Quase um mês

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Estava num sono leve. Até que as imagens dele começaram a percorrer pela minha cabeça. O seu toque no meu rosto, os seus lábios frios na minha testa e os seus olhos verdes. Rolei na cama para tentar afastar aquelas imagens. Mas não consegui, então decidi acordar. Levantei da cama, vi o perto da porta. Ele encarava me. Eu não sabia o que dizer.

- Já vi que descobriste.- comentou sem tirar os olhos de mim.- Não estás contente por estar aqui comigo?

- Eu...não sei...o..que dizer.- gaguejei, depois respirei fundo.- Foste tu que mandaste sequestrar me?

- Não colocava as coisas nesse termo. Só quis deixar te em segurança.- esclareceu com uma expressão sombria.

- O que ganhas em manter me aqui trancada?

- Ganhar? Eu não quero ganhar nada. Só quero que fiques comigo.

- Como queres que fique contigo, se eu não te conheço e tu nunca me disseste o teu nome.- disse exaltada. Ele ficou em silêncio. Depois foi aproximando se de mim.

- Alice, tu é que disseste para eu não abandonar te.- colocou as suas mãos frias nos meus braços.- E eu estou a tentar cumprir isso.

- Mas tu estás a prender me aqui. E eu nem sequer acabei as aulas.

- Não faz mal. Terás muito tempo para acabar.- afastei me dele bruscamente.

- Como é que eu pude ser tão burra? É claro que tu também és um vampiro. E eu a achar que tu eras fruto da minha imaginação.

- E tu também vais ser.- assegurou. Abanei a cabeça negativamente.

- Não. Nem pensar.

- No princípio é difícil, mas depois verás que com o tempo acabas por aceitar.- falou suavemente.

- EU QUERO SAIR DAQUI. NÃO AGUENTO MAIS ESTE INFERNO.- corri para a porta que estava aberta. Enquanto corria, olhei para trás, a ver se ele seguia me. E quando olhei novamente para frente, caí pelas escadas.

- É uma perda de tempo tentares fugir daqui.- falou calmamente, vinha ao meu encontro.- Tens de ter cuidado com as escadas.- pôs os seus braços em baixo do meu corpo e levantou me.- Agora eu tomo conta de ti.

- Por favor, deixa me ir.- pedi. Sentia o meu corpo mole, sem forças.

- Não posso fazer isso.- recusou de imediato. Subiu as escadas lentamente, comigo no seus braços. Entramos no quarto, ele colocou me deitada na cama.- Se fosses uma de nós não terias magoado. Aproveita para descansares, porque quando fores vampira já não vais precisar de descanso.

- Eu não...

- Dorme.- acabei por adormecer.

****************
Acordei com fome e com dores no corpo. Levantei da cama. Reparei que estava com curativos nos braços e nas pernas. Fui sentar na cadeira. E comecei a comer apressadamente. Até que quase engasgava. Olhei a clareza que vinha da janela. Queria tanto sentir me livre. Ouvi baterem à porta, depois ele entrou.

- Como estás?- quis saber. - Alice, tu vais falar comigo.- em vez de olhar para ele, eu encarava a janela.- Fala comigo.- falou rispidamente, fazendo me tremer. Ele veio até mim e agarrou as minhas mãos.- Desculpa, não tencionava assustar te. Eu só quero que fales comigo.

- Então deixa me sair daqui.- olhei nos seus olhos.

- Não posso fazer isso.

- Onde está o Ademar? Sinto falta dele, até porque é mais simpático que tu.

- Já desculpei me contigo. O que queres que faça mais?

- Deixa me terminar as aulas.- implorei, ele riu.

- Não vale a pena. Já só falta uma semana para eles terminarem.

- O que queres fazer comigo?

- Que pergunta.- disse irónico.- Vou transformar te, é claro.

- Não faças isso.

- Não faças isso tu.- falou num tom ríspido afastando se.- Eu quero salvar te. Mas tu assim não me deixas.- levantei da cadeira, fui sentar me na cama.

