A revelação

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O resto da semana passou rápido. Hoje era sábado. Como já estava cansada de ficar dentro deste colégio, resolvi que ia dar uma volta. Eram 8h, já tinha acabado de tomar banho. Vesti uma roupa prática e confortável. Desci as escadas, eram poucos os alunos que se encontravam acordados a esta hora. Como não tinha fome, fui direto à porta.

- Bom dia Alice. Onde vais?- questionou o senhor Armando.

- Bom dia, vou dar uma volta.

- Ok, mas tem cuidado.

- Sempre.

Abri a porta enorme e saí. Caminhei lentamente até chegar ao portão. Assim que coloquei a mão para abrir, senti um arrepio percorrer me as costas. Por um breve momento, queria voltar para o colégio, mas como já estava decidida empurrei o portão e saí. Pus os fones e comecei a ouvir música. Como estava frio, iniciei uma corrida para aquecer me. Depois de meia hora, estava com a mão apoiada numa árvore para recuperar o fôlego. Eu não era muito boa em resistência. Senti que tinha alguém atrás de mim, mas quando virei não tinha nada. Olhei para a frente e deparei me com um rapaz. Caí no chão assustada. Ele avançava na minha direção e eu recuava ainda sentada no chão. Os olhos dele eram vermelhos escuros. Ele abriu a boca e deu para ver os seus caninos. Maldita hora em que fui dizer ao senhor Armando bom dia. De tanto que recuava, os meus fones já haviam caído no chão.

- Ora, ora. O que temos aqui?- questionou ainda avançando na minha direção.- Parece que vou poder saciar a minha sede.

- No colégio nós temos uma fonte maravilhosa.- sugeri aterrorizada.- Podes ir lá saciar a tua sede, aliás nem fica muito longe.

- Mas tu estás mais perto ainda.- passou a língua pelo lábio superior.

Acho que agora dava jeito o terço da Maria. Porque será que fui sair do colégio? Ele já estava mesmo próximo. Como não queria ver nem sentir nada, fechei os meus olhos com força. Não senti nada, mas ouvia barulho à minha volta. Tinha medo de abrir os olhos.

- Alice.- a voz suave de Afonso chamou me. Abri os olhos relutantemente e vi lhe mesmo à minha frente.- Está tudo bem.- sem pensar duas vezes, abracei lhe ainda com medo. Ele pôs as mãos nas minhas costas confortando me.- Já passou. Está tudo bem. Eu estou aqui.

Os irmãos dele também estavam cá. Ele ajudou me a levantar. Fomos caminhando até ao colégio. Eles fizeram me algumas perguntas. Mas eu não conseguia falar uma única palavra. Tinha ficado traumatizada. Pensei que ali seria a minha morte. Já estávamos em frente à porta enorme, o irmão dele deu me o meu iPod. Entramos, o diretor falava com o senhor Armando, mas assim que me viu, veio até nós.

- O que aconteceu? Alice porque estás assim?- questionou olhando para nós os quatro, depois para mim.

- Nós saímos para ir correr diretor.- respondeu a irmã do Afonso firme.- E a Alice desastrada que é, acabou por tropeçar numa pedra.

- Ok. Alice vê se tens mais cuidado. Se não é as escadas é a pedra e se não for uma pedra é o quê? Vai para a enfermaria.- o diretor afastou se indo ter novamente com o senhor Armando.

- Vamos Alice, eu acompanho te.

- Nós ficamos aqui à tua espera Afonso.- avisou a irmã.

Já estávamos na enfermaria, mas só que estava vazia. Nós entramos, eu sentei me na cama. Ele ficou a fazer me companhia enquanto que a enfermeira não chegava. Passado uns instantes, ela chegou e ficou espantada ao me ver.

- Alice, outra vez.- disse desesperada, eu acenei lhe em comprimento.- O que foi desta vez?

- Já sabe como ela é desastrada. Estávamos na floresta quando ela tropeçou numa pedra.- explicou Afonso.- Eu só vim trazê la. As melhoras Alice.- ele saiu da sala.

- Vamos fazer então os curativos.- ela aproximou se de mim.

Desta vez os meus braços é que estavam esfolados. Ela limpou as feridas e depois colocou pensos rápidos.

