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Agora é o inverno do nosso descontentamento.

William Shakespeare

Árvores e mais árvores estavam presentes em todo o longo caminho que todos os pacientes percorreram até finalmente avistar a grande construção que era Howard.

Vendo assim, poderia se passar facilmente por qualquer lugar, menos um hospício em grande parte para criminosos, sua arquitetura lembravam uma mistura de construções vitorianas com alguma catedral, as paredes eram de um salmão e as janelas eram compridas e largas, facilmente seriam maiores que eu, eu esperava algo totalmente diferente, um lugar decadente por se tratar de uma instituição onde que basicamente eram deixadas pessoas indesejáveis ou algo mais… católico? Com várias estátuas de Santos… e não somente a grande estatueta de um anjo guerreiro que segurava uma espada apontada para o céu, havia também muitas flores nos jardins e muitas árvores com frutas diferentes das que avisei pelo caminho que percorremos… o lugar não parecia em nada com as madhouses que eu já tinha visto fotos ou ouvido falar.

Havia uma grande escada perolada que levava até a entrada de Howard, e uma jovem, vestida de freira, provavelmente uma noviça, estava no topo dela, com as mãos entrelaçadas e um sorriso singelo no rosto.

— Sejam bem vindos! — ela disse animada demais — Venham, a irmã e diretora lhe esperam na sala de reuniões, ela quer conhecer vocês!

Franzi o cenho com tal animação da garota, mas não pude pensar muito sobre isso, visto que logo os policiais começaram a conduzir os pacientes para que subissem a escada.

Fiquei em silêncio observando atentamente o interior da madhouse, mesmo simplista, poderia se dizer que era até que agradável, algumas freiras circulavam pelo local, mas elas não prestaram muita atenção nos novos pacientes, havia uma espécie de recepção, que não era nada mais que uma mesa branca grande cheia de papéis e uma máquina de escrever,
com uma freira de meia idade que escrevia algo em um papel distraidamente, o lugar era bem iluminado e fresco, tinha uma escada em espiral de madeira que levava provavelmente para o segundo andar de Howard, mas nos conduziram para o lado oposto, para um largo corredor que parecia não ter fim.

As paredes eram lisas e claras, com algumas cruzes que estavam altas demais para algum paciente conseguir pegar. Paramos ao chegar ao fim do corredor, a irmã sorridente abriu a porta para que pudéssemos entrar.

— Novamente, sejam bem vindos! — disse após todos estarem dentro da sala, ela fechou a porta nos deixando lá dentro. As paredes da sala eram rosê não havia cadeiras lá, só um grande espaço vazio e uma espécie de palco.

— Boa noite — ouvi uma voz feminina falar, puxando minha atenção para ela. Após uma rápida olhada consegui achar a dona da voz, ela estava sobre o palco, as mãos estavam entrelaçadas sobre a barriga, mas ao contrário da noviça, sua postura era reta e o rosto estava sério, ela estava com a típica roupa de freira que muita das mulheres que trabalhavam em Howard ostentavam — Me chamem de irmã Estrabão, sou a diretora de Howard — todos a observam em silêncio — Sou jovem mas posso garantir que sou a melhor em lidar com pacientes desobedientes — repuxou os lábios em um leve sorriso sem mostrar os dentes — Mas acredito que não vou precisar mostrar isso para vocês. Howard não tem muitas regras, mas as que existem eu exijo que sejam estritamente cumpridas, ou passarão por punição, não vou falar sobre elas, pois se não seguirem as regras veram pessoalmente. Vocês acordam quando são chamados, voltam para os quartos quando são ordenados, não é aceito nenhum tipo de violência entre os pacientes, não é permitido levar nada para dentro do seus dormitórios, sempre serão revistados, serão divididos por alas, e não poderam sair de seus quartos nem se quiserem sem permissão, mas se houver bom comportamento poderam passar mais tempo nas salas de recreação ou fazendo algum trabalho na cozinha, com supervisão claro, acredito que seja somente isso — olhou ao redor, observando o rosto de todos os pacientes, um por um, e ao chegar no meu, senti meu estômago se embrulhar com a intensidade de seu olhar — Não importa qual foi o motivo de vocês estarem aqui, mas saibam que Howard irá fazer muito bem para vocês, os que se comportarem bem, claro — sorriu sem mostrar os dentes novamente, e eu quase suspirei de alívio quando ela desviou os olhos de mim — Sejam bem vindos a Howard!

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