- Salvar me do quê? Explica me, porque assim eu não entendo.

- Tu ficas bem aqui comigo. Eu sei que tu gostas de mim. Nós temos de ficar juntos.

- Pareces um louco a falar assim. Fico na dúvida se ainda gosto de ti.- ele ficou desapontado ao ouvir aquilo.

- Não, isso não é verdade.- colocou as suas frias mãos no meu rosto.- Diz me que isso não é verdade.

- Nós podíamos ficar juntos depois que eu terminasse as aulas. Nem ia demorar muito. Nós iríamos ser felizes.- ele deu um sorriso enorme.- Mas agora não dá. Nem sei há quanto tempo é que estou aqui.

- Está quase a fazer um mês.- arregalei os olhos surpresa. Ele tirou as suas mãos do meu rosto.

- Porque não me contas a tua história.- sugeri mudando de assunto.

- Eu não tenho história.- respondeu, depois pareceu lembrar se de algo. Ele virou se para mim e sorriu.- É Nicolai Torres.

- Finalmente.- sorri para ele.- Alice Vieira. Muito gosto em conhecê lo.

- Igualmente.- pegou a minha mão e deu um beijo.- Devo dizer que é muito bonita.

- Nico, deixa me ir.- pedi novamente.- Depois quando colocar as coisas em ordem, tu podes ir buscar me. Eu quero muito ficar contigo.

- Não te esqueças do que acabaste de dizer. Depois eu vou buscar te.- avisou. Ele avançou até à porta.- Coloca as tuas roupas. O Ademar vai levar te.- assenti, ele saiu.

Saltei da cama com alegria. Estava novamente livre. Despi o pijama. Fui até o armário, onde encontrei as minhas roupas lavadas. Vesti as apressadamente. Abri a porta do quarto, que já não estava trancada. Nem reparei muito na decoração da casa. Senti me um pouco perdida lá, mas depois acabei por encontrar a saída. Nicolai e Ademar estavam a conversar.

- Leva lhe em segurança.- pediu Nicolai a Ademar.

- Com certeza.- Ademar abriu a porta do carro que parecia dos antigos.- Queira entrar Alice.

- Claro.- olhei Nicolai, que não expressava nenhuma emoção. Senti um aperto no coração. Ele virou se entrando lá dentro.

- Ele vai ficar bem.- assegurou Ademar.

Então entrei no carro. Ademar entrou logo a seguir, no lugar do motorista. Pela janela detrás pude ver o lugar onde estivera trancada quase um mês. Abri a boca espantada com o que via. Aquilo era um castelo, o que era difícil de acreditar. Nunca pensei que tivessse estado trancada num castelo. Depois de passarmos pela floresta densa, havia um portão enorme que abriu. Ademar então atravessou.

- Por acaso o Ademar sabe a história do Nicolai?- questionei curiosa.

- Não tenho permissão para falar sobre isso.- repetiu a sua frase habitual.

- Pensei que só dizia isso quando estávamos no castelo.- comentei olhando pela janela.

- Tem de entender que eu não posso responder a perguntas que tenham a ver com o Nicolai.- esclareceu com os olhos fixos na estrada.

- Então pode falar me sobre si.- sugeri indiferente.

- Até podia, mas não quero partilhar a minha vida com uma estranha.

- Ah. O senhor ofendeu me. Ia jurar que já éramos amigos.- resmunguei com os braços cruzados.

- Só faço o meu trabalho.

- Não quer ser contratado por mim? Para fazer me os almoços e os jantares?- perguntei ansiosa.

- Não iria ser necessário. Até porque não vai continuar humana por muito mais tempo.- senti um arrepio percorrer me as costas.

- Não precisa lembrar me disso. A viagem é longa?

- Nem imagina o quanto.

Já que a viagem era longa, aproveitei para dormir. E também aproveitava pensar no que iria dizer quando chegasse ao colégio. Talvez eles até vão estranhar por verem me intacta. Depois de pensar muito, acabei por cair no sono.







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