Realidade

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Quinta. Ainda estava chocada com o que o Afonso me tinha contado. Desde segunda até hoje, nem consegui ficar atenta nas aulas. Se antes já era complicado então agora é ainda pior. Não fazia nada. Estava a isolar me das pessoas, a tentar mentalizar a nova realidade, ao menos para mim. Desde aquele dia não voltei a conversar mais com o Afonso. Devo referir também que já não vejo o meu amigo imaginário.

A cada dia que passa parece que me sinto cada vez pior. Ainda custa me acreditar que esta é a realidade. Custa me acreditar que já existiam vampiros há muitos anos. Ás vezes quando passo pelos alunos, pergunto me se eles sabem desta realidade, se conhecem mesmo o mundo em que vivem. Por um lado eles têm sorte em não saber, mas por outro nunca se sabe o que pode acontecer amanhã. Eu queria voltar atrás no tempo para corrigir as escolhas que fiz, porque neste momento parece me que estão todas erradas. Como referi devia ter ido para um colégio onde fizesse calor. Estava deitada no dormitório a reflectir sobre as coisas que sabia. Rute entrou aproximando se da minha cama para sentar.

- Alice, o que é que se passa?- perguntou preocupada.- Desde domingo que tu estás assim. Fala comigo, por favor.

- Não tenho nada para falar Rute.- fui direta.- Eu preciso de um tempo, sozinha.

- Mas nós sentimos a tua falta.

- Respeita a minha decisão. Já disse que não quero falar.- falei bruscamente.

- Ok, então quando quiseres falar sabes onde encontrar me.- saiu do quarto chateada.

Não devia ter sido bruta com a Rute, que não tem culpa de nada. Estou chateada com outras coisas e ainda por cima descarreguei nela. Ela que sempre esteve ao meu lado. Estava tão distraída nos meus pensamentos, que só depois de algum tempo é que o reparei encostado na janela. Ele aproximou se da minha cama.

- Nem devo referir que foste muito dura com ela, até porque tu já sabes.- mencionou sentando se.- O que é que se passa?- ele encarou me à espera da minha resposta, que não ia vir.- Tu comigo não vais fazer isso. Olha preferes falar a bem ou a mal?- ameaçou me com um ar sombrio.

- Eu descobri uma coisa. Ou melhor, contaram me.- corrigi me, olhei as minhas mãos.

- O que te contaram?

- Eu não sei se devo...

- Podes confiar em mim. Conta me.- pediu olhando bem fundo nos meus olhos.

- Contaram me que existem vampiros.- murmurei aflita, ele desviou o olhar.- Achas que estou a alucinar?

- Não.- levantou se da cama, pegou na maçaneta olhou me novamente e foi embora, sem dizer mais nada.

Eu simplesmente nunca conseguia desvendar esse rapaz. Ele diz me todo confiante que não estou maluca e depois vai embora sem dizer mais nada. As pessoas são mesmo esquisitas. Começo a achar que o problema é do colégio.

Laura entrou no dormitório, indo em direção a sua cama. Tirou o telemóvel do bolso e pôs a carregar. Era de estranhar a sua sombra não estar aqui também. Por alguns minutos, ela ficou a mexer no aparelho. Quando ela ia sair parou perto da minha cama encarando me. Ficamos a olhar nos sem dizer nada.

- Não vais jantar?- ela quebrou o gelo. Uau, Laura a falar comigo, uma coisa que eu não estava à espera.

- Não tenho fome.

- Por favor. Logo tu que és uma gulosa.- ela revirou os olhos.- Para além do mais tu estás boa.

- Do que estás a falar?

- Pensas que eu não sei o que estás a passar? Eu posso ser loira, mas não sou burra.- falou toda confiante. Será que ela sabia da existência dos vampiros?- Não precisas de guardar só para ti. Eu sei que não somos as melhores amigas, mas mesmo assim eu faço um esforço enorme para ouvir te.

- Eu não sei se...

- Alice, fala de uma vez. Só te disponibilizo dois minutos da minha atenção.- avisou, eu não sabia o que dizer. Ela olhou o relógio.- Já só te resta um minuto.

- Estou aflita. Eu não sei o que fazer ou como reagir.

- Oh, já acabou o tempo. Pode ser que um dia mais tarde eu ajudo te a superar.- disse saindo em seguida do dormitório.

Será que a Laura também sabe? Eu não acredito. Quem é que lhe contou? E porque lhe contaram? Na volta ela também é uma deles. Já nem sei o que pensar. Mas se ela realmente sabe, está se a aguentar muito bem. Por falar nisso, agora estou em dúvida se ela é humana ou vampira. Eu votava mais por ela ser vampira, só por causa do seu mau feitio, que ninguém aguenta.

Decidida, saí do dormitório. Enquanto caminhava pelo corredor, as luzes começaram a piscar. Meu deus, eles têm de vir trocar essas lâmpadas. Desci as escadas com pressa até ao último andar. Ás vezes dava me a impressão de que tinha alguém atrás de mim. Fui andando até ao refeitório. Quando entrei a Rute e os outros ainda estavam na mesa. Peguei o tabuleiro e fui sentar me com eles. Olhei para a Rute que não parecia chateada.

- Peço desculpa a todos, principalmente a ti Rute. Eu sei que tenho andado um pouco distante.

- Um pouco, dizes tu.- Joel arqueou as sobrancelhas.- Está tudo bem?

- Agora está ótimo. Não me deixem, ok?

- Oh Alice, porque haveríamos de deixar te?- questionou Isabel abraçando me.

- Ela é a nossa criança.- Rute também juntou se ao abraço. E quando dei por mim, já tinha mais pessoas abraçadas a mim. E algumas que eu não conhecia.

- Ei, quem são vocês?- perguntei, eles afastaram se rapidamente.- Ok, já podem largar me.

- Pelos vistos já temos a Alice de volta.- comentou Sandra afastando se.

- Ainda bem. Até porque eu já não iria conseguir ficar mais longe da minha parceira.- falou Joel.

- Joel admite logo que gostas dela.- provocou Gustavo já a levantar se para ir embora.

- Eu vou apanhar te Gustavo.- Joel também levantou se indo atrás dele.

- Esses dois não têm solução.- comentei e nós rimos.- É verdade, vocês não se deram conta que as luzes do corredor dos dormitórios está fraca?

- Não. Quando eu passo por lá, não acontece nada.- Rute respondeu olhando Isabel e Sandra que também negaram.

- Que estranho, até porque esta é a segunda vez que estava a falhar. Amanhã vou falar com o diretor sobre isso.

- Talvez seja impressão tua.- mencionou Sandra.

Apesar de não ter ficado muito longe delas, já sentia saudades desta convivência. Era bom voltar a falar tranquilamente com elas, sem pensar em mais nada. Acho que é preferível estar com elas do que sozinha, para me distrair. Para não ter que pensar mais naquele assunto.

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