Terei toda a aparência de quem falhou, e só eu saberei se foi a falha necessária.
Clarice Lispector
A conversa que tive com Camila foi uma montanha russa de sentimentos, mesmo tendo sido curta, tinha sido aliviante, intensa, tensa e necessária. Eu havia descoberto o verdadeiro nome de anônimo e o que ele era, isso me deixou chocada obviamente, mesmo eu já imaginando que ele devia ser alguém perigoso, mas não pensei muito nisso, o que mais me afetou foi a aceitação de Camila, ela não me xingou não me bateu nem nada do tipo, só disse ter entendido o meu "lado" e eu não estava nem um pouco aliviada com isso, não gostei do olhar que havia recebido dela, sabia que não traria coisas boas, mas a confirmação veio alguns dias depois, quando ela foi liberada da enfermeira para poder retomar os assuntos de Howard mesmo não estando 100% ainda. Camila começou a me evitar, nem me olhava, e eu não gostei nada disso, todas as vezes que tentei me aproximar dela para conversar ela desviada e dizia que tinha que resolver algo, até meu tratamento havia sido passado novamente para aquela freira que mal sabia falar direito comigo essa situação estava me irritando, tanto que eu estava decidida a ir até a sala dela, só não fui antes pela insistência de Claudette para que eu não fizesse isso. Ela tentava de todas as formas possíveis me convencer a não ir retomar assuntos com Camila.
" — Lauren, por Deus, você não vê? Isso é o melhor, você já quase morreu por culpa dela!
— Ah, não seja exagerada, não foi culpa dela o que aconteceu...
— Não? Não foi ela que foi até seu quarto de madrugada e te colocou frente a frente com a assassina? — revirou os olhos — Eu já disse tantas, mais tantas vezes, mas você não me ouve! Parece ser mais retardada do que os outros pacientes daqui. Ela e você é chance nula de acontecer, ambas as realidades são ridículas de tão diferentes, entenda de uma vez por todas isso, Lauren. Eu gosto de você porra, e me dói ver você cada vez mais se afundando em algo que só vai te foder!
— Então está admitindo que gosta de mim? — Claudette me encarou descrente.
— De tudo que eu disse foi só isso que você ouviu?
— Eu entendo, mas me diga, você nunca se apaixonou? Nunca fez uma loucura por amar alguém? — negou com a cabeça — Não matou seu marido por amor a sua filha?
— São duas coisas extremamente diferentes, Anneliese é minha filha, matei o seu pai só porque não queria que ela passasse pelas coisas que eu passava! Não queria ver minha menina sofrer, por isso matei ele. Não foi uma loucura, foi necessário. Já você, está se afogando nisso só porque ela tem um rostinho bonito.
— Não é isso... Eu realmente gosto dela, muito, queria não gostar, seria tão mais fácil, mas eu gosto, não é algo que eu possa fechar os olhos e desejar ser diferente"
Ela não entendeu, óbvio que ela não iria entender, minha amiga simplesmente não aceitava isso porque achava que eu iria ser a mais prejudicada nisso tudo, e talvez fosse, eu era apaixonada por ela, Camila certamente não sentia o mesmo na mesma intensidade por mim, e mesmo se sentisse, não daria certo... mas eu tinha o direito de lutar por isso, de tentar fazer dar certo, eu gostava dela, era apaixonada por aquela filha da mãe, e eu tinha que esclarecer as coisas, tinha que explicar que gostava dela, que não menti quando disse isso. Por isso, agora eu estava na frente da sala dela, prestes a bater, mas algo me deteve, o som de risos lá dentro, era a risada de Camila e uma risada masculina, cerrei meus olhos ouvindo os dois conversarem animados, não sabia quem era mais eu não estava gostando nadinha disso. Quando ouvi passos rapidamente me escondi atrás de alguns vasos de plantas altas que havia na frente da porta da sala de Camila, ali eu conseguia ver com facilidade o que estava acontecendo sem ser vista. Quando a porta se abriu, um homem alto e Camila saíram de lá, eu conhecia aquele homem, era o padre que eu já havia visto vir falar algumas vezes com Camila... Mas que porra?!
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Madhouse
Romance- No século 20 não precisava de muito para você ser considerado fora dos padrões e automaticamente ser visto como uma pessoa com algum problema mental. A instituição mental de Howard foi fundada pelo monsenhor Timothy Howard para ser algo revolucion...