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Creia em si, mas não duvide sempre dos outros.

Machado de Assis

Ao contrário do que imaginei que faria, não consegui dormir nem um pouco, e isso foi até melhor porque se alguém batesse eu poderia acordar a diretora, mas por outro lado... Era melhor eu ter dormido, porque oque eu fiz ao invés de dormir, não foi nem um pouco bom.

E o que foi?

Ficar observando ela dormir, e eu não era tola, sabia que isso não era um bom sinal, observar alguém dormir era coisa de gente... Não, não quero nem pensar nisso. O que eu sentia pela diretora era desejo, cru e devastador, querer alguém assim já não era bom, mas sentir algo além disso era mil vezes pior, mas eu não estava, tinha que dar um jeito de parar de querer ela assim, porque isso me deixava submissa a ela, e isso não era bom para meus planos, que eram usar ela para conseguir sair de Centralia, com ela sendo praticamente a superior de tudo não seria tão difícil assim... E realmente, uma mulher apaixonada era capaz de tudo, mas como eu iria conseguir fazer ela se apaixonar por mim? Não era tão simples assim, o que ela sentia por mim era, claro, desejo, e quando eu me recusei a me ceder para ela, a diretora rapidamente deu um jeito de mostrar que se eu não fizesse o que ela queria, eu sairia prejudicada, engoli em seco.

É, diretora, você consegue ser bem mais complexa, manipuladora e inteligente do que aparenta.

Olhando ela ali, adormecida, sem nenhum medo que eu pudesse ferir ela durante seu momento de vulnerabilidade, ela sabia que eu não podia fazer nada contra ela, ou me prejudicaria para sempre, teria um crime nas costas, ela tinha as cartas nas mãos, mandava em tudo e todos e por isso era tão segura... Como eu poderia fazer alguém assim se apaixonar por mim? Porque ela teria que estar perdidamente apaixonada por mim para que eu conseguisse realizar meu plano e cair fora de Centralia, teria que dar esperança para ela, que lá fora poderíamos viver juntas, ter um futuro repleto de rosas e amor...

Mas você só é um peão para ela, ela não pode sentir nada por você...

Mas ela sente ciúmes?

Mordi meus lábios pensativa, será que a diretora sente ciúmes de mim?

" — Está tentando realizar seus pecados dentro dessa instituição!

— Está se referindo aquele dia? Saiba que eu já esqueci, foi um erro, não voltarei a repetir.

— Obviamente não! — respondeu rapidamente — Mas não estou FALANDO disso! Estou me referindo ao fato de você estar tentando ter relações com a irmã Mary.

Abri a boca chocada, não sabia sequer o que falar após ouvir tamanho absurdo.

É O QUE?! — isso era tão ridículo, que eu acabei rindo e isso pareceu a deixar ainda mais irritada, visto que deixou a xícara sobre a mesa e me apontou um dos dedos ameaçadoramente — De onde você tirou isso?!

Porque diabos eu iria querer ter... Como é? "Relações" com a irmã Mary.

Pelo amor de Deus, me trouxe aqui para isso? Não tem o mínimo de lógica.

Eu conheço o seu tipo de pessoa, não podem ver alguém que já querem contaminar com seus pecados! — abri a boca, revoltada pelas suas palavras, me levantei também com as mãos na mesa"

Não... Não, não poderia ser ciúmes, a diretora não sentia esse tipo de coisa por mim... Mas então de onde ela tirou essa ideia que eu queria a irmã Mary? Não tinha o mínimo de lógica... Mas o ciúmes faz as pessoas verem coisas que não existem...

Se ela realmente sentisse ciúmes de mim... Isso era algo bom, significava que alguma coisa ela devia sentir por mim, nem que fosse posse apenas... Mordi os lábios com um sorriso se formando no rosto.

Já era um começo...

