esse motivo eu vim a sua sala. Durante os dois dias que se passaram eu mal conseguia pregar os olhos, as palavras de Claudette e irmã Mary rondavam minha cabeça, eu não falei nada com Claudette, preferia tomar uma atitude por mim mesma, precisava colocar meus pensamentos em ordem. Mas eu não conseguia conectar as palavras de irmã Mary a mulher que eu via a minha frente, ela me olhava visivelmente curiosa, provavelmente estranhando o motivo pelo qual ainda estava de roupa, mas eu não conseguia ver o motivo pelo ênfase que Mary deu "você não sabe quem ela é..." Basicamente foi isso que ela disse "você não é a primeira nem a última..." Mas ela parecia tão inofensiva ali, com as sobrancelhas franzidas e os lábios comprimidos.

— Não... Não podemos continuar com isso — ela ergueu as sobrancelhas, mas depois riu baixinho, provavelmente achando engraçada as minhas palavras — Estou falando sério, não quero mais.

— Ah é? — continuou rindo baixinho, mas após perceber que eu continuava séria, ela engoliu em seco com uma careta — E porque?

— Porque... Eu simplesmente não quero mais — dei de ombros, eu esperava risos, um revirar de olhos, ou qualquer coisa, mas nunca o que aconteceu.

Ela fechou a cara na hora, me fuzilando com os olhos abriu a boca e fechou diversas vezes, pude ver ela sussurrar algo, mas foi tão baixo que eu não pude ouvir, suas mãos cobriram o rosto e podia ver ela se esforçando para normalizar a respirar.

Saia — ela disse baixo, mas o tom de voz dela me surpreendeu, e confesso que até me deixou abalada, parecia... Embargado? Eu rapidamente me levantei pronta para me aproximar dela.

— Você está bem? — perguntei preocupada, e quando ela levantou os olhos, me encarando com ódio, pude ter certeza das minhas suspeitas, ela estava... Por incrível que pareça, chorando. Os olhos estavam avermelhados e lágrimas molhavam as suas bochechas.

SAI! — gritou apontando para a porta. Eu abri um pouco a boca, para falar algo, mas o seu olhar revelava que ela não queria me ouvir, então para evitar problemas eu concordei de leve com a cabeça e rapidamente sai da sala da diretora. Ao chegar ao corredor, finalmente pude normalizar minha respiração, e levei as mãos até a cabeça, puxando meus cabelos.

...

— Eu não sei... Foi a reação que eu menos esperava — disse para Claudette, ela estava com o rosto completamente cheio de confusão, provavelmente igual ao meu.

Quando eu fui "terminar" com a diretora de Howard, eu esperava qualquer coisa, ela não aceitando seria mais provável do que ela em prantos... Eu não sabia sequer o que pensar, mas por algum motivo estava me sentindo culpada, a verdade era que eu não teria ter acabado com o que tínhamos, de longe era a melhor coisa que me aconteceu em Howard, uma das únicas, mas as palavras da irmã Mary mexeram comigo, isso era óbvio, e eu realmente não conhecia nada da diretora, ao menos sabia seu nome! E irmã Mary não tinha nenhum motivo para caluniar a diretora de graça, ela estava tentando me ajudar, me alertar, eu tinha feito a coisa certa, evitando ainda mais problemas terminando isso agora, mas então porque eu estava me sentindo mal e não aliviada?

— Isso é muito confuso... Mas talvez tenha sido dor de cotovelo? — deu de ombros, enquanto eu a encarava confusa — Digo, por você, uma pessoa que ela considera pecadora, inferior, ter acabado tudo com ela... Orgulho ferido.

— E se...

— Nem pensar, ela não está sentindo nada por você, Lauren, você mesmo me disse que ela sempre ressaltava que você era uma pecadora e ao menos tentava se aproximar de você, após o sexo oque você ganhava era um "cai fora" — fez um sinal de xô com a uma das mãos — Mas confuso ou não, é melhor deixar isso pra lá, você fez bem em acabar.

Concordei com a cabeça, mas sem nenhuma certeza, eu não havia contado tudo para Claudette, preferi não incluir Mary nisso, quanto mais eu conseguisse deixar ela da mira da diretora era melhor.

— Espere... — olhei para a negra, ela fechou os olhos respirando fundo, após alguns segundos abriu os mesmo e me fitou, negando com a cabeça — Eu disse para você não se envolver! Puta merda!

Do que está falando?

— Você está apaixonada por ela, e se não está ainda, falta muito pouco para isso — abri a boca chocada, mas depois acabei rindo de nervosismo.

Jamais!

— Você não admitiu ainda, mas sabe que está — revirei os olhos, Claudette tirava várias conclusões precipitadas, mesmo eu sabendo que ela era ótima em ler pessoas, agora ela estava errada, eu não estava apaixonada pela diretora, havia me apaixonado uma vez apenas, por Vicky, eu gostava do sexo? Sim, obviamente, e estava me sentindo mal por ter visto ela chorar, mas não era... Apaixonada por ela, isso era ridículo, nem a conhecia direito — Ainda vou ouvir você admitir. Você não tem medo? — franzi o cenho na sua direção, não entendendo do que exatamente ela estava falando.

— De? Seja clara, já basta toda a confusão que presenciei.

— De que a diretora faça algo para você... — deixou no ar.

— Ela nunca faria nada contra mim.

— Porque tem tanta certeza?

Porque ela sabe que eu posso colocar ela em problemas.

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