- Pronto, já está.- ela analisou me.- Faz me um favor Alice, não partas nenhum braço ou perna. Aliás não partas nada. Tens de ser mais atenta.- eu assenti concordando, acenei lhe e saí da sala.

Fui ter com o senhor Armando, fiquei por lá. Como eu estava lá, ele aproveitou para pôr a conversa em dia. Ele falava tanto, que em uma frase eu só ouvia duas palavras. Não estava atenta. Tinha a cabeça numa confusão. Levantei indo em direção ao refeitório, deixando o senhor Armando a falar sozinho. Peguei o tabuleiro e fui sentar. Observei a comida, estava sem vontade de comer. Pouco tempo depois, elas vieram juntar se a mim.

- Alice, onde estiveste?- Sandra questionou pousando o tabuleiro.

- Nós ficamos perplexas quando acordamos e não te vimos na cama.- comentou Rute. Não disse uma única palavra. Elas olharam na minha direção.

- Passa se algo Alice? Porque não dizes nada?- Isabel começou a ficar preocupada. Suspirei pesadamente.- Isso nem parece teu.

- Não se passa nada. Está tudo bem.- tranquilizei lhes.

Domingo. Tínhamos acabado de almoçar. Elas foram para o bar. Já eu fui para perto da fonte. Hoje o dia estava nublado, fazia muito frio. Definitivamente devia ter ido para um lugar onde fizesse mais calor. Sentei no chão encostando na fonte. Avistei o Afonso a sair do edifício, vinha na minha direção. Sentou se ao meu lado, não trocamos nenhuma palavra.

- Creio que já sabes o meu mistério.- comentou quebrando o gelo.

- Não Afonso, eu não sei de nada.- neguei de imediato sacudindo a cabeça.

- Tu sabes sim. Tu viste.- falou sério e olhou me.- Promete me que não contas a ninguém.

- Contar o quê? Eu ontem só vi um rapaz esquisito. Com certeza, ele devia ter tomado algo que não devia.

- Isto é sério Alice.

- Olha me nos olhos e diz me o que tu és. Quero ouvir te dizer.- pedi encarando o.

- Eu sou um vampiro.- revelou dando de seguida um longo suspiro.

Fiquei com os olhos arregalados. Virei a cara para frente. Ele contou me a sua história. Por incrível que pareça desta vez consegui ficar atenta. Eu ouvia tudo calada, sem nem falar uma única vez.

O Afonso disse me que no ano de 1900, ele tinha dezassete anos. Parece que nessa altura havia uma doença que levava a morte. A doença também era contagiosa. Então num dia em que ele saía da escola, encontrou uma mulher sentada no chão que parecia precisar de ajuda. Ele aproximou se dela, ajudou lhe a levantar e levou a para o hospital. Quando chegaram ao hospital, a mulher tossiu para cima dele. Ele nem sequer tinha dado muita importância, deixou a mulher e saiu do hospital. Uma semana tinha passado depois do acontecido. Ele começou a vomitar constantemente, muitas vezes tinha dores de cabeça, ás vezes chegava de sangrar pelo nariz e boca. Os pais muito preocupados chamaram o médico de família. O médico era um grande especialista em analisar já ao longe o que as pessoas tinham. Ele como já sabia da doença, foi já preparado como um fato especial. Então entrou em casa deles, analisou o pai, a mãe e ele. E pelo que parecia todos estavam contagiados. Levaram lhes a todos para o hospital, mas nada podiam fazer para salvar lhes já que a doença era fatal. Passado um mês os pais dele morreram. Parecia que as pessoas mais velhas não aguentavam muito tempo. Ele como não aguentava estar mais no hospital, decidiu sair para dar um fim à sua própria vida. Já estava num penhasco pronto para saltar. Mas ouve alguém que lhe disse para não fazer isso, que podia ajudar lhe. Ele então virou se para ver a pessoa, era um homem. O Afonso não acreditou que pudesse ajudar lhe, já decidido a acabar com a sua vida, lançou se de costas. O homem foi mais rápido e conseguiu agarrar lhe. Depois do desconhecido tê lo levado para a sua casa, contou lhe a sua história. Ele não muito convencido aceitou que o homem lhe transformasse. Ele confessou que neste momento já tinha 132 anos.

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