Me sinto a própria executiva dona da porra toda usando essa calça social verde água acinturada que desenha meus quadris, camisa branca de botões, meu scarpin nude e um sobretudo longo da mesma cor que deve custar meu ano de salário de tão maravilhoso que é, a própria cópia fajuta de Miranda Priestly.
Não aguentaria usar roupas tão chiques assim todos os dias, é demais pra mim. Me sinto linda mas não combina muito comigo, prefiro minha coleção de camisas de botões floridas que com calças jeans e sapatos bonitinhos me deixam ótimas pro trabalho, e meus moletons em casa que não troco por nada nesse mundo.
- Todas as vezes vai ser assim? - Digo no elevador relacionada as olhadas que nem se davam ao trabalho de fazer as escondidas.
- Até se acostumarem acho que sim. - Dá de ombros. - Não liga pra isso. - Fala como se pra ele olharem ou não nem faz diferença.
- Bom dia senhor e senhora Evans. - Uma ruiva de sardas linda nos recebe assim que as portas se abrem. - Sou Safira Meins, a nova secretaria.
- Olá. - Digo sorrindo pra ela que retribui discretamente.
- Bom dia Safira, nos acompanhe até minha sala.
Os próximos minutos foram longos e me fez entender que os dias seguintes serão bem corridos com reuniões e fechando negócios para a transferência da empresa. Safira deve ter minha idade e foi muito profissional mas vi um receio ali que ela logo mascarou.
- Mel, preciso ver Antônio agora, você ajuda Safira com tudo?
- Pode deixar. - Inesperadamente ele me dá um beijo na testa antes de sair da sala me deixando com a cara super vermelha mas a moça não fala nada.
Ficamos um bom tempo revendo contratos e percebi não ser muito diferente do que faço, claro que alguns assuntos não entendi absolutamente nada mas tudo bem.
- Jacey é bem organizado com as coisas dele. - Aviso sentada ao seu lado. - Uma coisa que faço com meu chefe e funciona é anotar tudo, exatamente tudo que ele tem que fazer, até mesmo se for algo sobre a vida pessoal que me foi avisado.
- Oh, achei que trabalhava com seu esposo.
- Ah não. - Digo meio sem graça. - Estou de férias agora mas sou secretaria também. - Ela me olha meio espantada.
Oh meu bem, se soubesse que tudo isso não passa de uma ajuda e que seu chefe na verdade é fotógrafo e meu amigo de apartamento entenderia um pouco.
- Me desculpe a pergunta. - Sorrio.
- Não tem problemas.
- Você é diferente. - Franzo o cenho e questiono o motivo. - Muitas mulheres dos chefes passam por nós de nariz empinado e seus maridos são arrogantes.
Reprimo o riso por que sei sim que temos muito isso, estagiei em uma empresa no meu primeiro ano de faculdade e o cara era um babaca total.
- Com certeza não sou assim, sou mais o ratinho tímido.
- Que isso. - Ela não consegue segurar a risada e nem eu.
- Como vai fazer com a mudança?
- Só tenho meu filho comigo e meu noivo trabalha aqui também estão..
- Quem é seu noivo? - A pessoa nem é curiosa.
- Acho que o conheceu, Miguel seu motorista.
- Nossa que incrível.
- Sim, ele que conseguiu o emprego pra mim e o senhor Antônio sabendo do nosso relacionamento me transferiu.
- Isso é ótimo, imagino que seja mais fácil pra vocês, mesmo sabendo que mudança não é fácil ainda mais com filho pequeno.
Safira é gentil mas séria quando precisa e isso é ótimo. Descobri em meio a serviço e conversas que ela casou nova e é viúva na verdade tendo um menino de três anos desse relacionamento. Conheceu Miguel a dois anos num mercado quando ele a ajudou com o filho, no início foi difícil se abrir pelo luto mas ele não desistiu e a três meses a pediu em casamento. Uma mulher nova que passou por muita coisa e ainda sorri abertamente é de se admirar.
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O dia foi longo e cansativo, Jacey saiu para uma última reunião e sabendo que iria demorar vim para sua sala após dar a hora de Safira.
Sentada na cadeira de canto as luzes dos automóveis abaixo passam desperecebidas e minha atenção está completa no papel apoiado na mesa a minha frente.
O corpete estruturado até a cintura com a renda delicada desenhada deixando muitos pedaços transparentes dando um ar sensual mas romântico, mangas curtas de tule caídas sobre os braços deixando os ombros desnudos, a saia modelando o corpo até os quadris com a mesma renda desenhada e sumindo apartir daí onde ela se abre pouco a pouco numa calda sutiu. Estou terminando o véu longo sem muitos detalhes caídos sobre os cabelos ondulados pra trás quando ele aparece.
- Que impressionante. - Dou literalmente um pulo da cadeira quase caindo e se não me segurasse na mesa teria me espatifado no chão com tudo.
- Puta que pariu. - Falo com o coração quase saindo pela boca de tão assustada que fiquei.
- Você fica fofa xingando. - Reviro os olhos e começo a juntar os papéis. - O que é isso que estava desenhando? Nem sabia que desenhava.
- Não desenho.
- Não foi o que eu vi.
- Você não viu nada. - Falo na defensiva jogando tudo dentro da bolsa. - Vamos? Estou cansada, e a reunião, tudo certo?
Tento tirar sua atenção de mim o fazendo revirar os olhos mas funciona quando ele começa a falar sobre as mudanças para Nova York e como está indo com as pessoas o conhecendo como Evans.
- Vamos pedir no quarto hoje?
- Acho ótimo. - Quase agradeço seu pensamento bater com o meu me sentando ao sofá enquanto ele liga e pede nossa comida antes de se sentar a minha frente.
- Agora vai me falar o que estava desenhando? Por que aquele desenho é de quem sabe o que faz.
Desvio o olhar cruzando os braços frente ao corpo e ele suspira.
- Vamos pequena, confia em mim. - o encaro vendo a curiosidade explícita em seus olhos.
- Ah, eu desenho, é isso. - Ele revira os olhos.
- E.. - Me incentiva a continuar e encaro a vista da janela.
- E eu aprendi com minha mãe que era costureira a fazer isso e ela me incentivou quando viu que eu sabia desenhar. Desde pequena sonhava em cursar administração para aprender a cuidar dos negócios e depois abriria uma pequena boutique onde venderia meus vestidos.
- E por que ainda não fez isso?
- Por que era um sonho que tive com a minha mãe. - Suspiro e nego com a cabeça. - Sem contar que abrir seu próprio negócio não é fácil, então fica só no sonho mesmo.
- Você é uma caixinha de surpresas.
Sugo nervosa o canto do lábio inferior e volto minha atenção pra ele que me encara sem nenhum pudor, abaixa o olhar pra minha boca e o vejo travando o maxilar por alguns segundos antes de ouvirmos o bater na porta e ele piscar soltando o ar.
- Ah Melani. - Se levanta mechendo nos cabelos e para do meu lado. - Não devia sugar os lábios assim na minha frente.. esposa.
Antes que possa pensar em algo ele já está voltando com nossa comida, sorrindo e conversando como se nada tivesse acontecido me deixando ainda zonza e surpresa com sua fala anterior.
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Querido Salvador - Série Poderosos e Irresistíveis 3
Romance| Livro 3 | Recomendo a leitura dos livros da série em sequência. Ele me salvou. Quando eu mais precisei e pensei que ninguém estaria ali por mim ele apareceu. O que eles tem de comum também tem de diferentes. Jacey não tem ninguém ao mesmo tempo t...