Passei meus dedos pelo seu rosto, era tão macio... Ela, ainda dormindo, sorriu fraco e eu me odiei por achar isso extremamente fofo... Como ela podia ir de mulher desgraçada sem caráter para isso? Era extremamente injusto, minha mente ficava confusa e não sabia diferenciar quem realmente era a diretora Estrabão, aquela que só por eu não querer estar com ela me mandou para passar dias na solitária ou essa, que sorria dormindo enquanto eu acariciava seu rosto... Respirei fundo de olhos fechados.

— Ei... Acho que é bom acordar... Já passamos muito tempo aqui... — sussurrei para ela, sem parar de acariciar seu rosto, ela resmungou e enterrou o rosto na curva do meu pescoço, me abraçando com mais força, não ache isso adorável, é ridículo — Vamos... Não quero arrumar problemas para você e nem para mim...

— Não quero... Aqui está bom... — resmungou zangada.

Fiquei alguns segundos em silêncio, apreciando a sensação dela abraçada em mim, como se não quisesse que eu fosse embora...

— Qual... Qual é seu nome? — perguntei realmente curiosa, apesar de todos os nossos momentos juntas, todos nossos desentendimentos e brigas, eu não sabia algo tão... Simples como isso, era então que eu percebia que realmente não conhecia nada sobre ela. A diretora ficou em silêncio por alguns segundos, mas quando eu já estava achando que ela não queria responder ou estava dormindo, ela me disse com a voz rouca pelo sono:

Camila.

Camila... Um nome forte, combinava com ela, sorri com isso.

— É um lindo nome, combina com você...

Ouvi ela respirar fundo, e se afastar de mim, logo estando sentada no sofá, ao meu lado, quase gemi frustrada por não ter mais o calor de seu corpo sobre o meu. A diretora... Camila, me olhou, ainda nua, depois negou com a cabeça, se levantando e indo atrás de suas roupas, logo vestido, eu estranhei muito sua atitude, mas só observei em silêncio, enquanto me sentava no sofá. Assim que estava vestida, com seu hábito mas ainda com as mechas castanhas soltas ela me olhou novamente.

— Qual... Qual é seu objetivo com tudo isso, Lauren? — ela parecia desarmada, conversando falando sinceramente comigo, ergui as sobrancelhas surpresa com seu questionamento, vi seus olhos descerem um pouco do meu rosto, focando nos meus seios por alguns segundos, então ela engoliu em seco e desviou o olhar para a parede — Você pode se vestir? Fica meio... Desconfortável conversar com você assim — ri baixinho assim que ouvi suas palavras, nem parecia que ela tinha sido a responsável pelas marcas roxas que estavam no meu corpo, mas mesmo me divertindo com sua reação, eu acatei seu pedido, me vestindo, e só assim que anunciei que estava pronta ela voltou a me olhar... Não ache fofo, e não queira beijar ela por isso, é ridículo — Me diz, qual é seu objetivo?

— Com o que exatamente?

— Com... Isso... Estar comigo desse jeito... Mesmo após o que aconteceu, me elogiar... O que você quer?

— Eu... Não quero nada... E não me peça a explicação de algo que nem eu mesma sei — fui sincera, e me aproximei dela, seu corpo ficou rígido, mas mesmo assim ela não se afastou, só respirou mais pesado — Eu realmente não sei o porque de você ter esse poder sobre mim, não sei, nunca senti isso tudo por ninguém, nem pela mulher que eu julgava ser apaixonada — eu não deveria me abrir assim para ela, mas agora já estava feito — Eu não sei oque está acontecendo então não me peça explicações... E tente me explicar você...

— Eu não sei — negou com a cabeça — Não sei... Pode me deixar sozinha?

— Claro, vou respeitar seu espaço — dei de ombros simplesmente, e dando mais um passo na sua direção, rompendo por vez a distância e agarrando sua cintura — Mas quando achar uma resposta, me diga qual é — dei um beijo lento nela, sem língua, só um beijo de despedida, assim que me afastei ela ainda estava de olhos fechados — Até... Camila.

MadhouseOnde histórias criam vida. Descubra agora