XĪĪ

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A imperfeição é bela, a loucura é genial e é melhor ser absolutamente ridículo que absolutamente chato.

Marilyn Monroe

— Posso dizer que não é uma surpresa vê-la novamente aqui — Ela disse assim que me deixaram na sala da direção, novamente desamarrada.

A diretora de Howard estava sentada atrás de sua mesa que estava coberta por papéis e livros, as mãos estavam entrelaçadas e me olhava atentamente, como se quisesse ver minha alma.

— Sem enrolar por favor, somente me dê seu veredito para que eu possa ficar em paz longe de qualquer um que use versos bíblicos para justificar sua natureza podre — disse já cansada física e mentalmente de tudo, Howard estava me sugando tanto, que eu duvidava seriamente que conseguiria me manter completamente sã por muito tempo.

— Sente-se Lauren.

— Eu não quero sentar! Maldição! Não quero ouvir qualquer merda que seja que queira me falar! — disse farta.

— Eu disse para se sentar — ralhou entre dentes me fuzilando com os olhos.

— E eu disse que não quero — devolvi a mesma intensidade do seu olhar.

— É olhando pessoas como você que penso que talvez Riley não fosse tão inútil, talvez você merecesse estar nas mãos dele, já que não sabe ouvir — respirou fundo para se acalmar, sem nunca desgrudar os olhos de mim.

— Eu sei ouvir irmãzinha Estrabão — revirei os olhos — Quem não sabe ouvir é vocês, não aceitam nada que não esteja dentro de suas malditas bolhas!

Ela desviou os olhos dos meus por alguns segundos, pensando, mas logo depois negou com a cabeça, se voltando para mim.

— Você será ouvida quando estiver curada.

— Quando eu estiver curada? — ri sem humor negando com a cabeça — Nunca ficarei curada pela forma que imaginam — umideci os lábios, um hábito meu para tentar aliviar o nervosismo, e um fato interessante, nunca funcionou.

— Isso é pecado, é nojento

— É engraçado isso, nojento — soltei um riso nasal — Não pareceu nojento quando estava me beijando, não é?

— Você me obrigou sua aberração! — se levantou com punhos cerrados, me olhando com ódio — Eu nunca o faria por vontade própria, me sinto suja até agora.

— Essa era a intenção, já que está tão suja irmãzinha, porque não termina de se sujar? Posso garantir que adoraria se afogar na minha sujeira — sorri sugestiva, e em resposta seu rosto ficou ainda mais vermelho, por raiva ou vergonha.

— Talvez para você não tenha mais jeito…

— Ah é? Agora que viu isso? Pois aí vai algo chocante, nenhuma daquelas pessoas que estavam na sala comigo terão jeito, a irmã Ofélia não terá jeito de aprender a ser mais compreensiva, Anna pode se enganar, mas também, será infeliz durante toda a sua vida, pois não poderá ser quem realmente é…

— Basta…!

— E você irmãzinha, não terá jeito também, porque não importa o quanto negue, adorou sentir o pecado, não é? — disse com um sorriso no rosto, eu estava com tanta raiva de tudo, e farta, não estava pensando em minhas palavras, só queria ficar sozinha para socar algo e depois chorar me perguntando o porquê a vida é tão injusta para algumas pessoas. Ela arregalou os olhos e depois fez algo surpreendente, jogou em mim um livro que estava sobre a mesa, e por milímetros ele não acertou em mim, que por sorte me abaixei rapidamente — Maldição! Você que deveria estar internada! — Disse chocada.

— Nunca! Jamais! Volte dizer isso! — a mulher estava realmente fora de si, vi isso nos seus olhos, mas eu já tinha entendido isso quando ela pegou um cortador de cartas e partiu para cima de mim com um olhar ameaçador, ela não estava blefando, iria realmente tentar me atacar com aquilo.

— Se acalme…

— Pro inferno com tudo! — chegou a pouco mais de um metro de mim e não demorou a tentar me cortar com o abridor, mas eu fui mais rápida e consegui segurar seu braço e torcer, a obrigando a soltar o abridor e rosnar de dor — Me solte sua pecadora! — com a mão direita livre, ela conseguiu acertar um tapa no meu maxilar, me deixando sem paciência e a empurrando em direção a mesa — Eu vou mandar David entrar se não me soltar — me ameaçou entre dentes.

— Vai é? E Vai lhe dizer o que? Ela me segurou quando eu tentei a matar?!  — imitei sua voz de uma maneira ridícula, revirando os olhos em seguida.

— Então vai mentir irmã? Achei que isso era pecado — ergui minhas sobrancelhas com um sorriso debochado no rosto, ela somente abriu a boca e a fechou algumas vezes, depois fechou os olhos respirando fundo, eu aproveitei esses segundos para observar os traços delicados do seu rosto e me perguntar, porque alguém tão bonita era freira, desilusão? Eu não acreditava que ela tivesse uma vocação para ser freira. Mas talvez eu estivesse errada, eu errava sobre muitas coisas. Ela abriu os olhos percebendo o modo como eu a olhava e então piscando rapidamente.

Me solte — sussurrou, mas eu vi seus olhos mirarem meus lábios por alguns segundos, e por reflexo fiz o mesmo, percebendo então com clareza como os lábios dela eram belos, cheios e rosados — E vá para quarto, não irei lhe mandar para a sala da reflexão.

— Eu não quero te soltar, quero fazer outra coisa na verdade — respondi num fio de voz, me aproximando mas um pouco dela.

Mas não fui eu que tomei a iniciativa selando nossos lábios.

MadhouseOnde histórias criam vida. Descubra agora