O mistério

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Já estávamos de volta ao colégio. Eu tinha apanhado um susto com aquela conversa. Ainda para mais, quando ia abrir a porta da casa de banho, senti uma mão no meu ombro que me tinha feito saltar. Quando virei me era o Afonso, que me perguntou se eu estava bem. E eu claro menti dizendo que estava tudo bem. Já estava deitada na cama. Não conseguia entender do que eles falavam. Porque será que eles diziam que as pessoas não podiam descobrir? E o que será que não podiam descobrir? Dava voltas na cama. Ajeitei a almofada dando palmadas e voltei a pousar a cabeça.

Domingo. Fui ao balneário, tomei banho e vesti me. Olhei me ao espelho para lavar os dentes. Voltei ao quarto, deixei as coisas na cama. Desci as escadas e fui em direção ao refeitório. Peguei o tabuleiro, sentei e comecei a comer. Mal o Afonso entrou no refeitório, eu pousei o tabuleiro e saí apressadamente.

- Alice.- ele chamou me, mas eu continuei a andar.- Alice.- chamou novamente. Subi as escadas indo para o dormitório. Quando ia abrir a porta do quarto, senti a sua mão gelada por cima da minha, que estava na maçaneta.

- Afonso, agora não posso falar. Estou muito ocupada.- falei ainda de costas para ele.

- Por acaso estás a evitar me?

- Não, deve ser impressão tua. Já disse que estou ocupada. Se não te importas?- disse referindo me à sua mão.

- Ok.- tirou a sua mão de cima da minha. Abri a porta, entrei e fechei a logo.

Arrumei as coisas dentro do armário e atirei me na cama. Começo a achar que aquele bar tem algo de errado. Ainda mais o bar é do tio do Afonso. E se ele estiver envolvido em algum esquema? Ele e os irmãos devem esconder algum mistério. O que será que é? Alice, não penses demasiado. Isso deve ser fruto da tua imaginação. Não sei se te lembras mas tu tens uma imaginação muito forte, pensei comigo. Abri o armário e tirei um livro que estava dentro da mala. Sentei na cama a ler. Ás vezes aqueles pensamentos absurdos voltavam à minha cabeça.

- Alice, estás aqui.- disse Rute sentando se ao meu lado.- Não vens almoçar?

- Não me apetece.

- Não te faz nada bem ficares sem comer.- falou preocupada.- Passa se algo? É que eu vi o Afonso na biblioteca e ele perguntou me se estavas bem.

- Está tudo bem. O Afonso é que faz muitos dramas.

- Mas estou a achar estranho não ver vos juntos. Sobretudo quando os dois estão a ler em sítios diferentes.- comentou olhando ao seu redor.

- Eu e ele não temos de andar sempre colados.

- É que tu foste a primeira pessoa sem contar com os irmãos a conseguir falar com ele. Não te afastes dele, porque parece que já ficou habituado a ter te ao seu lado.

- Tu por acaso gostas dele?- perguntei olhando nos seus olhos esverdeados.

- Não Alice.- recusou de imediato.- Mas eu sei que tu gostas. Já que o outro rapaz nunca mais apareceu.

- Ainda te lembras de eu ter falado nele?- perguntei atónita.

- Claro. Eu tenho uma boa memória. Quer dizer só para o que me convém.- corrigiu se e levantou da cama.- Anda Alice.

- Não tenho apetite.

- Vá lá, vem fazer me companhia.- implorou puxando me a mão.

- Mas tu tens a Maria.- sugeri puxando a minha mão.

- Mas para completar faltas tu. Até o Joel e o Gustavo vão almoçar conosco.- referiu ainda a puxar me.

- Já viste, tantas pessoas. Então não precisas de mim.

- Por favor Alice. Nós somos amigas. Faz me esse favor.- continuou a implorar, depois ficou pensativa.- Ou tu andas a evitar o Afonso? Passa se algo entre vocês os dois?- perguntou sentando se na cama.

- Sabes agora deu me uma fome. Vamos almoçar.

- Mas então...- interrompi lhe levantando me da cama.

- Vamos almoçar.- puxei lhe a mão e saímos do quarto.

Já estávamos todos sentados à mesa no refeitório. Eles conversavam sobre algo. Assim que o Afonso atravessou a porta do refeitório eu desviei o olhar. Olhava o meu prato que ainda estava cheio. Eles já estavam quase a acabar de comer e eu ainda nem sequer tinha começado. Não sei porquê, mas no momento em que o Afonso entrou por aquela porta, dei conta de que ele poderia estar a esconder algum mistério. Devo estar a ficar maluca com estes pensamentos.

- Alice, estás bem?- perguntou Joel.- Alice.- olhei para ele sem alguma reação.

- Estou ótima.- finalmente respondi.

- Não queres ir passear conosco?- perguntou Gustavo comendo o alface.

- Hoje não estou nos meus dias para sair. Se não se importam, preciso de ir descansar. A minha dor de cabeça está a voltar.- levantei, pousei o tabuleiro e saí.

- Ela nem sequer tocou na comida.- disse Rute preocupada.

Fui andando até ir para a zona do pátio onde se encontrava a fonte. Eles escondem alguma coisa. Ajoelhei me perto da fonte e fiquei a observar o meu reflexo através da água. Continuava perdida em pensamentos. Já não sabia o que pensar.

- Porque estás a evitar me?

- Não estou a evitar te.- continuei a olhar o meu reflexo.

- Mas eu sinto que é isso que estás a fazer.- ajoelhou se ao meu lado. Encarei lhe por uns minutos sem dizer nada. Depois olhei novamente a água.- O que é que se passa?

- Afonso, diz me só uma coisa.- pedi encarando o.- Tu escondes algum segredo?- ele ficou atónito, parecia não saber o que responder.- Diz me só sim ou não?

- Eu não sei o que dizer.- disse por fim.

- Por favor Afonso. Eu sinto que estou a ficar maluca de tanto pensar que tu e os teus irmãos escondem algo.- toquei lhe na mão, aqueles olhos azuis eram maravilhosos. Aproximei me mais dele, deixando escassos centímetros entre as nossas bocas. Nós os dois estávamos quase a deixar nos levar, quando...

- Afonso?- olhamos para a pessoa que tinha dito o seu nome e nos afastamos.- Alice como foste capaz?- ela foi a correr com as lágrimas a percorrerem lhe o rosto. Lá do fundo consegui ver a Laura com um sorriso vitorioso.

- Laura, eu vou acabar contigo.- levantei me furiosa para ir ter com ela, mas ele agarrou me.

- Ela não vale a pena.- falou segurando me.- Fica calma.

- Solta me.- ele assim o fez, coloquei as mãos na cabeça.- Não acredito que estávamos prestes a fazer isso. Nós não podemos.- falei afastando me dele.

- Alice.- chamou me mas eu ignorei entrando no edifício.

- Posso ficar aqui consigo, senhor Armando?- sentei me ao seu lado ficando em silêncio.

- Claro, já te sentaste mesmo.- aceitou, enquanto que eu olhava para um ponto fixo da parede.

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