Nestha flashback

796 51 5
                                    

##contem conteúdo gatilho, suicido, então estejam avisados.###

2 meses após a guerra .

A guerra tinha me tirado tudo, não sei explicar o vazio que sinto em mim após aquela tarde, perdi um pedaço de mim mesma no momento em que arranquei a cabeça do rei, atravessei uma linha que não tem mais volta.

E agora meses se passaram ainda estou na casa da cidade deles, evito eles sempre que posso, tenho um dinheiro numa conta o que é ótimo, porque eu preciso dar fim a isso, e nada nessa casa parece que vai dar conta de acabar comigo, não quando meu poder me protege.

Tem uma loja na cidade que tem vários artefatos mágicos e armas , encomendei uma flecha de freixo, isso com certeza deve dar fim.
Todos do círculo íntimo não parecem perceber o quão vazia eu estou, ou pelo menos não parecem se importar, quando não estou no meu quarto, estou na biblioteca lendo, eles me deixam em paz, no fundo acho que eles tem medo de mim, como se eu fosse um animal pronto para atacar, o que na verdade pode acontecer, mas não aqui, não agora em que todos estamos bem, que ele está bem.

Não vejo Cassian a semanas, ele foi reorganizar o restante das forças de Ilíria, eles tiveram muitas perdas, me pergunto se Cassian me culpa por ter tirado ele do centro do poder do caldeirão naquela tarde, se salvar a vida dele foi uma forma de castigo, eu com certeza preferia ter morrido naquele dia, pois aí todos os dias sem sentido e vazio não teriam me alcançado.

Mas hoje tudo vai acabar, todo vazio, solidão e dor que me cerca vai acabar, pensar nisso me tranquiliza enquanto estou caminhando para a loja de armas, se chama proud to fight, assim que entro o sino da porta toca e o senhor atrás do balcão me olha, foi difícil fazer esse me vender freixo ou qualquer arma com muito poder mágico que possam matar até mesmo o Rhysand, mas depois de insistir e afirmar que não usaria para ferir nenhum deles, ele confiou em mim. Ser a pessoa que acabou com Hybern parece que me deu uma credibilidade se é que podemos chamar disso.

_ Oi menina, sua encomenda chegou - fala ele quando me aproximo

_ Que bom - me limito a dizer

_ Não vá fazer nenhuma estupidez - diz ele me entregando uma caixa fina e comprida, somente uma flecha  só o que preciso.

_ Obrigada, pode descontar da minha conta - digo pegando a caixa e saindo da loja

_ Que a mãe te proteja- ouço ele dizer quando saio da loja

Meu coração está acelerado, finalmente vai acabar, tento me lembrar se as cartas que deixei para minhas irmãs estão encima da minha cama , me despedir por cartas é melhor, deixei um nota para Cassian, não acho que uma carta longa possa transmitir tudo, um bilhete sucinto é melhor, mas prático , não quero imaginar ele sofrendo, ou pior ele nem se importando.

Tento para de pensar em coisas que não estão no meu controle, não posso me dar ao luxo de ser tão leviana assim novamente, vou caminhando pela cidade, eu realmente acho muito linda, então me sento a margem do sidra, a parte mas afastada de todos, vejo o sol se pondo uma última vez , me permito admirar a beleza , o vento , as gotas do sidra em meu rosto, uma última vez sinto minhas lágrimas rolarem, não de tristeza, de alegria, finalmente vou estar livre, finalmente vou por fim a dor que me aflige a alma, finalmente vou descansar.

Quando dou meu último suspiro profundo direciono a ponta da flecha em meu coração e então como se estivesse recuperando o ar , empurro toda ela para dentro de mim, sinto ela me cortando a cada centímetro que entra, sinto ela cortando minha carne, meus tendões, sinto ela raspando minhas costelas, sinto ela me atravessando, posso sentir meu coração tentando lutar, continuar a bater, mas então ele para.
Sinto o gosto de sangue na  minha boca, tudo vai perdendo o foco, então vejo tudo preto ao meu redor , caído de lado, com a flecha atravessada em meu peito.

Não sei quanto tempo se passa, mas quanto volto a mim, ainda estou na margem do sidra , a flecha ainda está dentro de mim, não sei como mas então só a puxo para fora, meu ferimento se fecha na hora, nunca tinha visto cura assim, rápida , passo a mão no que deveria ser um buraco e está liso, fina como se nada estivesse perfurado minha pele, somente uma pequena e finíssima cicatriz fica onde a ponta da flecha entrou primeiro.

Não consigo respirar, consigo pensar, nem me matar eu consigo, nem o poder de tirar minha própria vida eu tenho, vou ser obrigada a viver essa vida miserável para a eternidade e agora graças ao Caldeirão será realmente eterna, o destino sempre cuspindo na minha cara , sempre me colocando em posições em que eu tenho que ver tudo ao meu redor e jamais terei poder para mudar, nem meu próprio destino.

Fico mas uns momentos no sidra, jogo a flecha fora no rio, me mantenho aquecida sob a manta, parece que só sinto isso, vazio e frio, devo ter chegado na minha própria versão do inferno.

Resolvo voltar para casa, não que haja algo para eu fazer , pelo menos não hoje, ao entrar ouço Feyre me chamar .

_ Nestha, oi vamos jantar - diz ela sorrindo , todos já estão a mesa e ninguém parece realmente me notar

_ Não, obrigada estou sem fome - digo indo em direção a escada, assim que coloco a mão no corrimão minha irmã volta a falar

_ Você está ferida? - pergunta Feyre ainda sentada a mesa, só Elain e Cassian olham pra mim

_ Foi só um corte, já está melhor - digo e continuo subindo

Não consegui dormir aquela noite, nem nas 3 seguidas , então eu simplesmente parei, parei de tentar qualquer coisa, parei de tentar me matar, parei de tentar achar uma solução para isso. Só quero me afastar , então consegui convencer Feyre a me alugar aquele apartamento horrível, pois como ele estava destruído por fora, eu estava por dentro e eles se quer notaram. Tudo bem, não preciso de plateia para minha desgraça de vida.

Tive vários comentários maldosos no decorrer dos meses, o álcool me ajuda a dormir sem pesadelos, trepar com qualquer um , me ajuda a sentir alguma coisa além desse frio que vem do meu coração, ninguém nunca me perguntou o porque exatamente eu estava assim, mudavam de assunto ou jogavam piadas , deve ser assim que eles lidam com os indesejáveis.

Indesejável, isso que sou, sempre fui , o fato de ter tomado ciência disso me ajuda a saber que não devo nada a ninguém, eu só preciso que tudo pare, que tudo que se arrasta pela minha pele , me mate logo, o caldeirão deveria terminar logo o serviço.

Corte de corações em chamas Onde histórias criam vida. Descubra agora