Autorização

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Sexta. Levantei da cama, um pouco melhor. A minha testa já não estava assim tão quente. Fui tomar um banho, vesti me e lavei os dentes. Voltei ao quarto e deixei lá as minhas coisas. Caminhei descendo as escadas até ao último piso para ir ao refeitório. Peguei o tabuleiro e andei em direção à mesa onde estava a Rute.

- Bom dia.- cumprimentou contente ao me ver.- Vejo que já estás de volta. Ainda bem.

- Bom dia.- sentei me à mesa.

- Alice, finalmente vejo te.- Joel sentou se conosco.- Senão tivesses melhorado, eu hoje iria ver te lá no dormitório.

- Sentiste a minha falta?

- Nem sabes o quanto.- respondeu comendo o pão.

- Por acaso é mesmo verdade Alice. Ele não deixava de falar em ti.- confirmou Rute.

- Tão bom, hoje ser o último dia de aulas.- disse Gustavo sentando se conosco.- Ainda bem que já estás melhor Alice. Já todos aqui sentiam a tua falta.

- Todos menos a cobra da Laura. Como é evidente.- referiu Rute.

- Dela nem eu sentiria a falta. Desculpa Gustavo, mas é a verdade.

- Não faz mal, eu vos entendo.

- Deixemos de falar da Laura e falemos de coisas mais interessantes.- pediu Joel olhando em volta.

**********

Já estávamos no refeitório a almoçar. Falamos sobre várias coisas. Eles disseram que eu não tinha perdido muita coisa, enquanto estive doente.

- Pessoal, que tal sairmos hoje?- sugeriu Joel.- Temos de comemorar.

- É verdade. Já que vamos todos voltar a casa amanhã.- concordou Rute.

- Por mim é na boa.- aceitou Gustavo.- E tu Alice?

- Pode ser. Temos de nos divertir. Bem que precisamos.

Acabamos de almoçar. Eles foram para o bar, enquanto que eu fui caminhando pelo corredor. Subi as escadas para o segundo piso. Andei até o fundo do corredor, parei e bati á porta. O diretor deu me autorização para entrar. Sentei me na cadeira que estava em frente a sua secretária.

- Há quanto tempo, diretor?

- Soube que andaste doente. Já te encontras melhor?- informou analisando me.

- Estou pronta para outra.

- Ainda bem. Então diz me o que queres?- perguntou mexendo nas folhas que estavam na sua secretária.

- Então como hoje é o último dia de aulas, eu vinha cá pedir lhe que nos deixasse chegar um pouco mais tarde.- ele encarou me.

- Como assim?

- Em vez de estarmos aqui pelas 22h, chegarmos mais ou menos à meia noite. Se o diretor reparar bem até que a diferença não é assim tão grande.

- Não achas que estás a pedir me demais?- continuou a mexer nas folhas.

- Por acaso até nem acho.- ele voltou a encarar me novamente.- Diretor, hoje é o último dia. Sinceramente custa assim tanto deixar nos chegar mais tarde só um dia. Para além disso amanhã nem temos aulas.

- Alice, a partir do momento em que os vossos pais ou tios, quem quer que seja responsável por vocês, vos coloca aqui, vocês passam a ser da minha responsabilidade.- informou me.- Caso vos aconteça algo, o responsável serei eu e mais ninguém.

- Ótimo, eu já sei disso. Mas veja, nós temos de estar no colégio ás 22h, então o que acontece com você se nós chegarmos tarde? Também será responsável? E se nos acontecer alguma coisa ás 23h? O diretor continua a ser o responsável?

- Continuo, mas aí já não serei muito responsabilizado, uma vez que eu esclareci o horário.- respondeu assinando uns papeis.- Alice isso que me estás a pedir é demais.

- É só uma noite diretor.- insisti olhando a sala.- Que eu saiba o diretor também já teve a nossa idade. E pelo seu jeito, desconfio que era pior que nós.- quando disse isso, ele disfarçou o sorriso.

- Ok Alice, mas quero vos aqui até à meia noite e meia. E nem mais um minuto.- avisou, eu levantei.- Nem sei como é que me deixo levar pelas tuas loucuras.

- O diretor sabe que não são loucuras. Fico muito agradecida. Até mais.- saí da sala dando uns saltos de alegria.

A luz do corredor parecia que começava a falhar. Acelerei os meus passos, desci as escadas e fui para o bar. Mal podia esperar para contar lhes. Já em direção ao bar, encontrei o Afonso. Ficamos a encarar nos até que ele aproximou se mais de mim e abraçou me.

- Senti tanto a tua falta.

- Já estou aqui.- afastei me dele, vendo aqueles olhos azuis.- Não vais sentir mais falta.

- Sabes o que eu descobri?- fiz que não com a cabeça.- Que tu enganaste me.

- Estás a falar do quê?- não entendi o que ele queria dizer.

- Daquela vez em que tinhas dito que foste à enfermaria, por causa de estares sempre com sono.- lembrou ainda encarando me.

- A sério, tens mesmo a certeza de que eu disse que tinha ido? Ouviste mesmo bem? É que eu não me lembro de ter dito isso.

- Não me enganes novamente Alice. Eu sei muito bem, que tu nunca puseste lá os pés, a não ser no dia em que te levei lá. A própria enfermeira disse que nunca te tinha visto.

- Não era para menos Afonso. Na enfermaria devem passar um monte de alunos, é natural que ela não se lembre de mim.

- Podes parar com isso.- pediu, ele parecia irritado.- Não me voltes a enganar.

- Como queiras.- passei por ele, que agarrou me no braço.

- Não fiques chateada comigo. É que eu só quero que tu estejas bem.

- Já entendi.- soltei me da sua mão e entrei no bar.- Pessoal, fui falar com o diretor que nos autorizou a chegar ao colégio por volta da meia noite e meia.- todos que estavam no bar aplaudiram.

- Viva a Alice.- gritou Joel contente.

- Ai Alice, se não fosse por ti nunca conseguiriamos falar isso com o diretor.- Rute abraçou me.

- Por isso é que estou aqui.

Tocou, todos saíram do bar indo para as respetivas sala de aula. Entrei na sala e fui sentar me. Já tinha alguns alunos na sala que estavam a conversar. O Afonso entrou sem fazer muito ruído e sentou se ao meu lado, sem dizer uma única palavra. Virei me para falar com a Isabel.

- Também vais?

- Já estou lá.- confirmou com um sorriso, voltei me para frente.

- Vais aonde?- meteu se Afonso curioso.

- Ao bar. Fui falar com o diretor, e ele autorizou nos a chegar à meia noite e meia. Não te preocupes, porque desta vez vamos cumprir o horário e não precisarás abrir a porta. Ele sorriu.

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