Mariana Gonçalves

477 45 2
                                    

Domingo. Rolei na cama ainda cheia de sono, acabei por cair no chão duro. Por uns longos minutos, fiquei a observar o teto branco. Levantei me, vi o quarto isolado, o que era de estranhar. E o que era ainda mais estranho era as cortinas não estarem abertas. Fui em direção a elas para abrir lhes. Olhei o meu relógio que marcava 10h.

*******
Já estava a ir para o refeitório. Não sei se era impressão minha, mas o colégio hoje parecia diferente. Entrei no refeitório, peguei no tabuleiro e fui sentar me junto deles, que pareciam estar com cara de enterro.

- Bom dia.- cumprimentei lhes alegremente.- Porque estão com essas caras? Passa se algo?

- Não te lembras do que aconteceu ontem?- questionou Joel olhando me.

- Ontem? Fizemos algo ontem?- não entendia onde eles queriam chegar.

- Alice, três pessoas morreram ontem.- falou Rute que parecia ter um nó na garganta.

- Aonde? Vocês estão a gozar, não é?

- Eu não aguento mais.- Sandra saiu do refeitório alterada, Isabel foi atrás dela.

- Será que podem explicar me o que se passou?- olhei para eles os três. Não estava a aguentar, eu queria respostas.

- Alice, nós ontem fomos a uma discoteca. Tudo estava a ir normalmente, quando de repente todas as pessoas que estavam lá começaram aos berros. Soubemos que lá dentro tinham morrido três pessoas. Não sabemos como é que morreram. Uma das pessoas era o segurança e as outras duas eram alunos. Um deste colégio e outro duma escola qualquer.- Gustavo respondeu com alguma dificuldade. Olhei para o lado e deparei me com a Rute a chorar.

- Rute não fiques assim. Pensa que ao menos não foi alguém com quem tu falasses muito.

- Mas foi uma rapariga deste colégio Alice. Tens noção que a policia pode vir cá interrogar nos. E eu não entendo como podes estar assim, sem te lembrares de nada.- ela saiu do refeitório exaltada.

- O que deu nelas?

- A sério Alice? Tu pareces mesmo insensível.- disse Joel. Eles pegaram os tabuleiros e foram embora.

- Olha nota se que são mesmo amigos.- falei alto para que eles ouvissem. Comecei a comer tranquilamente.

***********
Agora no almoço, eles pareciam um pouco melhores. Mas ninguém atrevia se a falar, com medo de voltar aquele assunto. Peguei o garfo e comecei a comer. Imagens confusas começaram a passar pela minha cabeça. Uma que alguém tapava me a boca, outra em que vi o corpo de uma rapariga sem vida a jorrar muito sangue no chão e depois o segurança. Assustei me com as imagens deixando o garfo escorregar me da mão. Eles olharam atónitos para mim.

- Eu vi....eu vi...- estava com dificuldade em falar.

- Viste o quê Alice?- Joel perguntou ansioso.

- Alice, estás bem?- Isabel veio até mim preocupada.- O que é que se passa? Fala conosco.

- Os corpos....o chão cheio de s...- tentei falar, mas fui interrompida.

- POR FAVOR, PARA COM ISSO.- gritou Sandra assustando nos.- SÓ QUERO ESQUECER ISSO.- ela levantou se indo embora.

- Ficas bem?- Isabel olhou me, eu assenti.- Então vou ter com ela.- disse e saiu.

- Alice, eu pensei que tu tivesses saído de lá.- mencionou Rute pensativa.- Eu puxei te para lá, mas depois não te vi mais.

- Que esquisito. Onde estiveste Alice?- Joel olhou para mim desconfiado.

- O que foi? Eu estive lá fora a apanhar ar.

********
Estávamos todas no dormitório, quando o diretor dá um recado em que todos tínhamos de comparecer no auditório. Nem sequer sabia que existia um auditório neste colégio. Saímos do dormitório, descemos até o último piso. Afinal o auditório era ao lado da biblioteca. Estávamos em frente a uma porta que eu nunca tinha reparado. Alguns alunos já se encontravam lá sentados. Fomos arranjar uns lugares. Como avistei o Afonso, fui sentar me ao seu lado. O auditório era enorme e haviam muitas cadeiras que pareciam confortáveis.

- Está tudo bem contigo?- Afonso perguntou olhando me.

- Melhor não podia estar.- ele ficou assustado.- O que eu quero dizer é que a rapariga era muito saudável.

- Como é que sabes?- perguntou confuso.

