Capítulo 9 - Casa da vó

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Já estava tudo pronto, os móveis já estavam na casa de Zilu e Serafim, nem sinal dele, só espero que ele se lembre do que eu disse, que não temos mais casa, não sei o que será dele agora, mas fazer o que, eu tenho que ir embora.

Cheguei na casa da minha vó e conversei com ela, a vergonha que eu estava sentindo era grande mas com uma filha eu tinha que pedir ajuda, e sim, ela aceitou que ficassemos lá, também, pudera a casa era grande com quartos o suficiente, mas mesmo assim não era o suficiente pra que eu ficasse a vontade, não gostava de incomodar e nada melhor do que termos nosso cantinho.

Sofia ainda estava na quarta série e pra que ela não repetisse o ano, tive que pedir mais um favor para Zilu antes de ir embora, pedi a ela que Sofia ficasse na casa dela de segunda a sexta para ir a escola e aos finais de semana eu a buscava. Estava tudo acertado mas agora minha vida não seria mais a mesma, pois não é fácil morar de favor, ainda sem emprego, parece que a pressão em cima da gente é maior, independente de ser família ou não, a gente se sente pressionado a ser útil e ajudar nas despesas.

[...]

Entre a casa da minha vó e o lugar onde eu morava com Serafim, eram dois bairros completamente distantes, por isso eu tinha que pegar ônibus para levar e buscar Sofia nos dias combinados.
Tudo estava indo tão bem, quando de repente em menos de duas semanas Zilu me conta que Sofia não estava se comportando tão bem, voltou a chorar por que queria ficar comigo e ainda por cima andava tendo discussões frequentes com sua amiga. Fiquei frustada, Sofia não tinha mais idade pra ter esse tipo de comportamento mimado, ela já tinha 10 anos e graças a isso não terminaria a escola, pensei em insistir em deixar ela lá, mas não podia deixar mais trabalho pra Zilu.

Naquele dia busquei Sofia, fiquei bem brava por conta disso.

_Sofia, você já não tem mais idade pra ficar chorando a toa não viu. Eu vou começar a procurar emprego e trabalhar e você não vai poder ficar grudada comigo o tempo todo não._ Foi o que consegui falar, tinha que preveni-la, não queria que ela ficasse chorando na casa da vó.

Fomos para a casa da vó, e como toda família que se preze começaram a comentar sobre o comportamento de Sofia, dizendo que mimei ela demais, que ela quase não fala com ninguém, que vive enrolando o cabelo como sinal de timidez etc. Mas o que eu poderia fazer? Esse era o jeito da minha filha, e logo ela iria crescer e entender melhor a vida e se desenvolver. Assim espero...

[...]

Mesmo depois que tive que tirar Sofia da escola sempre ia até a casa de Zilu para pegar algumas coisas, documentos, livros etc, me sentia um pouco mal por ter entupido a garagem de Zilu com minhas coisas, e por isso sempre dizia a ela que logo eu iria arrumar uma casa pra levar tudo, e como sempre ela dizia pra não me preocupar.

Das vezes que fui até lá fiquei sabendo que Serafim vivia perambulando pelas ruas e dormindo pelas praças, lamentei pela situação dele mas infelizmente não podia fazer nada.
Naquele dia entrei dentro do ônibus e quando virávamos a esquina eu o vi, Serafim continuava se embebedando, sua barba tinha crescido e vivia como mendigo, eu nem sei se ele comia direito por estar tão magro, chamei por ele mas como eu estava dentro do ônibus ele não me ouviu.

Fiquei pensando em como alguém na idade dele podia se destruir tanto por um pouco de álcool, mesmo sabendo que tinha epilepsias, nunca quis se internar e nem mudar de vida, praticamente ele não vivia, não aproveitava nada, apenas vivia no mundo dele, deteriorando cada vez mais a sua saúde.

[...]

Já se passaram alguns meses e tentei matricular Sofia em uma escola próxima, porém não tive sucesso, e minha vó insistia que eu desistisse e deixasse ela repetir, infelizmente tive que fazer isso já que naquela altura do ano, seria quase impossível conseguir uma vaga.

A vida na casa da minha vó era completamente diferente, eu tinha saudades da minha rotina, de fazer minhas coisas, ouvir música já que lá não sei ouvia músicas, sentia falta de ter o meu lar.

Serafim já tinha descoberto onde eu estava e por isso de vez em quando ia até lá, muitas vezes pedir para que voltássemos, mas mesmo que voltássemos para onde iríamos?

Comecei a procurar emprego mas infelizmente não tive sucesso, eu apenas tinha um registro em carteira e a maioria exigia experiência em praticamente tudo. Em uma dessas saídas eu acabei encontrando minha irmã Clarice que também morava nessa região, e como ela tinha três filhas, Denise, Juliete e Fernanda, decidi deixar Sofia todos os dias lá enquanto eu saia, para que ela brincasse com as primas, e as vezes até eu ficava por lá conversando com minha irmã um pouco pra me distrair e mais tarde voltavamos pra casa, e com isso vi que Sofia estava mais contente por ter com quem brincar. Clarice morava em uma pequena vila com algumas casas bem baratinhas, deixei o telefone da casa da vó com ela e peguei o número dela e qualquer coisa ela me avisaria.

"Tomara que logo eu consiga um emprego e alugue uma casa e minha rotina volta ao normal"

Era tudo o que eu mais queria...

---------------------Continua---------------------

Não esqueçam da minha estrelinha

Bjs






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