XXXVI

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Tudo está na mente. É onde tudo começa. Saber o que você quer é o primeiro passo na direção de conseguir.

Mae West

A situação não estava nada fácil para Camila, ela me contou que estava uma pilha de nervos, todo o acontecido tinha conseguido deixar ela extremamente estressada, mas eu não a julgo, quem não estaria, tinha acontecido um assassinado dentro da madhouse e ninguém poderia dar uma pista de quem foi o culpado, mas ela me disse que tem quase certeza que quem matou os outros pacientes, matou Michael, isso porque a forma como eles foram encontrados, estava bem parecida, assassinos tem suas marcas, como uma assinatura de um quadro.

Eu tentei acalmar ela, e funcionou um pouco, tanto que ela até dormiu nos meus braços por algumas horas, tempo esse que eu passei observando ela. Isso não estava certo, não era a primeira vez que ela vinha dormir comigo sem o objetivo de transarmos, vinha só para dormir abraçada comigo, eu gostava disso, e não estava feliz por descobrir esse meu sentimento. Uma vez minha mãe me disse que você sabia que gostava de alguém, gostava de uma maneira diferente, quando se pegava olhando fixamente para a pessoa, não qualquer olhar, era um olhar de admiração, um olhar de algo a mais, não tem como explicar, você sente, achei que tinha sentido isso por Vicky, mas eu nunca me peguei a olhando e admirando como seu sorriso era lindo, ou como seus olhos brilhavam quando falava de algo que gostava, ou como era extremamente adorável quando ela estava com o cabelo solto, ela não sabia oque fazer com ele, talvez por costume de sempre o deixar por debaixo dos panos, o jeito que ela tirava eles dos olhos era fofo, ou a carreta que fazia quando eles voltavam a tampar seus olhos, irritada, amava os olhares sutis que ela me mandava quando nos encontrávamos nos corredores, ou no refeitório,  e também amava o jeito que ela se transformava quando estávamos juntas, e como conseguia mudar de mulher sexy para menina tímida no segundo seguinte, quando eu encarava ela fixamente, suas bochechas ficavam vermelhas, era a coisa mais agradável do mundo... Fechei os olhos negando com a cabeça, eu não podia preferir observar o jeito que ela respirava enquanto dormia ao invés de dormir, mas eu gostava de fazer isso, embora não fosse nem um pouco algo bom.

Eu tentei negar isso pela semana toda, cada vez que a olhava quando ela passava nos corredores e sorria disfarçadamente, eu via o olhar que minha amiga me lançava de reprovação, então eu só reafirmava na minha cabeça que ela era exagerada, eu não estava apaixonada pela Camila, só gostava do sexo, perdi a conta de quantas vezes reafirmei isso para mim mesma, mas agora já era algo extremamente difícil de acreditar, até mesmo para mim, eu não gostava só do sexo com ela, se fosse só por esse motivo que eu quisesse estar perto dela, não estaria com ela nos meus braços vestida nesse exato momento, não era só sexo, eu era uma tola imbecil, mas gostava dela, mais que isso, eu estava apaixonada por ela, tudo que eu não podia fazer eu fiz, me apaixonei por essa mulher sem carácter que conseguia enganar todos com essa sua carinha de anjo, porque logo ela faz meu coração balançar quando a beijo? Isso não era nem um pouco justo...

Está me olhando — ouvi sua voz rouca dizer baixinho, sorri fraco, ela tinha o sono extremamente leve.

— Achei que estivesse dormindo.

— E eu estava, mas tenho um relógio biológico para conseguir acordar cedo para voltar para meu quarto, antes que o sino toque.

— Então é nessa hora que você me deixa?

— Sim — suspirou, se espreguiçando, e lentamente abriu os olhos os coçando — Está com problemas para dormir?

— Só perdi o sono.

— E resolveu me olhar fixamente? — sorriu fraco para mim.

— Não me culpe se você é extremamente atraente, certo? Meus olhos são atraídos para você — vi as bochechas dela ficarem coradas e sorri por isso — Como é capaz de ficar corado pelos meus elogios ainda? — perguntei de uma forma divertida.

