Freira

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Terça. Já estava na segunda aula do dia. Era tão bom lembrar me que esta já era a última semana antes das férias de natal. Peguei a minha caneta e comecei a passar o que estava no quadro. A professora olhava atentamente o manual, enquanto que nós acabávamos de passar a matéria. Olhei de relance para o outro lado da sala e reparei que a Laura me olhava com desdém, mostrei lhe a língua fazendo a revirar os olhos. Concentrei me novamente no que estava no quadro.

Saímos da sala para ir almoçar. Como era habitual assim que o Gustavo e o Joel entraram no refeitório, pegaram os seus tabuleiros e foram ter conosco.

- Sabem vocês deviam dar uns conselhos de moda à Maria.- falou Joel olhando a sair do refeitório.

- Eu? De certeza que não.- neguei de imediato.- Até porque eu não sou boa com moda.

- Joel, deixa a Maria. Ela veste se como quiser e bem entender.- repreendeu lhe Rute.

- Então Gustavo não me digas que até agora pensas na Laura. Esquece a meu, ela já é passado.

- Eu estou a tentar. Não é fácil.- disse Gustavo um pouco desanimado.

Continuamos a conversar. Depois fomos para o bar, sentamos no sofá e ficamos a ver televisão. O tempo passou e já era hora de ir novamente para a sala. Nesta aula o stôr deu a matéria e depois passou os exercícios para fazer nos com o nosso par ao lado.

Entretanto tocou para irmos ao lanche. Como o intervalo do lanche eram 20 minutos nem demorou a passar. Finalmente voltei à sala para a última aula do dia. A professora pôs nos a ver um filme. Mas em vez de eu ver o filme acabei por adormecer no ombro do Afonso que nada fez para me acordar. Passado um bom tempo senti o toque dele, a aula já tinha terminado.

- Perdi algo? O filme foi interessante?- perguntei espreguiçando me.

- Por acaso até foi interessante. Estavas a ir tão bem nas outras aulas.

- Temos pena. Não posso fazer nada.- saímos da sala.

Quarta. Acordei com o quarto silencioso. Arrastei lentamente o cobertor de cima da minha cabeça. Com os olhos percorri em volta o quarto que estava vazio. Virei para o lado vendo o despertador, já eram 8h. Saltei da cama apressadamente, peguei nas coisas e fui a voar para o balneário. Tomei um banho rápido e vestia me enquanto lavava os dentes. Voltei ao quarto, atirei as coisas na cama e fui a correr para o refeitório. Olhei o relógio, faltavam cinco minutos para as 8h30. Peguei o tabuleiro e sentei a comer calmamente.

- Como sempre a vir atrasada.- comentou a funcionária.

- Não ainda faltam cinco minutos.- ela olhou o seu relógio.

- Por acaso faltam só faltam três.

- Então não me chateie mais para eu despachar.- continuei a comer calmamente. Ouvi o toque enquanto acabava de beber o leite. Pousei o tabuleiro e saí. Andava com passos longos quando fui contra alguém.

- É impressionante sempre a andar distraída.- falou com desdém e continuou a andar.

- Espera aí...tu...ei espera.- fui atrás dele, mas quando virei a esquina ele tinha desaparecido.- Que estranho.

Subi as escadas para o segundo piso e caminhei até a minha sala. Bati à porta e entrei. Fui sentar me no meu lugar. Será que eu tinha visto bem? Aquele era o rapaz que nunca mais tinha aparecido. Esquece Alice, deves estar a fazer confusão com outra pessoa. Entretanto, deu o toque, voltei ao dormitório. Arrumei as minhas coisas e a cama. Olhei a Maria que estava sentada na cama a segurar o terço.

- Maria, algum dia vais querer mudar?- perguntei deixando a atónita.

- Como assim?- ela não tinha entendido.

- Tipo a maneira como te vestes, o teu cabelo e a maneira de como tu és?- perguntei novamente esclarecendo.

- Não sei.- respondeu pensativa.- Talvez algum dia eu possa querer mudar.

- Cá entre nós, tu queres ser freira?- sussurrei encostando me um pouco a ela.

- Não sei.- respondeu envergonhada.

- Eu não me importava de ser.- dei a minha opinião.- Se algum dia pensares sobre isso, fala comigo.- ela riu se, saí do quarto. Avistei a Rute a sair do balneário.- Rute.- ela parou e olhou para trás.

- Alice.- fui até ela.- Queres algo?

- Eu não sei.- respondi ainda a pensar.- Eu voltei a ver o rapaz.

- A sério? Conta me lá isso.- puxou me para um canto.

- Não foi nada de especial. Eu fui contra ele novamente.

- E..?

- E que depois ele falou me novamente mal. Eu ia atrás dele, mas depois ao virar a esquina ele desapareceu. Sumiu. Não sei como.

- Mas como é que isso é possível? Ele não pode ter desaparecido assim do nada.

- Pois mas o fato é que ele desapareceu novamente. E agora nunca mais voltarei a vê lo.- concluí sem ânimo.- Na volta é tudo fruto da minha imaginação. Se tu nunca o viste e nem elas.

- Até pode ser.- concordou, deu o toque. Ela puxou me para irmos andando.- Será que não precisas de óculos?

- Claro que não. Eu não vejo mal.- ela parou de repente fazendo me ir contra ela.- Porque paraste?

- Quantos dedos vês aqui?- ela levantou a mão.

- Já te disse que não vejo mal.- falei empurrando a mão dela para baixo.

- Se não vês mal, então diz me quantos dedos estão aqui?

- Vamos para a aula.- puxei a mão dela, descemos para o piso das salas e separamo nos.

Entrei na sala a tempo, porque a professora ainda não tinha chegado. Sentei no meu lugar em silêncio. Abri o meu caderno e comecei a rabiscar, enquanto que a stôra não chegava.

- Alice.- chamou Afonso ao meu lado.

- O que queres?- perguntei sem olhar para ele.

- Nada, esquece.- disse por fim, então eu deixei.

Finalmente a professora entrou, desculpando se pelo atraso. Ela começou a dar a matéria. Ás vezes eu estava atenta e outras nem por isso. Ficava a pensar no tal rapaz. Que ora desaparecia, ora aparecia. Começo a achar que é tudo da minha imaginação. Saímos da sala, fui ter com a Rute.

- Alice, vais almoçar agora?- perguntou Joel.

- Sim, estava só à procura da Rute. Mas vamos andando. E o Gustavo?

- Ele disse que estava sem fome.- continuamos a andar, entramos no refeitório pegamos os tabuleiros e fomos sentar. Depois a Rute entrou e veio ter connosco.

- Alice, tu e o Afonso namoram?- perguntou Joel fazendo me ficar atónita.

- Não. De onde tiraste essa ideia absurda?

- É que como vos via juntos, pensei que pudessem namorar.

- Isso é só uma questão de tempo.- mencionou Rute.

- Não é nada.- contrariei.

- Como é que anda o Gustavo?- perguntou Rute ao Joel.

- Já teve dias melhores. Mas ele já está a melhorar.

Continuamos a comer. Entretanto, eles foram para o bar enquanto que eu fui para o pátio junto da fonte.

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