XXXIX

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Louco não é o homem que perdeu a razão. Louco é o homem que perdeu tudo menos a razão.

G. K. Chesterton

Camila

Engoli em seco ao ver ela fechar os olhos e abaixar a cabeça. Não, Lauren não seria capaz de estar cedendo... Ela não seria.

Quando recebi os pais de Lauren jauregui em Howard a algum bom tempo atrás, eu jamais imaginaria o que aconteceria, me lembro com clareza das nossas conversas, eles vieram algumas vezes aqui até terem certeza que seria um lugar realmente bom para Lauren, eu estava satisfeita, os Morgado eram pessoas de prestígio na sociedade desse país, ter uma paciente morgado que saísse curada de Howard traria muita credibilidade para essa instituição. Os pais dela me informaram que ela era alguém difícil, eu estava preparada para se fosse preciso, ter um pulso mais firme com ela, mas não demorou muito até ela achar um jeito de me desarmar.

Eu não sabia o que aquela garota tinha de diferente das outras pessoas, ela não foi a primeira a tentar ter algo comigo, eu tinha uma alta quantia no banco e várias propriedades no meu nome, isso chamava muitos homens interessados em conseguir me "desviar" da minha vocação, mas eu nunca me importei com isso, apesar de não ter decidido por livre e espontânea vontade seguir esse caminho, me parecia melhor que um casamento arranjado pela minha falecida mãe, depois da morte dela eu tinha aprendido a gostar disso, me acostumado... Mas ela não me deixou ao menos tentar me negar, quando me vi por mim, eu já estava abalada por ela, com todas minhas certezas por terra, ela conseguiu despertar um lado meu que eu nunca sequer soube que tinha... E por algum motivo eu gostava disso. Soube que ela era diferente desde o momento que a vi pela primeira vez.

" — ... Mas acredito que não vou precisar mostrar isso para vocês. Howard não tem muitas regras, mas as que existem eu exijo que sejam estritamente cumpridas, ou passarão por punição, não vou falar sobre elas, pois se não seguirem as regras veram pessoalmente. Vocês acordam quando são chamados, voltam para os quartos quando são ordenados, não é aceito nenhum tipo de violência entre os pacientes, não é permitido levar nada para dentro do seus dormitórios, sempre serão revistados, serão divididos por alas, e não poderam sair de seus quartos nem se quiserem sem permissão, mas se houver bom comportamento poderam passar mais tempo nas salas de recreação ou fazendo algum trabalho na cozinha, com supervisão claro, acredito que seja somente isso — olhei ao redor, observando o rosto de todos os pacientes, um por um, parei em uma garota que estava no canto esquerdo, um pouco afastada dos outros, me olhando fixamente, ela engoliu em seco mas continuou sustentando o olhar, cabelos escuros e olhos verdes, não precisava pensar muito para concluir que ela era a filha dos morgado, era muito parecida com a mãe e tinha os olhos do pai — Não importa qual foi o motivo de vocês estarem aqui, mas saibam que Howard irá fazer muito bem para vocês, os que se comportarem bem, claro — sorri novamente sem mostrar os dentes — Sejam bem vindos a Howard! — Lancei um último olhar para a garota, mas agora ela já olhava para o chão, pensativa"

Não demorou muito para a garota de olhos verdes começar a dar problemas, eu imaginei que teria dor de cabeça com ela, só não sabia quais seriam as intensidades delas. As coisas entre nós aconteceram rapidamente, em um dia eu estava orando e pedindo perdão por ter cedido a ela, e no outro eu já estava fazendo algo pior, algo deliciosamente pior, quando a beijei pela primeira vez, tive medo de ceder de novo caso ela tentasse me beijar novamente, mas quando estive nos braços dela... Completamente, soube que estava perdida, não poderia ficar sem aquilo novamente, os beijos dela eram como um maldito pecado viciante, eu sabia que era errado, aquilo ia contra tudo que eu acreditava, que sempre preguei, mas então ela me puxava novamente para ela, com aqueles olhos profundos, e eu esquecia de tudo, só queria mais e mais dela. Não foi certo, nada que aconteceu entre nós foi certo, foi perigoso, delicioso e intenso, mas cada vez que eu tentava sair, só me afundava mais, e quando me vi por mim, já estava morrendo de ciúmes dela, por ver ela perto de Mary, eu nunca havia sentido aquilo, aquele sentimento parecia queimar meu peito por dentro de tanta raiva, e ter Mary falando para mim, aflita, que Lauren vivia tentando a beijar me deixou ainda mais fora de mim e quando ela disse que queria acabar com o que tínhamos, foi como uma confirmação de tudo que eu temia, ela iria me deixar porque já tinha conseguido se divertir às minhas custas e agora tinha outro alvo. Doe mais ainda ser usada quando você sente algo pela pessoa, e eu sentia, e isso estava me matando, sentia raiva de mim por gostar dela tão facilmente, de me deixar cair em seus braços como uma maldita imbecil, e sentia ainda mais raiva dela por ter me usado sem nenhum pudor... Eu não sabia oque pensar, confiava em Mary cegamente, ela era minha melhor amiga, sempre esteve ao meu lado desde que eu vinha fazer visitas para Timothy aqui, me lembro de tardes que passava com meu padrinho e ela, mas eu queria acreditar em Lauren, quando olhava em seus olhos sentia que ela nutria algum sentimento por mim, eu era louca por ela, a odiava por ter esse efeito em mim, mas ao mesmo tempo amava quando ela me olhava com carinho, me elogiava e falava coisas que eu nunca ouvi, pelo menos nunca havia às ouvido acompanhada daquele olhar que só ela me dava, às vezes ela nem precisava falar nada, só me olhava e aquilo deixava meu coração acelerado.

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