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Pare de tentar ser alguém que você não é, difícil, frio e cruel..

Ain't No Way - Aretha Franklin

Sai da sala da diretora atordoada.

Por incrível que pareça, não havia ninguém ao lado de fora da sala da diretora. Pensativa passei pelos corredores vazios voltando para meu quarto, onde eu passaria o resto da tarde, só sairia de lá para jantar por volta das sete horas.

Entrei no mesmo, me jogando sobre a cama olhando o teto branco liso.

Quanto mais eu me proponho a não me meter em problemas, mas os achava, eu novamente havia estado com a diretora e dessa vez foi muito diferente da última, foi mais intenso, mais quente. Eu não deveria ter agarrado ela, porque isso não teria começado se eu não tivesse dado o primeiro passo tenho certeza e confirmando minhas suspeitas, após se recuperar do segundo ápice, a diretora pareceu aflita e me mandou ir para meu quarto de uma maneira bem seca, e o pior foi que eu imaginei que isso iria acontecer se tratando dela, aposto que não iremos nos falar por um bom tempo, devia ter ouvido Claudette.

Mas foi inegavelmente bom, mais que bom, eu não sabia o que aquela mulher tinha, não sabia praticamente nada dela, ao menos seu primeiro nome! Mas mesmo assim ela foi a única a provocar essas sensações estranhas em mim, eu ficava fora de mim quando a beijava, sua boca parecia ser um caminho sem volta, mesmo com todas as minhas certezas eu não pensei em mais nada e quando me vi estava praticamente a engolindo.

Me sentei na cama olhando a porta atentamente, porque ela tinha que me chamar para estar a sós com ela também?! Eu estaria ótima se não estivesse ficado sozinha com ela, e porque ela disse que me queria? Tudo era tão confuso, ela é uma freira, tinha votos, não deveria me corresponder, e eu não era nenhum animal também! Sempre soube me controlar, porque com ela isso era tão impossível? Talvez fosse pela sua pele macia e quente, ou seus lábios cheios e envolventes, ou seu rosto angelical e as atitudes que me desagradavam, droga isso é ridículo.

As coisas ficariam assim, então? Novamente como antes, não que eu fosse querer mudar, só queria ficar na minha para sempre até sair desse lugar.

— Só respire, Lauren, só respire.

...

Quando você está em uma madhouse, cercada por pessoas com problemas mentais e você mesma é considerada alguém com problemas e fácil se render a loucura, ouvi em algum lugar alguma vez, que quem entrava em um hospício, nunca saia e agora, vivendo essa realidade eu percebo que a pessoa estava certa, eu tinha certeza que não sairia a mesma pessoa que entrei. Suspirei observando a freira que tentava converter jovens homossexuais a serem "normais" eu nem ao menos me dava ao trabalho de decorar seu nome, preferia gastar meu tempo tentando não ficar louca, ela falava e falava, mas minha mente estava longe... Para ser mais exata estava revivendo os momentos que estive com a diretora Estrabão... Fechei os olhos tentando me controlar... Eu estava molhada novamente por pensar nisso...

Mas era inevitável, eu me lembrava de seus cabelos sobre os ombros, enquanto ela tinha a boca entreaberta e gemia só para mim... Neguei com a cabeça tentando desviar minha mente desses pensamentos... Eu havia convencido a mim mesma que esqueceria isso, mas minha mente me forçava a reviver aqueles momentos novamente...

Por sorte a freira tinha chegado a conclusão que se me deixasse quieta eu a deixaria quieta, por isso, mal olhava para mim enquanto falava com os dois jovens, e eu, também não me importava com isso. Quando essa tal aula do "tratamento" acabou, e fomos liberados para irmos ao refeitório, eu me levantei aliviada mas a voz da velha me impediu de conseguir sair da sala arejada.

— Vá para o escritório da diretoria, Lauren Jauregui — senti o ar me faltar e meu coração se acelerar.

Porque? — perguntei receosa.

— Vai saber.

Agradeci mentalmente quando nenhum brutamonte me arrastou até lá, pude ir sozinha.

Olhei a grande porta de madeira imponente com certo receio, tinha muito medo do que encontraria do outro lado, mas em outra parte, estava muito ansiosa. Dei duas batidas certeiras e logo ouvi um "entre" na voz doce mas seria da diretoria, ainda me perguntava como alguém poderia ter uma mistura de voz assim. Ao entrar, encontrei ela escrevendo algo em alguns papéis, nem levantou os olhos para mim.

— Sente-se — disse, ela parecia bem calma, muito diferente de como estava quando eu a vi na última vez, que não foi nada além de alguns dias atrás, fiz oque ela pediu e esperei pacientemente até ela terminar de escrever no papel e se dar o trabalho de me olhar — Boa tarde — esperou eu responder mas eu somente a olhei com tédio, a mesma revirou os olhos na minha direção — Temos um problema senhorita Jauregui.

— Agora que percebeu isso? Finalmente decidiu conversar ao invés de me expulsar? — ela abriu a boca levemente e pude ver suas bochechas ficarem um pouco coradas, mas ela logo tratou de disfarçar.

— Isso não é sobre nós! — fechou os olhos por alguns segundos, parecendo querer manter a calma — É sobre você. Senhorita Jauregui...

— Lauren, por favor — disse me inclinando sobre meus antebraços na mesa.

— Prefiro continuar com o tratamento formal...

— Não pareceu quando eu estava com meus dedos enfiados em você — sorri de lado pela sua cara brava na minha direção, acabei de descobrir que adoro mulheres bravas — E sobre isso...

— Você terá que continuar seu tratamento comigo — franzi o cenho por um momento, confusa, mas logo me dei conta do que ela estava falando e então sorri maliciosamente em sua direção, fazendo a irmã Cabello ficar ainda mais corada — Não desse jeito que está pensando! Pecadora! Irmã Ofélia abriu mão de você, me procurou e disse ser incapaz de tratar você...

— E você é? — ergui uma de minhas sobrancelhas.

— Não sei ao certo oque fazer com você... — suspirou.

Como não? A cura de qualquer male que eu tenha está entre suas pernas — a diretora me olhou após isso com os olhos semicerrados, senti medo dela me jogar algo no meio da testa, como tentou certa vez.

— Terei que levar seu tratamento em diante, até achar alguma alternativa tolerável para seu caso, ou alguma irmã mais qualificada.

— E como vai ficar?

— Nos dias de seu tratamento, ao invés de ir para a antiga sala ter suas aulas de reeducação com irmã Ofélia, virá para cá.

— Está dizendo que terei 4 dias na semana, 16 horashoras inteiras ao seu lado? — vi ela engolir em seco, me olhando fixamente — Gostei da ideia.

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