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Entre dois males, escolho sempre aquele que nunca experimentei

Mae West

Segunda feira.

"Fazem, segundo Claudette pois eu sinceramente não conto meus dias aqui, penso que se não contar eles vão passar mais rápido, sim, ridículo, mas eu estou num manicômio, isso deve ser algo básico aqui, seis dias que estou em Howard.

As coisas tem sido no mínimo estranhas, é, isso, em menos de uma semana aqui, eu já conheci a solitária, fiz uma amiga, possivelmente psicopata, conversei com provavelmente um serial killer do pior nível, desacatei a freira que estava responsável pelo meu tratamento, apanhei de vários funcionários da madhouse e claro, beijei a diretora daqui.

Muitas coisas, é, eu realmente imaginei que meus dias aqui seriam mais calmos, mas ao que parece não vão.

Devo me desculpar pela demora, mas não foi minha culpa, como relatado, eu estava em uma solitária, apenas nesse exato momento consegui por as mãos em você, pois ainda estava muito desestabilizada com tudo que aconteceu, meu querido confidente, ainda é início da semana, e pelo que Claudette me disse, domingo Howard estará aberta para visita da família dos pacientes, provavelmente meus pais irão vir, fingir que se importam com meu bem estar, sim, fingir, se realmente se importassem não teriam me largado nesse inferno.

Eu sou péssima em relatar cois-

O sino que anuncia o horário do jantar acabou de tocar, logo alguém vai vir me buscar, mas prometo que escrevo pela manhã"

Fechei o meu diário, o deixando debaixo da cama no exato momento em que um enfermeiro abriu a porta sinalizando sem paciência para que eu saísse sem paciência, e assim eu o fiz.

Quando o enfermeiro me deixou na sala de refeições, que não era nada mais que três mesas longas de madeira que se estendiam no meio da sala e um lugar onde se pegavam a refeição, logo avistei minha colega de hospício, ela estava com os cabelos encaracolados presos e o habitual uniforme de Howard, quando me viu, acenou com a cabeça, me chamando para seu lado na fila de refeições.

Preparada? — perguntou erguendo umas das sobrancelhas assim que cheguei ao seu lado após pegar uma das bandeja de plásticos que estavam em uma pilha

— Para? — Perguntei confusa, e até um pouco receosa, sempre que Claudette me vinha com isso não era boa coisa.

— Para seu tratamento.

— Como assim?!

— Você é muito desinformada Lauren, o seu tratamento, sequer sabe os dias dele? — abri e fechei a boca, me lembro da diretora ter falado para o enfermeiro, o tal David montanha, me falar os dias, mas ela provavelmente se esqueceu e eu não estava em condição de me lembrar de nada naquele momento, quando neguei com a cabeça ela somente abriu a boca em choque, mudando a bandeira de plástico de mão para erguer a mão — Segunda-feira a noite — levantou o dedo médio contando os dias — Quinta pela tarde e sábado de manhã — terminou com três dedos levantados — Conseguiu decorar ou isso é muito difícil para sua cabecinha tarada?

— Calma, não me culpe, eu fiquei a maior parte da minha estadia de 6 dias em Howard trancada na solitária, a diretora falou para um tal de David me falar e ele não disse nada, e pra quem perguntaria sobre isso? As freiras têm medo de falarem comigo pois acham que se falarem comigo irei passar minha doença, que no caso é gostar de mulher, para elas, e os enfermeiros me acham retardada... e como sabe de tanta coisa?!

— Pergunto, simples, deveria aderir — deu de ombros.

— E outra, porque tarada? — perguntei ofendida, Claudette somente sorriu se divertindo a minhas custas e se pôs a colocar comida na sua bandeja, eu somente coloquei um pouco de macarrão com berinjela pois parecia a única coisa comestível ali.

Depois que nos afastamos da fila e caminhamos rumo ao final da terceira fileira de mesa, o lugar mais vazio e onde poderíamos conversar sem precisar gritar devido ao grande barulho da sala.

— Porque não duvido nada que estivesse pensando na diretorazinha ao invés de se preocupar com outras questões, como, não falar com ninguém na solitária.

— Ele não parecia doido, e... porque eu pensaria nela? Digo, não tem motivos — disse rapidamente contornando a mesa para sentar a sua frente.

— É, porque, não é mesmo? — Revirou os olhos — Espero que não esteja pretendendo o fazer novamente.

— Claro que não! Eu só estava com raiva e sob pressão, não é como se tivesse gostado.

— Não gostou? — abri a boca tentando formular uma resposta mas não encontrei nenhuma, Claudette aos poucos foi arregalando os olhos em choque — Você gostou, Lauren?! Maldição, você gostou e muito — Bateu com a mão no rosto.

— Eu não disse isso — respondi rapidamente sentindo minhas bochechas esquentarem.

— Mas não negou! Você gostou, você tem bosta na cabeça?! — Negou com a cabeça — Já disse, é bom esquecer isso, ou vai se meter em confusão grande, na melhor das hipóteses ela te joga na solitária até o final do seu tratamento.

— Você está fazendo muito caos, não foi ruim, isso que eu quis dizer, mas não vou repetir, não sou uma suicida.

— Tenho sérias dúvidas, sérias dúvidas.

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