- Afonso é melhor não falarmos agora.- ele aceitou a minha sugestão.

Aos poucos e poucos mais alunos chegavam à sala. Depois de já estarem todos, o Sr Armando fechou a porta. Havia muitos alunos que ainda conversavam. Outros simplesmente continuavam com os fones, outros dormiam tranquilamente, outros fartavam se de teclar nos telemóveis, outros que riam e por último outros que permaneciam em silêncio. O diretor entrou no auditório indo para o palco. Atrás dele vinham um homem e uma mulher, que pareceu me que fossem os pais da rapariga morta. O diretor pegou um microfone.

- Silêncio.- pediu o diretor já em cima do palco. Mas alguns alunos ainda continuavam o que estavam a fazer.- SILÊNCIO.- depois desse grito, todos calaram se de imediato.

- Mesmo idiotas.- falei mais para mim.

- Sei que alguns já sabem do acontecido e outros nem por isso. É para isso que nos juntamos aqui, para que eu vos possa esclarecer o ocorrido.- o diretor começou por dizer.- Ontem à noite este colégio perdeu uma aluna. O nome da aluna era Mariana Gonçalves, com certeza conhecida por vocês. Temos a informação de que ela morreu numa discoteca, mas não nos disseram a causa da sua morte. É com muita pena que nos tenhamos de despedir nos dela.- ele olhou para os pais dela, que choravam desconsoladamente.- Não sei se querem dizer algo?- perguntou aos pais que negaram de imediato.

- EU QUERO.- gritei para que o diretor me ouvisse. Levantei da cadeira indo em direção ao palco. Já estava farta daquela cadeira desconfortável. De má vontade o diretor estendeu a mão com o microfone, eu peguei. Olhei a sala enorme, cheia de alunos. Passou me a imagem da rapariga morta no chão. Respirei pesadamente.

- Alice, tens a certeza?- perguntou o diretor.

- Sim.- respondi firme e com toda a certeza.- No dia em que Mariana Gonçalves foi a discoteca, pelos vistos também decidi ir. Foi uma pura coincidência. Eu confesso que tinha estado lá dentro, mas que depois de uns minutos decidi sair. Fiquei lá fora a observar a paisagem, quando de repente oiço as pessoas aos berros e a empurrarem se umas ás outras para sairem de lá. Todos que saiam de lá estavam aflitos. Então eu também fiquei aflita, porque dentro daquela discoteca estavam os meus amigos. Sem nem pensar duas vezes, fui contra as pessoas para tentar entrar. De inicio aquele espaço parecia normal, mas depois eu vi uma pessoa deitada no chão. Eu pensei que fosse alguém que tivesse bebido muito, mas quando aproximei me deparei me com um corpo de uma rapariga morta, com o chão coberto de sangue. Ainda cheguei de ver também o segurança morto.- quando disse essa parte, os pais dela choraram ainda mais. Eu olhei na direção deles.- Eu confesso vos que não a conhecia, não fazia a mínima ideia de quem ela era. Nem sequer sabia que ela era do nosso colégio. Naquele momento, eu estava era preocupada com os meus amigos, as pessoas que eu conhecia. E como eu disse foi pura coincidência. Se eu não tivesse saído até poderia ter sido eu naquele chão sem vida. Ninguém sabia que haveria mortes naquele dia, naquela noite. Ninguém sabia que a vossa filha iria morrer. Aliás ninguém sabia que eu iria ver aquela cena. Ninguém sabia de nada. Foi uma simples saída de diversão, que acabou num desastre, que poderia ter acontecido a qualquer um.- olhei novamente para os pais.- Eu não posso ajudar vos. Nem imagino a vossa dor. A vida continua e são vocês que decidem a vossa escolha. Se irão aguentar esta dor ou se não. Não são umas simples palavras que vão trazer lhe de volta ou amenizar a vossa dor.- voltei me para os alunos que choravam.- Já acabei.- entreguei o microfone ao diretor. Saí do palco mas voltei novamente.- Se a Mariana tem amigos verdadeiros, gostaria que viessem dizer umas palavras de consolo. Agora sim já acabei.- voltei para o meu lugar.

- Foi lindo o que disseste apesar de não conheceres a rapariga.- elogiou Afonso.

- Pois não pude falar mal dela.- ironizei. Uma rapariga levantou se, estava a chorar. Foi para o palco e pegou o microfone. Ela começou a fazer o discurso lamechas de sempre. Ai o que é que eu havia de fazer. Esses alunos não aprendem.

O ColégioOnde histórias criam vida. Descubra agora