Capítulo 14

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Não sei bem o que aconteceu mas toda atmosfera descontraída de esvaiu de acordo com os suspiros e praquejos baixos que ele dava, sem contar as olhadas que fingia não ver.

Mas que merda está acontecendo com esse homem hoje? Não nos falamos muito durante sua semana fora e desde que chegou está com um semblante esquisito olhando pra mim o tempo todo.

- Precisamos conversar.

Quase grito de satisfação por ele finalmente tomar coragem e falar o que está acontecendo.

- Tudo bem. - Ele suspira novamente. - Aconteceu alguma coisa?

- Me deixa falar tudo primeiro, ok?- Pede e concordo.

Mesmo achando tudo estranho demais e sua cara com essa máscara deixa tudo meio engraçado mas relevo essa parte.

- Você sabe que meus pais morreram certo? - Asseno e ele encara um ponto específico a sua frente antes de voltar a falar em voz baixa. - Eu era o filho mais velho, tinha vinte anos na época quando um caminhão rodou na pista por conta da neve que caia e bateu no carro deles. Minha mãe morreu na hora mas meu pai ainda passou uma semana internado e não aguentou tudo aquilo. Meu irmão na época tinha dezoito e pirou completamente depois de tudo, era minha obrigação cuidar dele e não consegui, ele nunca foi o mais responsável mas depois de tudo fiquei anos o tirando de esrascadas que se enfiava por conta de bebida e drogas até um dia ele não aguentar e ... ele me ligou desesperado Mel, chorando e dizendo que não conseguia, que não conseguia ser bom pra ninguém ... o procurei a noite toda e quando me desesperei conseguiram falar comigo. Meu irmãozinho teve uma overdose e não resistiu.

Não aguento o bolo que está na minha garganta o vendo contar tudo de cabeça baixa e sinto uma lágrima descer mas enxugo rápido não deixando com que isso o faço parar de falar.

- Enfim. - Diz limpando a garganta. - Meus pais tinham uma empresa de segurança digamos assim. Meu negócio sempre foi fotografia mas ela era o legado deles, não posso deixar acabar assim. Eu fiz faculdade de administração e meu pai me ensinou muita coisa desde cedo, até tentei ficar em Boston mas não conseguia, até que encontrei Hayley grávida do Sam e nos mudamos pra cá, mas mesmo assim eu ainda cuidava da empresa de longe, por isso faço essas viagens e não estou sempre trabalhando como fotógrafo.

- Isso explica algumas coisas. - Murmuro ao vento entendendo um pouco a rotina dele e como ele tem grana assim.

- Sim ... essa semana o advogado da família me procurou com uma notícia não muito boa. Estou a bons meses mudando tudo pra Nova York porém chegou um documento na minha mão que muda tudo. - Agora sua atenção volta a mim. - Meu pai naquela última semana de vida o recebeu no hospital e fez algumas mudanças. Uma delas é que até os trinta anos, no caso daqui a quase vinte dias eu deveria estar casado e assumindo a presidência, se isso não acontecesse tudo passaria para o meu irmão.

- Mas ... - O irmão dele já morreu, agora não entendi.

- Ele morreu, então tudo cai nas mãos dos sócios e a empresa dos Evans acaba.

- Só não estou entendo o que isso tem haver comigo. - Falo de cenho franzido e ele suspira cansado antes de inclinar a cabeça com uma cara de lastima.

- Sei que está economizando muito creio que para ajudar seu pai certo? - Engulo em seco surpresa.

Como ele sabe disso?

Venho a quase um ano economizando cada centavo que consigo pra ajudar meu pai. Quando soube de uma mísera chance dele ter força de vontade suficiente para parar com a bebida comecei a juntar dinheiro e pesquisar lugares onde ele possa se internar.

A questão é que tudo custa muito caro, viajar para lhe fazer tomar essa decisão por que até hoje ele não fez nada como tacar fogo na casa para que eu posso o internar, depois ainda tem uma clínica que tenha o mínimo de decência e que vá lhe ajudar em vez de piorar sua situação.

É tudo muito caro e complicado.

- Como sabe disso Jacey? - Pergunto num fio de voz e vergonha.

Não é algo que eu saia falando pra qualquer pessoa, não me orgulho em falar que meu pai sofre até hoje com a morte da mulher que amava e não sabe como se reerguer e eu não estou lá do lado dele por que minha mãe me fez prometer que viveria minha vida mesmo que ele decidisse não fazer isso com a dele.

- Sou dono de uma empresa de segurança, consigo descobrir muita coisa, mas isso não importa agora.

- Certo ... o que você quer dizendo tudo isso Jacey?

- Sua ajuda.

- Como?

- Casa comigo.

Abro a boca para falar algo mas sua cara séria me faz ter uma grande crise e riso a ponto da máscara cair.

- Ah, meu Deus ... tudo bem, fala logo Jacey. - Digo ainda ofegante mas paraliso deixando o sorriso morrer quando volto a lhe encarar e ele está sério com o rosto brilhando pela máscara retirada.

- É sério, quero que se case comigo.

- Ficou maluco? - Indago perdida e de olhos arregalados.

- Olha, quase ninguém sabe que eu sou Jacey Evans por que uso o sobrenome Turner, preciso me casar com alguém que não vá sair por ai falando sobre isso e nem vá me usar pra conseguir subir na vida.

- O que eu tenho haver com isso? Procura uma das suas namoradas, é fácil. - Falo na defensiva.

- Preciso de você Melani, nos casamos em no máximo quatro dias e você fica do meu lado três meses enquanto me apresento a sociedade como o herdeiro dos Evans, eu te ajudo com seu pai e consigo a melhor clínica de Nova York pra ele.

- Você enlouqueceu Jacey, enlouqueceu. - Falo negando com a cabeça.

Não acredito que ele está usando meu ponto mais fraco, usando meu pai pra isso.

- Não estou te usando Mel. - Fala o meu receio. - Só estou tentando te ajudar enquanto você me ajuda.

- Não. - Ele me olha meio perdido e ... triste? Não, não, devo estar louca como ele.

- Por favor. - Pega em minhas mãos ficando mais perto de mim. - Só pensa nisso, por favor Melani, não tenho ninguém que possa me ajudar com isso. Por favor pequena, só ... pensa na possibilidade.

Ele suspira beijando o topo da minha cabeça demoradamente e sai me deixando na sala mais perdida do que tudo.

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Começando a conhecer melhor nosso misterioso Jacey Turner, ops, Evans. Joguei a bomba e sai, até segunda pessoal!

Querido Salvador - Série Poderosos e Irresistíveis 3Onde histórias criam vida. Descubra agora