Irmãos sérios

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Depois de a aula ter acabado, o Afonso tinha me aconselhado a ir à enfermaria ver se eu estava com algum problema, já que estava sempre com sono. Mas com certeza eu não tinha problema nenhum, as aulas é que eram aborrecidas. Acompanhei o até ao seu cacifo, para deixar o meu estojo e os cadernos. Quando virei me deparei com os irmãos dele, que pareciam novamente sérios.

- Ok vou indo.- disse enquanto que me afastava.

- Alice, não te esqueças de ir ver esse problema.- pediu.- Pode ser algo de grave.

- Não te preocupes. Não é nada demais.- acenei, dei lhe as costas e fui em direção ao refeitório.

Encontrei a Rute e a Maria que estavam a almoçar. Assim que a Rute me viu acenou me para ir sentar me com elas. Peguei o tabuleiro e fui em direção à mesa delas. Elas continuavam a conversar enquanto que eu estava distraída.

- Passa se algo Alice?- perguntou Rute tocando me no braço.

- Estava aqui a pensar. Porque é que os irmãos do Afonso andam sempre sérios?

- Desde que os conhecemos eles foram sempre assim.- respondeu Maria que acabava de dar uma garfada.

- Pois é.- concordou Rute.- Aliás o Afonso também era como eles mas parece que melhorou um pouco.

- E ele poderia melhorar ainda mais, se deixasse a Isabel aproximar se dele.

- Ah pois é.- Rute lembrou se de algo e sorriu.- Então conseguiste encontrar o tal rapaz?

- Não. Eu até fui informar me com o diretor, mas pelos vistos nesta altura eles não deixam entrar novos alunos aqui. Talvez tenha sido impressão minha.

- Achas que andas a ver mal?- Maria olhou me fixamente nos olhos.

- Ok, afasta te. Isso está a fazer me confusão. E eu vejo muito bem.- a Rute começou a rir.

Continuamos a conversar. Depois de acabarmos de comer, fomos para o bar. Acho que já não veria mais o tal rapaz. No bar, eu e a Rute sentamos no sofá, enquanto que a Maria foi ter com os cromos. Estávamos a ver televisão.

- Pergunto me porque será que os irmãos do Afonso andam sempre sérios?- falei tirando a atenção da Rute da televisão.

- Não faço ideia. Porque não lhe perguntas a ele, já que vocês se falam.- mencionou olhando novamente o que dava na televisão.

- Tens razão. É isso que irei fazer, depois.- concordei.

O bar estava silencioso, apesar de ainda se ouvir alguns ruídos dos alunos a conversarem. Nós continuávamos atentas ao que passava na televisão. Quando de repente, salta alguém para cima do sofá. Olhei para o lado, era o Joel.

- Então Alice como vais?- perguntou me com um sorriso.

- Estava ótima, até tu apareceres.- a Rute riu se.

- Rute, bem que podias melhorar o humor da tua amiguinha.

- Deixa lhe em paz Joel.- falou Rute.- Não vês que ela não quer conversa contigo.

- Alice não sejas assim, afinal nós somos amigos. E como bom amigo que sou nem sequer te denunciei ao diretor.

- E como boa amiga que não sou nem sequer te denunciei ao diretor naquele dia. Não sei se ainda te lembras. Por isso acho que estamos quites.- disse sarcasticamente.

- Sabes acho que tens razão. E que tal se sairmos hoje?- olhou para a Rute.- Temos de mostrar os sítios bons deste lugar já que não são muitos.

- Ora aí está, nisso estamos de acordo.- respondeu Rute.- Então aceitas Alice?

- Por mim pode ser.

- Ok, então estamos combinados. Ás 16:30 no portão.- avisou Joel afastando se de nós.

Tocou e nos dirigimos ás salas de aula. Entrei na sala ainda tinha poucos alunos. Caminhei até o meu lugar, virei me para trás e vi a Isabel.

- Como estás?- perguntei lhe.

- Quem, eu?- perguntou apontando para si.

- Claro, haveria de ser mais quem.- respondi sarcasticamente.

- Estou bem, porquê?

- Já vi que tu e o Afonso não avançam mesmo. Aviso te já que eu não tenho função de cúpido.- comentei.

- Também não pedi que tivesses. E acho que darias um cúpido muito perigoso.- concluiu a rir.

- Para tua informação eu dava um ótimo cúpido.

Voltei me para a frente, ela continuou a rir. O Afonso já estava ao meu lado e depois entrou o professor. Na primeira hora estávamos a copiar o que o professor passava para o quadro, quer dizer todos menos eu. Entretanto na segunda hora, era para fazermos os exercícios em grupo com o colega do lado. Aproveitei essa hora para o Afonso explicar me o que tinham passado já que eu estive a dormir. Já tinha tocado ficamos a arrumar as nossas coisas.

- Já foste ver se tens algum problema?- perguntou preocupado.

- Já, a enfermeira disse que eu estava completamente saudável. Eu bem te disse. Por isso não te preocupes mais. Aliás isso é um problema meu tu nem sequer precisas de te preocupar.

- É que eu não consigo. É mais forte que eu.- saímos da sala, fomos caminhando até aos cacifos.

- Porque é que os teus irmãos estão sempre sérios? Eles têm alguma coisa contra mim?

- Não, eles são mesmo assim. Já é de família, até eu sou assim.

- Ah, mas não parece. Então quer dizer que melhoraste, o que é bom.- comentei entregando lhe as minhas coisas.- Aqui tens. Até depois.- afastei me lentamente.

Continuei a caminhar lentamente, depois subi as escadas indo para o piso dos dormitórios. Dava muito jeito se tivesse um elevador aqui. Fui em direção ao meu quarto, assim que entrei deparei me com a Laura e a sua sombra.

- Vieste chatear nos foi?- provocou Laura olhando se ao espelho.

- Estás cada vez mais bonita Laura.- elogiou a Joana.

- Oh Joana, por favor não mintas.- meti me, olhando Laura dos pés à cabeça.- Ela está tal e qual quando a conheci. Quer dizer, exceto esse acne.- apontei para a testa dela.- Está horrível.

- Eu não tenho nada.- olhou se novamente ao espelho à procura do acne.- Tu estás com inveja de eu ser mais bonita que tu. Vamos embora Joana.- elas saíram do quarto.

Atirei me na cama fechando os olhos de seguida. O quarto estava bem silencioso. Na minha cabeça ainda percorria de vez em quando a imagem do rapaz, que nunca mais veria. Sinceramente a minha esperança de voltar a vê lo tinha acabado.

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