VĪĪ

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O homem é um ser ansioso pela felicidade; no entanto, não a suporta por muito tempo.

Hermann Hesse

Era verdade oque diziam sobre instituições mentais, ninguém poderia sair sã delas.

Não sei ao certo quanto tempo fazia que eu estava amarrada a uma cadeira simples e desconfortável de madeira, olhando sem fim as paredes cinzas desse cubículo, que chamavam de sala da reflexão, mas que na verdade era só uma espécie de solitária, talvez fosse horas, ou dias, isso deixou de ter importância a algum bom tempo atrás, alguns enfermeiros vinham vez ou outra me soltar, e deixar alguma comida horrível com gosto velho e sem graça, para que depois eu pudesse dormir no colchão fino que estava jogado no chão, as paredes eram repletas de frases da bíblicas em latim, e isso me dava ainda mais agonia, algum tempo aqui já estava até mesmo me fazendo ouvir vozes.

Quando por fim alguém entrou no espaço, me soltou e eu deixei meu corpo cansado cair no colchão sem nem tocar na comida gelada, estava prestes a dormir quando algo me impediu, alguém.

- Você acaba preferindo aqui do que lá fora com o tempo, estar só é melhor que estar cercado de retardados - ouvi uma voz masculina falha, como se a pessoa tivesse a muito tempo sem sequer ver um copo de água, sussurrar, rolei os olhos pela sala para tentar achar o dono mas falhei, chegando até a imaginar que essa voz era fruto da minha imaginação - Buraco escondido pelo colchão.

Mesmo desconfiada, afastei o colchão, encontrando realmente um pequeno buraco que não devia ter mais de cinco centímetros, mas era o suficiente para me possibilitar ouvir a voz do homem.

- Quem é você? - perguntei desconfiada.

- Alguém que está aqui a muito tempo, garota, diferente de você. Sou uma lenda em Howard.

- Sempre esteve aqui? Digo, desde que me jogaram nessa maldita sala?

- Sim.

- E porque está falando comigo apenas agora?

- Senti que você precisava falar com alguém, e eu estava curioso de como seria falar com alguém que não sabe quem sou.

- O que fez é tão horrível assim? - para que ele não quisesse que eu soubesse nem quem ele era deveria ser algo horripilante.

- Para alguns sim, e você? Matou quantos? Suponho que não seja uma completa lunática, não fica gritando sem parar, na verdade, não falou nada desde que chegou, só a vi rosnar algumas vezes - deixei um riso nasal escapar, quando não se tem nada para fazer a sua maior distração realmente vem a ser sua própria mente, e durante todo o tempo que passei aqui me pus a pensar em muitas coisas que aconteceram, e muitas delas me faziam sentir raiva, então o rosnado de frustração.

- Não matei ninguém, e não sou louca.

- É o que todos aqui dizem - Ouvi ele rir com irônia e me deitei completamente no colchão, suspirando em alívio pela primeira mudança de posição em horas - Qual é o seu crime, garota?

- Gostar de mulher aparente é um - Sorri de lado me esquecendo momentâneamente que ele não poderia me ver.

- Qualquer pessoa com um cérebro deveria, mulheres e conhaque são as melhores coisas que Deus criou.

- Dúvido muito que ele tenha criado conhaque - eu ri baixo.

- Entre o sim e o não, prefiro o sim, só ele poderia criar algo tão perfeito.

- Eu preciso tomar conhaque para descobrir.

- Sim, ainda é jovem, suponho, tem uma longa vida, a menos que aconteça algum acidente terrível. É só fingir que gosta de um pau, de preferência o de algum velho com dinheiro, e logo sairá daqui, ficará rica e poderá foder com a vida de quem te largou aqui.

- Acho que não é tão fácil assim.

- Pessoas sempre complicam tudo.

- É, o mundo seria mais fácil sem elas, não é? - ergui umas das sobrancelhas, erguendo meus olhos para o teto que ostentava ainda mais frases bíblicas.

- Sim, vamos reclamar com Deus, ele está demorando para mandar uma bola de fogo e mandar todos esses hipócritas para o inferno - Sorri e podia de alguma forma sentir que ele sorria também.

- Talvez ele esteja se divertindo às custas desses imbecis influenciáveis por qualquer um que carregue uma bíblia.

- Então devemos agradecer a eles?

- Não sei estranho, o que acha? - Questionei.

- Estou a muito tempo trancado sozinho, estou velho e louco, acho que minha opinião não vale de muito.

- Pelo visto, aqui dentro, a minha também não.

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