— Não sei... Só não estou acostumada com isso.

Elogios? — concordou timidamente — Como não? Achei que era algo do seu cotidiano, você é linda.

— Não exagera...

— Não estou, já se olhou no espelho.

— Várias vezes, e por isso seu a resposta, sou comum, você que é como uma obra de arte, com esses olhos verdes profundos e claros, tão claros que as vezes podem se passarem por azuis, e cabelos mais negros que a própria noite...

— Uhm, então me acha atraente, irmã Estrabão? — girei nossos corpos ficando por cima e lhe encarei com malícia.

— Ainda tem dúvidas disso? Já se olhou no espelho? Acho impossível alguém não achar — devolveu, sorri largo com sua fala.

— Ah, mas não preciso saber a opinião de ninguém, a sua já me basta — ela sorriu largo também, e eu não me aguentei em aproximar nossos rostos e deixar um beijo lento nela, só sentindo e me aproveitando de todas as sensações que ela me proporcionava — Como consegue ter um beijo tão bom?

— Aprendi com você — deu de ombros, e eu mordi meus lábios, a observando atentamente, ela falava isso com tanta naturalidade, não parecia ser uma mentira. Como ela poderia fazer isso tão bem? Eu sabia que não era sua primeira em qualquer coisa que fosse, irmã Mary havia me contado a verdade, mas se ela não tivesse o feito, eu cairia em seu papo cegamente — Acho que gosto de você — sua fala me tirou dos meus pensamentos, me fazendo piscar algumas vezes descrente.

— Acho que não entendi — disse com um sorrisinho, estava tão mergulhada nos meus pensamentos que nem a ouvi com clareza.

Ela só continuou me olhando nos olhos, com aqueles seus castanhos lindos, tinha as bochechas avermelhadas. Depois de um bom tempo nos olhando, ela voltou a falar, envergonhada.

— Gosto de você, acho que mais que isso — sussurrou, cerrei os olhos na sua direção, ainda duvidando se realmente havia ouvido o que eu ouvi. Mas ao notar seu olhar sério para mim, soube que ela estava falando a verdade, então arqueei as sobrancelhas, surpresa, chocada, e feliz, sim, eu estava feliz em ouvir isso, mesmo podendo não ser verdade, eu não estava ligando para isso no momento — Eu... Não deveria ter falado isso... — ela tentou se afastar para sair de debaixo de mim, mas eu só prensei ainda mais nossos corpos.

— Eu... Também gosto de você... Na verdade, não gosto. Estou apaixonada por você.

Ela me olhou descrente. Nessa hora eu não me lembrava do meu plano para tentar conseguir sair de Centralia, nunca escondi meus sentimentos, nunca reprimi eles, preferia morrer a viver reprimida, e era isso que eu estava sentindo, não importava se era o melhor para mim, não importava que poderia estar colocando meu plano em um caminho muito ruim, eu só estava soltando para fora, revelando o que estava sentindo por ela, não poderia estar sendo mais verdadeira. Talvez me arrependa por estar falando isso, talvez não, não me importava, queria que ela soubesse que eu estava louca por ela.

— Absolutamente, irreversivelmente, e loucamente apaixonada por você, como eu nunca estive antes, na verdade, acho que você é a primeira pessoa que eu realmente fui apaixonada na minha vida... O que sinto por você... Não consigo colocar em palavras, passaria a noite inteira falando e ainda não chegaria nem na metade.

Ela abriu a boca para falar algo, e a fechou, me olhava de um jeito indecifrável, a verdade é que eu não sabia traduzir grande parte de seus olhares.

— Eu... — fechou os olhos com força — Preciso ir, já deveria ter partido.

Fala sério? — perguntei desacreditada, ela não poderia ir embora sem falar nada, não quando eu havia me declarado para ela.

— Preciso ir — concordei, comprimindo meus lábios, e fui para o lado, para liberar sua passagem, ela só suspirou, e se levantou, sem dizer mais nenhuma palavra saiu do quarto, trancando a porta.

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